Sabem os leitores a principal diferença entre Guilherme Paulus, que fez da CVC Turismo a maior empresa do setor no País, e Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo depois de ser presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da CUT, Central Única dos Trabalhadores? Resposta reta e direta: o primeiro é empreendedor forjado na competitividade do mercado; o segundo é um militante sindical guindado, por circunstâncias que todos conhecem, à direção de uma das principais cidades do País.
Perguntariam os leitores a razão da comparação, se hoje Guilherme Paulus é presidente do conselho de administração da CVC, empresa que negociou com gringos por valores estratosféricos, e Luiz Marinho vive em outro mundo, no mundo da gestão pública? Simples, muito simples: fosse Guilherme Paulus levado a sério por Luiz Marinho e seu entorno de secretários e assessores, São Bernardo certamente teria encaminhado o projeto “Cidade do Automóvel”, em vez de fixar-se em proposta muito mais restritiva como atratividade e respeito à própria história. É o caso do Museu do Trabalho e do Trabalhador, obra em fase de construção situada nas imediações do Paço Municipal.
São Bernardo é um caso especial de cidade em que o empreendedorismo nacional e internacional, de pequeno, médio e grande porte, não tem vez quando se pretende homenagear sua própria pujança econômica. Valem apenas os trabalhadores, principalmente os trabalhadores de chão de fábrica, porque os engravatados, como sempre destilaram os sindicalistas, eram patronais por excelência e, portanto, durante muito tempo, inimigos da classe.
O descaso com o futuro da Província do Grande ABC vem de longe e a ponto de tornar uma obra como a Cidade do Automóvel ou algo assemelhado mais que óbvia apenas um desencanto em forma de pilheria. Sim, porque falar de Cidade do Automóvel em São Bernardo como elemento de valorização histórica da cidade e da região como um todo virou piada de salão. Não falta quem de vez em quando aparece na mídia para sugerir a empreitada sem o menor embasamento técnico, financeiro e cultural. Desses, deve-se duvidar e duvidar. De Guilherme Paulus, jamais.
Obra discriminatória
Duvido que o prefeito Luiz Marinho tenha conhecimento do que vamos apresentar em seguida, em forma de link. Mas isso não atenua o grau de estupidez de ter se voltado exclusivamente à classe trabalhadora na formulação e na execução da obra que, como garante o noticiário, está mais que enroladíssima, com suspeição de corrupção das grossas.
Como se sabe, a construtora que ganhou a licitação do Museu do Trabalho de do Trabalhador é um convite à investigação do Ministério Público, com amplas possibilidades de se confirmarem irregularidades. Como se um contrato de quase R$ 20 milhões fosse comum na gestão de São Bernardo, o prefeito Luiz Marinho reagiu ao noticiário de forma semelhante à do governador Geraldo Alckmin quando estourou o escândalo metroferroviário: sugere que foi surpreendido e que vai acionar o Ministério Público para apurar o caso.
Quando escrevo que tucanos e petistas são faces da mesma moeda ainda há quem duvide. A única diferença é que o que sobra de sistêmico ao PT falta ao PSDB.
O Museu do Trabalho e do Trabalhador será unilateralmente classista e, portanto, manquitola em todos os sentidos, inclusive de marketing institucional de São Bernardo, porque é uma extensão do sindicalismo cutista do qual Luiz Marinho é um dos principais representantes. Fossem menos atavicamente ideológicos, os cutistas e petistas adoradores do Museu do Trabalho e do Trabalhador enxergariam uma floresta de oportunidades para encaixar e popularizar entre turistas a sinergia de capital e trabalho no Município, mesmo com os arranca-rabos próprios de arrumação democrática. Infelizmente, preferiram a árvore da simplificação dos incultos e dos despreparados.
Se por si só a obra já foi concebida com viés discriminatório, vejam só que preciosidade capturamos nos acervos da revista LivreMercado, dirigida por este jornalista ao longo de duas décadas. Trata-se de uma entrevista imperdível do jornalista André Marcel de Lima, publicada na edição de agosto de 2007, e que mostra a diferença entre o que propunha Guilherme Paulus, o empreendedor, e o que está sendo executado por Luiz Marinho, o militante. A esperada Cidade do Automóvel virou Cidade do Trabalhador, quando qualquer cabeça razoavelmente apetrechada compreenderia que a primeira alternativa contemplaria a segunda.
Leiam, com atenção:
Total de 813 matérias | Página 1
15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ