Administração Pública

Ditado espanhol resume resultado
da pesquisa do Diário sobre prefeitos

DANIEL LIMA - 12/11/2013

Tenho todas as razões técnico-científicas para não acreditar na nova bateria de pesquisa do chamado Instituto DGABC, do Diário do Grande ABC, sobre os administradores municipais, mas que os resultados expressam a verdade não há como negar: nossos prefeitos ainda não saíram da pasmaceira e, mais que isso, não sinalizam capacidade de alterar o rumo. 



 


São várias as razões que me levam a não considerar o instituto de pesquisas do Diário do Grande ABC uma fonte confiável. A obscuridade dos trabalhos divulgados, quando se esconde até a identidade dos responsáveis pela iniciativa, é o entrave principal. 



 


Enquanto o Diário do Grande ABC não assumir que é um dos elementos-chave na propagação da cidadania e da responsabilidade social, abrindo à comunidade as vísceras do instituto que diz ter criado, enquanto isso não se efetivar, todo o resto será submetido à desconfiança compulsória.



 


A obrigação do veículo de comunicação mais tradicional da região (mas longe de ser o melhor) é oferecer-se ao público como instrumento de confiabilidade informativa. O instituto de pesquisas será sempre uma jogada de marketing senão de outra especialidade enquanto não for legalmente metabolizada por instâncias representativas da população.



 


Exemplo emblemático



 


Palavra de quem à frente daquele jornal durante nove longos meses (depois de 15 anos de atividades, ocupando todos os postos possíveis de Redação), apresentou publicamente, após campanha esclarecedora sobre as biografias dos convidados, um Conselho Editorial formado por 101 representantes da sociedade. O Teatro Municipal de Santo André ficou lotadíssimo naquela noite de fevereiro de 2005. O simbolismo daquela cerimônia não se limitou à forma, mas se infiltrou nas camadas de conteúdo. Muitos dos conselheiros foram entrevistados antes e depois de tomarem posse. Não faltaram aqueles que, convidados, participaram de reuniões de pauta sem manipulação marquetológica, porque havia o imperativo da transparência e da confiabilidade a ligar a Redação e os leitores, representados pelos membros do Conselho Editorial.



 


Ora, se o instituto de pesquisas do Diário do Grande ABC tem relação metafísica com a Conceição de Cauby Peixoto, “que ninguém sabe, ninguém viu”, como é possível acreditar nos resultados que apresenta?



 


Provavelmente tenha sido obra do Divino, porque, mesmo com todas as imperfeições, limitações e outros elementos de restrição, o resultado final do apanhado junto aos eleitores acabou sendo semelhante à avaliação deste jornalista em dia de generosidade analítica. As notas médias finais dos sete prefeitos encaixaram-se na percepção geral de que temos uma leva de improdutividades e de mesmices que o Observatório de Promessas e Lorotas, desta revista digital, esquadrinha sem risco de percalço.



 


Vejam as notas finais dos prefeitos de plantão: Carlos Grana (5,0), Luiz Marinho (5,6), Paulo Pinheiro (5,4), Lauro Michels (5,4), Donisete Braga (4,1), Saulo Benevides (4,7) e Gabriel Maranhã (4,6).



 


Está entre os pontos que tornam especificamente essa pesquisa do Diário do Grande ABC um imenso ponto de interrogação a suposta sofisticação do questionário em relação à realidade mais que consagrada de dispersão e de limitações críticas do eleitorado. Traduzindo: os eleitores ouvidos pelo instituto do Diário do Grande ABC não têm conhecimento tão amplo para atribuírem notas específicas a cada um dos quesitos listados.



 


Vou ser mais direto: quantos dos leitores desta revista digital, decididamente um público com massa encefálica muito acima da média dos sítios digitais, porque aqui não se expõem textos que não sejam diretamente relacionados a questões da sociedade regional, sem dar espaço, portanto, a entretenimento e assemelhados, quantos leitores desta revista digital, repito, estariam capacitados a emitir juízo de valor qualitativo às áreas que se seguem?  Tentem, num exercício prático, atribuir de zero a 10, individualmente, notas às seguintes temáticas:



 


1. Melhoria nas EMEIs


2. Serviços de água e esgoto


3. Limpeza e varrição de rua


4. Melhorias nas escolas municipais


5. Manutenção de parques e praças


6. Melhoria nas creches


7. Atuação na área de Lazer


8. Atuação na área de Cultura


9. Atuação da Guarda Civil Municipal


10. Atuação na área de Esportes


11. Atuação na geração de empregos


12. Transporte coletivo


13. Atendimento nas UBSs


14. Melhorias dos hospitais municipais


15. Construção de moradias populares


16. Melhorias no trânsito.



 


Enciclopédias municipalistas



 


Repararam os leitores na intensidade prática de conhecimentos específicos que os eleitores pesquisados pelo Diário do Grande ABC deveriam reunir para responder aos profissionais que foram às ruas? Este jornalista mora em São Bernardo, vasculha diariamente tudo o que ocorre nesta Província, mas se sentiria impedido eticamente de responder a essa bateria de avaliações caso se deparasse com um entrevistador do Diário do Grande ABC.



 


Entretanto, como a maioria dos entrevistados não passa recibo de ignorância, de qualquer tipo de ignorância, provavelmente o que tivemos ao longo de cada trabalho (e foram quase três mil entrevistas na região) foi a prática compulsiva do maior índice de chutometria coletiva de que se tem notícia.



 


Talvez não avance em mais nenhum ponto sobre os resultados da pesquisa do Diário do Grande ABC, em próximas edições, porque me sentirei inseguro tendo em vista a opacidade do instituto supostamente criado. A individualização critica dos prefeitos seria uma ação especulativa em pontos que ultrapassam o conhecimento factual e também perceptivo deste jornalista.



 


É claro que, mesmo com a massa de incorreções avaliativas daqueles indicadores há alguns resultados que podem indicar tendências ou consolidação do pensamento majoritário. Caso dos índices de moradores que se sentem bem habitando onde habitam ou até mesmo os indicadores da sensação de melhora, piora ou estabilidade dos atuais gestores municipais nos próximos meses.  Nesses casos, o grosso dos resultados prevalece sobre especificidades opinativas de supostos gênios municipais. 



 


Em dois pontos os jornalistas do Diário do Grande ABC, magos na interpretação das numeralhas, deveriam ser mais cuidadosos.



 


Primeiro, a margem de erro de cinco pontos percentuais em todas as unidades municipais da Província não pode ser confundida com margem de erro de cinco por cento (5%). São porções completamente diferentes. A livrar a cara deles está uma quase generalização desse erro. Inclusive por parte de especialistas.



 


Outro ponto: filtrar no conjunto de pesquisas questões específicas sobre a desaprovação de eleitores de determinado adversário ao prefeito de plantão é desprezar o princípio da margem de erro, que aumenta na medida em que o universo de eleitores oposicionistas se torna mais restrito entre os 400 eleitores questionados. Escorregões da Folha de S. Paulo na interpretação de dados do Datafolha amenizam a bobagem.  Só teria sentido estatístico pinçar percentualmente os eleitores de Orlando Morando contrários à gestão de Luiz Marinho se os 400 entrevistados em São Bernardo fossem eleitores do deputado estadual em questão, não um fragmento do eleitorado.



 


Margem de erro equivocada



 


Para completar provisoriamente ou não essa avaliação do instituto de pesquisas do Diário do Grande ABC, a margem de erro de cinco pontos percentuais (não 5%) para todos os municípios da região, de eleitorado assimétrico, é uma barrigada e tanto. Qualquer cientista político sabe que a margem de erro de 400 entrevistas em Santo André não pode ser de cinco pontos percentuais enquanto a margem de erro de 400 entrevistas em Rio Grande da Serra também é cravada em cinco pontos percentuais. O raciocínio vale para outros confrontos, como São Bernardo versus São Caetano, São Bernardo versus Mauá, Santo André versus São Caetano, Santo André versus Mauá, e tantos outros casos.



 


Entenderam os leitores por que não tenho a menor confiança nos números do instituto criado pelo Diário do Grande ABC, embora, como no caso do ditado espanhol (yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay --eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem), os números finais, médios, em forma de notas, representem a expressão da vontade popular?


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