Política

Falta uma liderança política para
valer em Santo André. O que fazer?

DANIEL LIMA - 27/09/2013

Município brasileiro mais doloridamente sofrido no campo econômico nos últimos 40 anos, quando deixou o status de “viveiro industrial” para cair nas garras de “predadores insaciáveis”, Santo André não tem uma liderança política sequer sobre a qual se pode depositar confiança e entusiasmo a grandes transformações.


 


A pergunta mais sensata a fazer é a seguinte: será que vai aparecer alguém que, amealhando um grupo de colaboradores de nível, não o rebotalho que serve a Carlos Grana e serviu a Aidan Ravin, possa mudar a história e levar Santo André a reencontrar-se com o passado? 


 


Não tenho a menor expectativa positiva. Quando, dentro de meio século ou pouco mais, estas linhas forem consumidas por leitores que nem nasceram ainda, provavelmente estarei sendo questionado como projetista do futuro que chegou. Estas linhas serão consumidas sim, porque esta revista digital permanecerá ativa mesmo após a decisão do poderoso de me levar desta experiência terrena. Vai ser minha contribuição pós-morte contra os certamente novos e os atuais prevaricadores informativos. Gente que se replica ao sabor de conveniências e oportunismo ante uma mídia intocável na baixa sensibilidade de antepor-se às promessas e lorotas dos espertalhões da vez.


 


Mas vamos ao que interessa e o que interessa é saber o que vai ser de Santo André na política. A frustração provocada por Aidan Ravin, que tinha tudo para, mesmo com seu modo populista de ser, dar a Santo André algo mais que uma administração medíocre, se revela café pequeno ante o que se apresenta com Carlos Grana.


 


Farra e atrevimento


 


O petista caiu num marasmo e numa farra generalizada que possivelmente não terão paralelos na história. Quando se constata que, mais do que nunca, os gestores públicos são potencialmente vigiados pelas oportunidades que se oferecem com as tecnologias de informação, chega-se à conclusão de que mais que corajosos na arte de aprontar, eles são atrevidos. E Carlos Grana faz parte dessa fauna de improdutivos atrevidos.


 


Ora, se Aidan Ravin já deu o que tinha de dar, mesmo que volte um dia à Administração não será diferente, porque não se muda a essência assim num passe de mágica; e se Carlos Grana é o que é com seu mosaico estrambólico de secretários e assessores de porcaria nenhuma, quem teríamos como alternativa mais palpável à sucessão?


 


Supondo-se com extrema generosidade e otimismo que a população de Santo André caia na real de que elegeu alguém que não tem o menor apetrecho às reformas que o Município tanto prescinde, o que lhe restará em termos de alternativas de voto ao Executivo?


 


Ainda não despontou ninguém no conglomerado entrecruzado de poderes sociais e econômicos capaz de permitir que se trace perspectiva de mudanças na forma de fazer gestão pública. Pode até ser que haja um ou outro exemplar com potencial para tanto, mas o apontamento poderia se converter em risco, porque precoce. Um grande risco, aliás, porque as forças dominantes, as forças que elegeram Aidan Ravin, as forças que elegeram Carlos Grana, são maciçamente opressivas, exclusivistas, monopolizadoras de variáveis pragmáticas. Desalojá-las é uma tarefa e tanto, porque seus representantes são ostensivamente catequizadores.


 


Querem dois exemplos claros e insofismáveis? Os agora secretários de Carlos Grana, Paulinho Serra e Raimundo Salles, praticamente enterraram sonhos de se tornarem prefeitos um dia, apesar das surpresas que a política reserva, porque se entregaram às vantagens do poder. Dois dos principais adversários petistas em Santo André jogaram-se nas águas vermelhas juntamente com um bando de apoiadores igualmente intransigentes no passado com o partido consagrado por Lula da Silva. Atiraram no lixo tudo que escreveram e disseram sobre os petistas, em oposição ao sentimento de frustração dos eleitores antipetistas, que seguem antipetistas. Muitas vezes se excederam na oposição encardida. Agora se excedem no alinhamento compulsório.


 


Eleitorado subestimado


 


Raimundo Salles e Paulinho Serra desconsideraram o elementar a quem conhece a alma humana: há certas definições ideológicas que se cristalizam no seio da comunidade a favor ou contra determinada agremiação política. As marcas do PT são conhecidas, por mais que tenham sido contaminadas. O potencial de personalismo do voto não resiste, em larga escala, a guinadas expressivas, como as de Paulinho Serra e de Raimundo Salles. Até porque, a sedimentação do eleitorado se deu exatamente por conta do que ofereciam em contrapartida. Uma contrapartida que já não existe mais.


 


Não diria que o capital eleitoral de Raimundo Salles e de Paulinho Serra virou pó, porque sempre é possível tirar leite de pedra no mundo político, mas que sofreu abalo sísmico, não tenho dúvida. Como nenhum deles contava com aprofundamento popular na periferia, área onde prevalece o PT do Bolsa Família e do operariado doutrinado às causas trabalhistas, certamente recuaram os estoques de eleitores em bairros de classe média-média e classe média-baixa, calcanhares de Aquiles do PT. Esses eleitores estão praticamente órfãos, à espera de uma novidade, principalmente.


 


Mais que a perda de votos líquidos, pesa sobre Raimundo Salles e Paulinho Serra o descrédito do discurso de ocasião. Antes demonizavam o PT. Agora o idolatram. 


 


O esforço que o Diário do Grande ABC despende para manter Paulinho Serra e Raimundo Salles nas manchetes, conforme se estabeleceu na migração que vivenciaram de um mundo de hostilidade em direção a um mundo de agrados petistas, é um esforço tão artificial e tão descolado da importância das temáticas abordadas que escancara o acordo. Paulinho Serra é hoje o representante oficial do setor de transporte coletivo na Prefeitura de Santo André. E Raimundo Salles cultiva uma vocação tardia à moldura de suposta intelectualidade pessoal agressivamente rejeitada por redutos mais conservadores dos agentes culturais.


 


Fosse eu candidato a prefeito em Santo André em algum tempo (que Deus me livre dessa ideia, porque não suporto dizer o que não sinto, regra de sobrevivência dos políticos) não teria dúvidas em preparar um mote central de preparação à empreitada tendo como núcleo algumas constatações básicas. Questões como incompetência, incongruência, indolência, imprevidência e tantas outras assemelhadas seriam juntadas numa porção única para extrair um conceito-chave que atingisse o coração e a alma dos eleitores.


 


Resta saber se teremos alguém que possa encaixar a ideia central à própria biografia pessoal. Santo André faz muito tempo está entregue a forças que abominam a inteligência, a competição, a coerência e o compromisso central com a população.


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