Nem tudo que o prefeito Luiz Marinho decide tem o aval do supersecretário Luiz Fernando Teixeira. Nem tudo que Luiz Fernando Teixeira decide tem o aval de Luiz Marinho. Ora, bolas, perguntaria o leitor, o que tem a ver uma coisa com outra? Tem muito: o prefeito de São Bernardo e o homem que há muito tempo lhe dá toda a guarida, digamos, logística, já não se entendem como antes. Se é que me entendem. Por isso, o que está em jogo é o tamanho do latifúndio administrativo e eleitoral de um e de outro. Marinho é o prefeito, mas sabe que não dá para deixar Luiz Fernando Teixeira de fora de nada. O que o futuro reserva a ambos é a grande questão.
Como em política tudo é possível, não está fora de cogitação Luiz Marinho e Luiz Fernando Teixeira se aproximarem como antes, quando eram apenas pretendentes ao comando do Paço de São Bernardo. A candidatura de Luiz Fernando a deputado estadual, já deflagrada e que envolve uma teia de parceiros que vão muito além da geografia da Província do Grande ABC, causou estragos internos no PT. Há quem sente um invasor em seus redutos, como Ana do Carmo, deputada que tem bases populares, e o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Teonilio Barba, principiante na carreira mas com a força de uma massa de votos de cabresto como tantos sindicalistas. Os metalúrgicos não apreciam quem desafie seus interesses. Luiz Fernando Teixeira, de alguma forma, ingressou em terreno minado. Até porque há uma surda luta de classes entre trabalhadores da base petista e, digamos, almofadinhas, como eles tratam quem jamais apertou um parafuso.
Versões conflitantes
Há duas versões sobre o comportamento de Luiz Marinho quando o assunto é a candidatura de Luiz Fernando.
A turma dos que dizem que há completa fidelidade de apoio ao presidente do São Bernardo Futebol Clube, em agradecimento a todas as portas que o então candidato a prefeito e também o então candidato à reeleição encontrou abertas graças à habilidade de Luiz Fernando Teixeira.
A turma de opositores internos de Luiz Fernando, que o consideram atrevido demais, guloso demais, acredita que Luiz Marinho pode estar praticando um jogo de simulação, de que apoiaria seu caixa-forte até determinada página. No fundo, adoraria que o recém-filiado ao PT quebrasse a cara e, com isso, tivesse a sede de poder reduzida e movimentações controladas.
Na cúpula do Partido dos Trabalhadores tanto em âmbito estadual quanto nacional com alguma influência na Província do Grande ABC a atuação de Luiz Fernando Teixeira encontra igualmente adeptos e desafetos. Há quem o coloque no pedestal de uma nova categoria de petistas, dos petistas mais rebuscados no falar e no vestir, mesmo que Luiz Fernando não tenha ainda juntado uma porção de frases que o coloquem como alguém a ser ouvido com atenção quando o assunto é a sociedade como um todo. Há também quem o execre exatamente por causa da impetuosidade com que costuma agir, desprezando redes de proteção. Luiz Fernando Teixeira é comparado a um acrobata de gestos espetaculares e saltos surpreendentes.
No Paço Municipal de São Bernardo não faltam conselheiros que condenem Luiz Marinho por suposta liberalidade com que trata Luiz Fernando Teixeira. Chegam a dizer que LFT é mais prefeito que o próprio prefeito.
Os bastidores da gestão do Paço Municipal são muito mais importantes que a prática pública. Luiz Fernando Teixeira tem a faca e o queijo na mão a ponto de determinar os próprios limites de atuação. A decisão de concorrer a deputado estadual para capitalizar-se rumo à sucessão de Luiz Marinho praticamente foi imposta a um grupo mais fechado de colaboradores. Obtido o aval, partiu-se para ampliar o quórum. Ana do Carmo e Barba proferem discursos conciliadores, mas não apareceram na megafesta de LFT no Restaurante São Judas Tadeu, quando morro popular abaixo e elite política voraz juntaram-se para festejar o aniversário do anfitrião, imodesto ao dizer que aquilo tudo foi pouco ante o que vem por aí. Os adversários de LFT exageram. Dizem que ele é capaz de reservar o Estádio Primeiro de Maio, do seu São Bernardo Futebol Clube, para o lançamento oficial da candidatura.
Abrangência territorial
Discute-se nos bastidores petistas a abrangência política de Luiz Fernando Teixeira na Província do Grande ABC. Ele está em toda parte, inclusive na peemedebista São Caetano. As relações com Paulo Pinheiro, prefeito abastecido pelos petistas para tornar a campanha eleitoral competitiva com a candidata de José Auricchio Júnior, não são as melhores. Paulo Pinheiro já sente o peso social do escancaramento do suporte petista. O partido de Lula da Silva é rigorosamente abominado pela grande maioria dos eleitores de São Caetano. E o será ainda mais nas próximas eleições, sob o peso da decepção com os embargos infringentes do Supremo Tribunal Federal.
Luiz Fernando Teixeira já estaria refazendo os números da votação esperada em São Caetano, nas dobradinhas oficiais e oficiosas entabuladas. Não seria a classe média de São Caetano o ancoradouro de seus projetos.
A divisão e a complementação territorial e funcional entre Luiz Marinho e Luiz Fernando Teixeira é um paradoxo do qual o PT vai ter de exorcizar em algum momento. Os entrechoques encontram campo fértil à propagação de idiossincrasias que podem aflorar em situações políticas e administrativas menos favoráveis.
Para efeitos internos, de São Bernardo, os limites à manutenção de boas relações entre Luiz Marinho e Luiz Fernando Teixeira são mais importantes que os pretensos candidatos à Prefeitura em 2016, Alex Manente e Orlando Morando. Acredita-se que em algum momento, por mais íntimos que sejam, Luiz Marinho e Luiz Fernando vão perder a paciência mutuamente de forma menos reconstrutiva.
Tanto que as relações amistosas de Luiz Fernando Teixeira com o Diário do Grande ABC do empresário Ronan Maria Pinto contrastam com as críticas da mesma publicação à gestão de Luiz Marinho. Há petistas que não se conformam com os privilégios concedidos pelo jornal a Luiz Fernando enquanto a Luiz Marinho sobram bordoadas. Muitos veem no tratamento sinais evidentes de que Luiz Fernando não mantém laços de fidelidade com Luiz Marinho a ponto de sacrificar a própria individualidade. Outros afirmam que há uma combinação tácita entre Luiz Marinho e Luiz Fernando para engabelar a direção do Diário do Grande ABC, no sentido de amenizar a pauta crítica, excluindo da lista de golpes algumas questões que seriam muito mais relevantes, sobretudo sobre denúncias envolvendo empreiteiras de obras.
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