Estou atrasado no cronograma de avaliação da Administração Luiz Marinho tendo em conta os preceitos de “10 Mandamentos do Gerenciamento Público Municipal” que formulei em 2007 e que prometi atualizar com base na atuação do titular do Paço de São Bernardo. Resolvi tornar o trabalho mais elucidativo: a atuação de Luiz Marinho será contraposta à gestão de Celso Daniel, ícone de inovações administrativas na Província do Grande ABC. Aprendi desde menino que, quando se promove uma disputa, tudo fica mais didático. Atribuir notas e organizar ideias sobre a gestão de Luiz Marinho tendo apenas os preceitos de “10 Mandamentos” poderiam parecer subjetividades demais.
Este trabalho jornalístico demandará várias edições não sequenciais. De antemão dou o placar final levando-se em conta os 10 quesitos estruturais da análise: Celso Daniel goleia Luiz Marinho com a média de nota geral de 7,8 ante 1,4 do metalúrgico que virou prefeito sob as graças e apoio eleitoral de Lula da Silva.
Quem acredita que o passado de cada um não faz diferença desconhece o quanto Celso Daniel preparou o terreno para somar ao academicismo e à militância política o sonho de virar prefeito e o quanto Luiz Marinho foi levado partidariamente, embalado pelo então presidente da República, para assumir o posto de titular no Paço Municipal de São Bernardo. O primeiro tornou-se prefeito por vocação política, o segundo por estímulos partidários. A diferença entre uma situação e outra é a mesma que disputar um campeonato de pontos corridos e um torneio mata-mata.
Veja os “10 Mandamentos”
Apenas para reavivar a memória dos leitores, repasso abaixo a relação dos “10 Mandamentos de Gerenciamento Público Municipal”, algo, como defini em quatro de outubro último e que poderia ser chamado também de “10 Mandamentos para prefeitos não caírem no esquecimento”. A lista completa dessa métrica de desempenho é repassada com uma mudança: na sequência de cada item acrescento nota de zero a 10 relativa à gestão de Luiz Marinho e de Celso Daniel. Nos capítulos seguintes a esta edição destrincharei cada enunciado par justificar a qualificação das notas, de forma que não pareça aos leitores mais chutometrias que materialidades a balizar esse comparativo. Vejam então os “10 Mandamentos”:
1. Amar a comunidade sobre todas as coisas. (Nota dois para Luiz Marinho e 10 para Celso Daniel).
2. Não tomar o Santo Nome do Desenvolvimento em vão (Nota dois para Luiz Marinho e 10 para Celso Daniel).
3. Guardar a responsabilidade social e o meio ambiente (Nota dois para Luiz Marinho e 10 para Celso Daniel).
4. Honrar receitas e despesas (Nota quatro para Luiz Marinho e zero para Celso Daniel).
5. Não matar os pequenos negócios (Nota dois para Luiz Marinho e nota dois para Celso Daniel).
6. Não pecar contra a regionalidade (Nota zero para Luiz Marinho e nota 10 para Celso Daniel).
7. Não furtar as expectativas (Nota zero para Luiz Marinho e nota oito para Celso Daniel).
8. Não levantar falsas barreiras (Nota dois para Luiz Marinho e nota oito para Celso Daniel).
9. Não desejar a empresa do próximo (Nota zero para Luiz Marinho e nota 10 para Celso Daniel).
10. Não cobiçar vantagens competitivas alheias (Nota zero para Luiz Marinho e nota 10 para Celso Daniel).
Otimismo agredido
Ninguém mais apropriadamente indicado para confrontar Luiz Marinho a Celso Daniel do que este jornalista. Quando assumiu o primeiro mandato em São Bernardo, em 1999, escrevi vários artigos de otimismo contido sobre a possibilidade de Luiz Marinho apresentar-se como nova versão daquele que foi o mais emblemático dirigente publico da região.
Cai do cavalo do entusiasmo e não nego. Luiz Marinho é uma grande decepção que desnudarei sistemicamente na série de matérias sobre os “10 Mandamentos” para justificar as respectivas notas em cada um dos quesitos.
Gostaria de construir um texto que elevasse a gestão do petista tanto na Administração da Prefeitura de São Bernardo quanto na gestão regional à condição de referência nacional. Era essa a expectativa ao preparar aqueles textos em 2009.
Infelizmente Luiz Marinho dissolveu qualquer expectativa positiva. É um administrador conservador, de baixíssima transparência pública, indutor de ilegalidades administrativas vexatórias e, mais que isso, incapaz de enxergar com praticidade o movimento das pedras macroeconômicas.
Fosse estabelecer notas a Luiz Marinho tendo como suporte as vantagens competitivas de pertencer a um governo federal que lhe é bastante próximo, enquanto Celso Daniel tinha contra si tanto um governo estadual como um federal de tucanos, a diferença entre ambos seria ainda maior. Luiz Marinho só vence em um dos quesitos dos 10 listados. Celso Daniel cometeu um erro financeiro crasso durante a segunda gestão das três (e 10 anos) a que foi eleito pela população de Santo André.
Mais distância?
A diferença de tempo de mandato (10 a cinco) não impede o confronto entre os dois petistas. Os resultados podem ser provisórios para Luiz Marinho, que têm ainda outros três anos de mandato a cumprir, mas são definitivos para Celso Daniel. Marinho pode surpreender e melhorar aqui e acolá. A experiência administrativa haveria de lhe ser positiva, mas quem garante que não cairá na gandaia de escorregões ainda maiores, porque tem a teimosia como parceira resoluta?
Falta sobretudo à gestão Luiz Marinho o que popularmente se chama de massa cinzenta, inteligência, discernimento. Marinho é um ainda frustrado fazedor de obras. Os recursos do governo federal são menos volumosos do que imaginava ao preparar enxurrada de projetos com o suporte de Miriam Belchior.
Marinho precisa melhorar no quesito transpiração para alcançar algum algarismo final menos frustrante que o definidor da média geral depois de cinco anos no poder. Entretanto, como pau que nasce torto morre torto, nem mesmo com um século de gestão Luiz Marinho ameaçará a exuberância de Celso Daniel em mandamentos que exigem inspiração, parente próximo de preparo técnico e intelectual.
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