Administração Pública

Secretária de Grana é equivoco
petista que se estende à Acisa

DANIEL LIMA - 15/10/2013

A descoberta da pólvora que fiquei de revelar hoje e que é protagonizada pela secretária de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Santo André não é um equívoco público, assinado, carimbado, envelopado e despachado apenas pela Administração Carlos Grana. Estende-se à Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), que bancou a educadora Oswana Fameli como vice-prefeita na chapa do petista, como secretária da área e também por conta do controle de parte da máquina pública. Ou seja: Oswana Fameli, boa senhora, senhora educada, senhora elegante, não é um tropeço individual.  É a multiplicação de despreparos sistêmicos do setor público e do setor privado de Santo André.


 


Afinal, o que disse Oswana Fameli a ponto de despertar a irritação deste jornalista, considerando seus dizeres a descoberta da pólvora, ou seja, algo de que todo mundo tem conhecimento e, quando pronunciado com ares de novidade, transporta o autor a uma latitude entre o inacreditável e o despropositado?


 


Num artigo assinado pela secretaria de Desenvolvimento Econômico na edição de domingo último do Diário do Grande ABC, sob o título “Uma indústria forte para Santo André”, Oswana Fameli cometeu o pecado capital de atender a reclamos de terceiros para se posicionar sobre a necessidade de injetar confiança e credibilidade na gestão que mal iniciou. E caiu na velha e tosca armadilha de tantos outros gestores ao longo dos anos de desindustrialização na Província do Grande ABC: jogou-se nas águas do triunfalismo.


 


Levando-se em conta que Oswana Fameli não disse o que escreveu, mas que pode dizê-lo em qualquer evento público porque se teve a coragem de assinar aquele artigo certamente confiará na memória curta dos ouvintes e repetirá tudo com ares de sabedoria, nada melhor que apontar a fragilidade de alguns parágrafos daquele artigo, os quais contaminam o restante da obra-prima publicada pelo Diário do Grande ABC.


 


Oswana Fameli referiu-se ao 1º Simpósio da Indústria e Perspectivas de Santo André, realizado no último dia 3 no Centro de Formação de Professores Clarice Lispector. “O encontro foi um grande marco para entendermos os desafios dos empresários da indústria da região” – escreveu a secretária de Desenvolvimento Econômico. Uma confissão tácita do despreparo para ocupar o cargo, porque tudo o que foi dito não passou de repetição enfadonha para quem acompanha a economia regional há pelo menos duas décadas.


 


A descoberta mais nuclear da pólvora por Oswana Fameli está nos seguintes parágrafos:


 


 Cada especialista destacou pontos fortes da indústria local, seus gargalos e alternativas. A conclusão que chegamos é que precisamos resgatar a competitividade industrial da cidade. Perdemos empresas nos últimos anos e temos totais condições de reverter este processo de êxodo, unindo as forças dos poderes público e privado, aliados à sociedade civil. Indústria é valor agregado, indústria é desenvolvimento.


 


Velharia requentada


 


Reproduzir integralmente o artigo assinado por Oswana Fameli seria perda de tempo e de espaço, porque segue nessa toada de obviedades e de lugares-comuns. É um filme que vira e mexe volta às telas de ufanismo da Província do Grande ABC e só não se torna comédia do gênero pastelão porque se deve respeitar a realidade de dramas sociais embutidos nas fragilidades econômicas.


 


Poderia reproduzir neste texto uma tonelada de informações sobre a economia da região e particularmente de Santo André. Há centenas de matérias em nosso acervo digital que podem ser consultadas a um simples direcionamento ao mecanismo de buscas. Querem um exemplo? Em maio de 1997, portanto há quase 20 anos, sob o título “Seminário Internacional para readequar agenda regional de gestores públicos”, redigi uma matéria que tratava de um evento muito mais bem elaborado e denso do que o realizado recentemente em Santo André. O acesso ao texto poderá ser feito no link logo abaixo.


 


O que tivemos em Santo André que tantas emoções provocou na secretária escolhida pela Acisa e que também é vice-prefeita tem valor como evento para colocar questões econômicas em permanente pauta regional. É disso que também precisamos inclusive para os gestores públicos se preocuparem para valer com os limites de repasses de dinheiro do Estado e da União, e dos contribuintes locais com o aumento da carga tributária municipal, para enfrentar o futuro que sempre chega. Daí, entretanto, a aceitar passivamente velharias de realidade como novidade em forma de declarações de alguém que ocupa um cargo de relevância no organograma do Poder Público vai imensa diferença.


 


Crise desdenhada


 


A crise industrial e econômica de Santo André no interior da crise industrial e econômica da Província do Grande ABC é tão antiga quanto desdenhada pelas forças políticas e administrativas, que só pensam na próxima eleição. Oswana Fameli não tem o direito da ignorância tácita de reduzir a situação “aos últimos anos” e muito menos a frases de efeito de um positivismo vazio e inconsistente, tendo em vista que a própria secretaria que dirige é um arremedo estrutural, como, aliás, todas as secretarias de Desenvolvimento Econômico dos sete municípios desta Província. Uma Província que saltou para a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro de Desenvolvimento Industrial no passado mas que, paradoxalmente, não reúne aptidão desenvolvimentista entre os controladores de instâncias públicas e privadas de poder.


 


Por isso que, ao remeter soluções à “sociedade civil organizada”, Oswana Fameli repete um clichê velho de guerra e fora do diagrama de cidadania que há muito se diluiu.


 


Embora a oportunidade que se abriu para a livre iniciativa participar de uma administração municipal de viés socialista na aplicação de recursos públicos tenha sido instrumentalizada por interesses que não podem ser chamados de republicanos, a presença de Oswana Fameli é um erro crasso na Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André. Por isso, mais dia menos dia os dirigentes da Acisa que a bancaram terão de prestar contas.


 


É verdade que a Acisa não tem tradição de interferir nos rumos econômicos de Santo André. Jamais formulou sequer um paper respeitável para disputar o direcionamento de medidas administrativas e políticas que minimizassem a desgraceira industrial, comercial e de serviços ao longo dos anos. Mesmo assim, não tem o direito de abusar da paciência dos contribuintes ao instalar no Poder Público uma profissional de Educação para comandar o desenvolvimento econômico, com o agravante de que não impôs como contrapartida ao apoio à candidatura de Carlos Grana um documento-compromisso de projetos que definissem prioridades a serem cumpridas.


 


A Acisa incensada como entidade de classe tradicional é corresponsável automática pelas bobagens da secretária escolhida e por tudo que não se fará ao longo da Administração Carlos Grana, bem como por tudo que se venderá de ilusão na tentativa de dourar a pílula. Não é por outra razão, aliás, que a entidade sofre rachaduras profundas entre dirigentes e conselheiros porque apenas uma parcela apoiou o engajamento eleitoral com contrapartidas nada transparentes.


 


Leiam também:


 


Seminário internacional para readequar agenda regional de gestores públicos


 


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