Quem sonha com uma faxina na Fuabc, Fundação do ABC, hoje sob o controle do PT de Luiz Marinho e ao longo dos anos um concerto multipartidário, cairá do andaime. O presidente daquela instituição, Maurício Xangola Mindrisz, bom de papo e ruim de administração, dirigente que deu muitas dores de cabeça a Celso Daniel quando Superintendente do Semasa, já está devidamente blindado. A ordem política na região, tendo à frente o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, e a primeira dama Nilza de Oliveira, é reta e direta: deixem o homem em paz porque mexer com ele é mexer conosco. O apadrinhamento de alta patente confirma as limitações gerenciais de Xangola à frente de uma instituição pública milionária.
Por isso, a cobrança do Diário do Grande ABC de ontem, em matéria sem muito alarde, sobre a proposta de normas éticas sugeridas pelo vereador de São Caetano, Eder Xavier, vai dar com os burros nágua. O parlamentar garantiu há cinco meses que formaria um bloco de vereadores a fim de encaminhar aos Legislativos proposta para criar algo como uma Lei de Ficha Limpa àquela instituição mantida pelos cofres públicos de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Tudo porque o próximo presidente da Fundação do ABC deverá ser o secretário de Governo de São Caetano, Marco Antônio Santos Silva, que responde na Justiça pelo envolvimento no caso do empreiteiro Antônio José Cressoni, em suposto esquema que superfaturaria obras do Palácio da Cerâmica.
A justificativa de Eder Xavier à não efetivação da proposta é algo ininteligível, pelas declarações impressas no Diário do Grande ABC: “Se começasse a falar disso em maio, junho ou julho, eles dariam um nó no projeto. A partir de outubro eu vou retomar essa discussão com força”, declarou Eder. Não fica claro quem são “eles”, se os demais parlamentares dos três municípios ou políticos que dominam a cena dos Executivos municipais.
Silêncio de Cicote
Seja quem for, Eder Xavier foi impreciso. Mas também foi incisivo ao revelar vácuo de Almir Cicote (PSB), vereador de Santo André, consultado por ele. Justamente Cicote, alinhadíssimo à Administração Carlos Grana, assim como o fora à Administração Aidan Ravin. O mesmo Cicote que até outro dia declarava disposição de exigir mais contrapartidas à Incorporadora Brookfield pelas obras do shopping em construção numa das áreas do desativado projeto da Cidade Pirelli. Nada surpreendente, Cicote meteu-se moita adentro e não tocou mais no assunto. Transparência não é seu ponto forte.
Os parlamentares da região não fogem à regra geral dos parlamentares brasileiros: com as exceções de praxe, estão no mercado de votos como mercadores de vantagens explícitas e implícitas. Esperar que essa gente se digne a abrir as entranhas da Fundação do ABC seria o cúmulo da ingenuidade.
Tanto é verdade que o petista Pio Mielo, vereador em São Caetano que apoia o prefeito peemedebista Paulo Pinheiro por conta do encavalamento eleitoral do ano passado, quando o enviado especial de Luiz Marinho, agora candidato a deputado estadual, Luiz Fernando Teixeira, comandou a campanha do concorrente vencedor, saiu-se com uma pérola sobre a situação da Fundação do ABC. Completamente deslocado do eixo de legitimidade que deveria nortear ampla profilaxia da entidade comandada por Xangola, ele disse que a pauta de moralidade da instituição poderia ser incorporada aos debates do Clube dos Prefeitos. A sugestão equivale a propor que as brigas de torcidas organizadas devem ser resolvidas num conclave ecumênico entre católicos, evangélicos de variadas ramificações, budistas e o escambau.
Mais que eventuais dificuldades éticas a impedir a sucessão de Maurício Xangola Mindrisz conforme o figurino que se desenha, o que deveria centralizar as atenções e as ações sobre a Fundação do ABC são os esqueletos de irregularidades que não resistiriam a investigações. Nada de CPIs de parlamentares mais que manjados na arte de procrastinar. Caberia ao Ministério Público ir a fundo e para valer na gestão daquela instituição que nesta temporada manipulará mais de R$ 1,2 bilhão de orçamento. Tudo com recursos do SUS (Sistema Único de Saúde).
A falência de representatividade social da Fundação do ABC, que conta com um Conselho Curador em larga escala submisso às administrações públicas de Santo André, São Bernardo e São Caetano, talvez seja o principal motivo para o MP ingressar nesse campo minado. A unanimidade em torno dos gestores que por ali passaram e também do atual presidente foi construída com a argamassa de vantagens e proteções mútuas dos políticos que comandaram e comandam as máquinas públicas dos três municípios.
Mais importante que suposta discussão sobre Ficha Limpa na Fundação do ABC são os cromossomos contaminados ao longo dos anos pelo vírus do corporativismo descomprometido com a sociedade, pelo politiquismo rastaquera dos saqueadores do dinheiro público e pelo empreguismo debochado de gente despreparada para funções vitais.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ