Administração Pública

Grana precisa saber que projeto
de Celso Daniel virou passado

DANIEL LIMA - 09/10/2013

Alguém precisa alertar o prefeito Carlos Grana que o Eixo Tamanduatehy deixado por Celso Daniel foi-se embora com as transformações especulativas do mercado imobiliário. Por isso, quando o chefe do Executivo de Santo André concede entrevista e evoca aquele projeto potencialmente de dinamização da economia e do social está apenas formulando teorias sobre um futuro que o passado e o presente inviabilizaram.


 


Convocar algum legado de Celso Daniel é fórmula mágica mas trágica de pretender-se eficiente e organizado, mas cada vez que o tempo passa na catinga da fumaça, menos credibilidade se obtém. Os marqueteiros que estão por trás de Carlos Grana e que sabem muito pouco sobre a Santo André histórica deveriam pelo menos consultar os arquivos. Assim evitariam que o chefe passe por constrangimento.


 


Se quer mesmo retomar o projeto Eixo Tamanduatehy e não ficar desfilando a grife de Celso Daniel como inócua estratégia de marketing, a primeira decisão que Carlos Grana deve tomar é formar um grupo especial com o maior número possível de agentes públicos que participaram daquela empreitada. A medida possibilitaria o resgate de informações, de dados, de conceitos e de tudo o mais para que se saia a campo e se observe o que sobrou espacialmente de possibilidades à readequação do projeto.


 


Um Novo Eixo Tamanduatehy sempre será possível, mas será menos provável na medida em que o tempo passar e os espaços físicos que se programaram para induzir a ocupação econômica e social não forem violentados sobretudo pela especulação imobiliária incentivada pelo próprio Poder Público, voraz na necessidade de financiar campanhas eleitorais.


 


Numa entrevista a Leandro Amaral, do Repórter Diário, na mesma data em que se realizou um encontro em Santo André que debateu questões industriais, sobre as quais escreverei qualquer dia desses, Carlos Grana falou apenas tangencialmente sobre o Eixo Tamanduatehy e também sobre a ocupação econômica do distrito de Campo Grande, extensa área no extremo geográfico de Santo André que sofre duras restrições ambientais.


 


Gargalos logísticos


 


O prefeito de Santo André não se aprofundou sobre as duas localidades, mas falou o suficiente para que se chegasse a uma conclusão simples: não existe prioridade de fato, para valer, voltada a um plano de reorganização da indústria de transformação de Santo André. Até porque, convenhamos, as possibilidades de sucesso são escassas.


 


Diferentemente do que afirmou Carlos Grana ao Repórter Diário, Santo André está longe de gozar de vantagens logísticas que poderiam aquecer o apetite de investimentos industriais. O transporte ferroviário não tem basicamente grande interação com o Município. É um traçado de passagem quase olímpica de uma empresa concessionária em direção ao Porto de Santos. O trecho sul do Rodoanel é uma serpentina que incentiva a deserção industrial de Santo André.  Basta ver quantas empresas foram embora após a inauguração daquela estrada tanto em direção a Mauá como a municípios do Interior que oferecem entre muitas facilidades, também a cara do gol dessa obra que chegou numa região sem que as instituições locais ousassem preparar um plano que a convertesse em vantagem comparativa.


 


Embora Carlos Grana tenha acertado no ingrediente conceitual, de que compete à gestão pública a indução de investimentos privados, errou no restante porque até agora, com quase um ano de Administração, não se realizou nada, absolutamente nada, que ao menos fornecesse indícios de que há sim preocupação efetiva com o desenvolvimento econômico do Município que mais perdeu riqueza industrial no País nos últimos 40 anos.


 


A Administração Carlos Grana, como tantas que a antecederam não só em Santo André mas em outros municípios da região, anunciou a formação de um Conselho de Desenvolvimento Econômico, chefiado pela secretária Oswana Fameli. O grupo é formado por muita gente, mas poucas das quais têm arcabouço técnico para um debate mais aprofundado. Mais que isso: poderiam ser ótimos colaboradores num processo de recuperação econômica do Município, desde que tivessem especialistas a conduzi-las em busca de alternativas.


 


O Conselho de Desenvolvimento Econômico é tão efetivo que se reúne apenas uma vez a cada 30 dias e não se tem notícia de nada que seja substantivo em termos de resolução. A secretária Oswana Fameli faz proselitismo sobre o assunto. Preparou-se um projeto de incentivos fiscais para a instalação de polo tecnológico em Santo André, mas as informações são omitidas. É muito provável que se repetirá mais uma vez, também, o fracasso da iniciativa como no passado, porque há condicionalidades jurídicas à instauração de medidas que beneficiaram determinados setores econômicos em detrimento de quem já está no Município.


 


A provável tentativa de criar uma zona franca em Santo André, em forma de polo tecnológico, como sugeriu a secretária Oswana Fameli em uma entrevista, é estruturalmente agressiva à lógica de mercado. Exceto se o suposto polo tecnológico for apenas apêndice de estudos das empresas eventualmente interessadas em se instalar em Santo André. O que não se compatibiliza com eventuais grandes investimentos em busca de retorno em forma de rentabilidade. 


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