Administração Pública

Marinho, Grana e Bigucci juntos; e
na Capital estoura novo escândalo

DANIEL LIMA - 31/10/2013

Três agentes mais que suspeitos de patrocinarem lambanças no mercado imobiliário da Província do Grande ABC estavam juntinhos ontem quando, coincidentemente, estourou mais um escândalo do setor na Capital. Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo, Carlos Grana, prefeito de Santo André, e Milton Bigucci, presidente do inútil Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC, compartilharam evento patrocinado pela Caixa Econômica Federal num hotel de Santo André. Algumas dezenas de convidados sob medida ouviram discursos de sempre sobre o suposto futuro cor de rosa do mercado imobiliário na região. Nenhuma frase sequer sobre os desvios éticos e tantos outros desvios dessa atividade lubrificadora de campanhas eleitorais.   Tampouco sobre os micos imobiliários espalhados pela região.


 


Uma breve ficha técnica desses três personagens coloca o encontro do Clube dos Construtores no mesmo patamar de crédito de um evento entre fiscais públicos de obras para debater políticas de combate à corrupção nos escaninhos da burocracia.


 


Milton Bigucci, segundo denúncia do Ministério Público do Consumidor de São Bernardo, é campeão de abusos contra adquirentes de imóveis. Ações contra o conglomerado que preside congestionam o Judiciário. Além disso, é conselheiro vitalício do Secovi, o sindicato da construção de São Paulo, cujo envolvimento irregular, embora disfarçado, em campanha eleitoral foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo e punido pela Justiça.


 


Luiz Marinho engavetou despudoramente documentos que provam cambalacho do conglomerado de Milton Bigucci e de outras duas empresas no arremate de uma área pública que se transforma em megaempreendimento multiuso em São Bernardo. Sem contar que está estimulando a farra do boi de grandes empreendimentos imobiliários.   


 


Carlos Grana assumiu uma Prefeitura que vinha de impactos dilacerantes no setor imobiliário, com falcatruas no interior do Semasa, e nada fez para apurar as denúncias de um advogado que se colocou à disposição do Ministério Público e que declarou sem temores que os grandes empreendimentos imobiliários de Santo André estão coalhados de irregularidades. Mais que isso, Carlos Grana nomeou um empresário do setor imobiliário, amigo de Milton Bigucci, para decidir os destinos de uso e ocupação do solo de Santo André, bem como dos recursos milionários do programa Minha Casa Minha Vida.


 


Cadê a credibilidade?


 


Ora, bolas: com o anfitrião Milton Bigucci e esses convidados especiais a discursar, não há perspectiva de evento que possa ser considerado sério e comprometido com o Desenvolvimento Econômico Sustentável. Ainda mais: nem Bigucci, nem Marinho nem Grana se dispuseram até agora a qualquer iniciativa com respaldo de especialistas em urbanismo e em mobilidade urbana a sequer projetar debates sobre a responsabilidade implícita das atividades imobiliárias como instrumento de redução dos níveis de maluquice da vida metropolitana. Pior que a omissão é o ajuntamento em iniciativas promocionais que visam exatamente o contrário, ou seja, aprofundar ainda mais o caos vigente.


 


Sei lá se o noticiário nas mídias digitais chegou aos participantes durante o encontro do Clube dos Construtores e Incorporadores. Queria ser uma mosquinha para ter essa resposta. Desde manhã começaram a bombar nos sites jornalísticos as novas denúncias envolvendo então servidores públicos e empresários do setor imobiliários da Capital. 


 


Está em todos os jornais de hoje e foi destaque no noticiário das emissoras de rádio e televisão mais um capítulo das falcatruas que revelam a funcionalidade enviesada de mercadores imobiliários e camadas apodrecidas dos gestores municipais. Um repeteco do que se registrou no Semasa durante a gestão Aidan Ravin e que até agora não deu em nada, entre outras razões porque a Província do Grande ABC vive na penumbra. Os protótipos da corrupção são lançados na Província e ganham aperfeiçoamentos em territórios mais nobres. São Paulo e Brasília, por exemplo.


 


MP mais aparelhado


 


Se o Ministério Público da Província do Grande ABC contasse com instrumental técnico e pessoal para devassar os interiores das administrações municipais locais, a exposição do ritual de malandragens juramentadas seria caudalosa. Os relatos nos jornais da Capital sobre o novo escândalo imobiliário não diferem do que principalmente pequenos e médios empresários do mercado imobiliário já me relataram pessoalmente, protegidos pelo anonimato: as Prefeituras da região, indistintamente, são um ninho de cobras criadas na arte de tomar dinheiro de quem ousa empreender na área. O jogo é pesado e a lei de silêncio prevalece, sob pena de ameaças e perseguições.


 


Os administradores municipais da Província do Grande ABC, como Carlos Grana e Luiz Marinho, poderiam fazer história se deixassem o proselitismo e a retórica de lado e se lançassem numa cruzada moralizadora, chamando agentes sociais e representantes da OAB e do Ministério Público para organizarem uma pauta em comum do setor como referência de desenvolvimento econômico e social.


 


Quem acredita nessa possibilidade tendo em conta que Carlos Grana está de braços dados com todos os soldados mais que suspeitos do mercado imobiliário e Luiz Marinho detesta sequer tocar levemente numa pauta que causa arrepios quando contraposta à realidade beneficiadora dos poderosos do setor?


 


Quem acredita que houve apenas coincidência de data e horário entre o encontro do mercado imobiliário em Santo André e o estouro de mais uma facada no orçamento da Capital mais importante do País merece concorrer ao prêmio de ingenuidade do ano. Não a toa um dos denunciados de ontem na Capital foi secretário da Administração Aidan Ravin. Não a toa que Milton Bigucci, Carlos Grana e Luiz Marinho dividem o mesmo prato de prevaricações éticas. 


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