Administração Pública

Sequestrado, Grana nada vai fazer
para apurar gravidade do Ventura

DANIEL LIMA - 18/11/2013

Não se deve esperar do prefeito Carlos Grana, assim como não se obteve nada dos antecessores, João Avamileno e Aidan Ravin, qualquer iniciativa que coloque nos eixos a apuração das irregularidades cometidas desde o lançamento comercial dos 320 apartamentos do Residencial Ventura, no Bairro Jardim. As novas informações publicadas nesta revista digital (veja link) são tão solidamente graves quanto as anteriores, mas há um conchavo generalizado na praça para proteger os empreendedores daquela obra à revelia da legislação ambiental bem como investidores que apostaram no negócio. Um negócio cuja valorização, até por conta da disseminação da desconfiança sobre a qualidade daquele solo, ficou muito aquém da média do especulativo mercado imobiliário.


 


Sei que sei porque tenho obrigação de ter uma rede que me faz saber que o prefeito Carlos Grana está muito incomodado com as revelações de que o Residencial Ventura é um barril de pólvora precocemente a exibir as vísceras do desrespeito ambiental.


 


Sei também que se o Ministério Público de Santo André tão sem gente e tão sem infraestrutura resolver aparecer na fita de forma incisiva, o prefeito Carlos Grana poderia fraquejar ante as forças econômicas e políticas que o sequestraram e, num gesto de tentativa de salvação, abriria a guarda para as devidas apurações bem escamoteadas na burocracia pública.


 


Silêncio sintomático


 


O silêncio ensurdecedor em torno do Residencial Ventura é uma prática que tanto a Imprensa regional como a Imprensa nacional descarta como elemento de limitação editorial porque não fica bem ter de admitir que liberdade de expressão e da própria atividade de informar é uma cláusula pétrea da democracia com limitações à prática voluntária. Quando o calo do interesse econômico-financeiro aperta, quanto a suruba social de entrecruzamentos pessoais e financeiros emergem, maquinações semânticas se estabelecem para justificar a omissão. No caso do Residencial Ventura, há muito mais lambanças do que se imagina, mas esta revista digital não as expõe integralmente porque a tarefa de investigação é do Ministério Público e da Polícia. Sei o básico e necessário, o ponto de partida com fontes e documentos, para sustentar as reportagens que preparei ao longo dos anos.


 


Nem mesmo o escândalo envolvendo servidores de alto coturno da Prefeitura de São Paulo e mercadores imobiliários, com projeção de desfalque de R$ 500 milhões nos cofres paulistanos, cálculo subestimado porque a atividade é frondosíssima em produção de cifrões, nem mesmo o escândalo mexeu com os brios da Província do Grande ABC, entre outros motivos porque brios a Província do Grande ABC não os tem há muito tempo.


 


Não bastasse a impunidade do Residencial Ventura, não fossem suficientes os abusos da extinta Cidade Pirelli, não saltassem aos olhos os abusos das torres residenciais que crescem ao lado do Shopping ABC, nas antigas instalações da Casa Publicadora, não emergisse o estrondo da fraude do terreno em que a MBigucci constrói ainda impunemente o Marco Zero, não fosse claro tudo isso, a sociedade tem de conviver com o descalabro da omissão do prefeito de plantão que, juntamente com os antecessores, Avamileno e Ravin, forma uma espécie de trigêmeos xifópagos em matéria de acinte administrativo.


 


Carlos Grana não só não move uma palha sequer para apurar as desventuras daquele condomínio de luxo cuja construção está intimamente ligada ao empresário Sérgio De Nadai, de passado condenável em matéria de ética e lisura nos negócios mas de interesses ramificados na atual Administração, como também parece pertencer a outro planeta porque não correlaciona o escândalo paulistano ao de Santo André, bem no coração financeiro da Administração Municipal, como foi o caso do Semasa. Foi durante a Administração Aidan Ravin que estourou a denúncia do advogado Antônio Calixto, avant-première das denúncias do Controlador-Geral da Prefeitura de São Paulo. Inclusive com dois dos protagonistas de agora tendo atuando na gestão do petebista.


 


Como parece existir um pacto de autopreservação, típico de quem diz “não mexa comigo que eu não mexo com você”, Aidan Ravin está a salvo de qualquer investida de limpeza ética e administrativa já que Carlos Grana tem praticamente como núcleo de políticas extraordinárias para manter tudo como estava no devido lugar o mesmo grupelho que deu sustentação política ao antecessor. Qualquer ilação de interesses cruzados que visam à locupletação total não seria mera especulação.


 


Além do imaginado


 


O mais decepcionante de tudo que se tem visto na Administração Carlos Grana após quase um ano de mandato é que o descaminho parece incontrolável porque envolve muito mais que a corrosão de valores de eficiência e isonomia pautados pela seriedade de lidar com os recursos públicos. Quem esperar de Carlos Grana algo que não seja uma sucessão de promessas, alguns feitos superdimensionados por marqueteiros especializados em vender espumas, quem observar Carlos Grana sob qualquer ótica que não seja a de submissão completa aos controladores internos e externos do Paço Municipal, quem cometer a bobagem de acreditar em medidas profiláticas, certamente quebrará a cara, porque Carlos Grana está sequestrado por uma série de anomalias funcionais e até mesmo pessoais, às quais por enquanto os amigos procuram contemporizar, os adversários contabilizam numa poupança que pode vir a tona a qualquer momento e os inimigos prometem jogo pesado na hora que entenderem a mais providencial.


 


O mais engraçado para não dizer dramático de tudo isso é que o instituto de pesquisa do Diário do Grande ABC, publicação que faz da gestão Carlos Grana um oásis crítico em relação aos demais petistas da região, o mais engraçado é que se saiu pela tangente da justificativa de que falta comunicação para que o titular do Paço Municipal fosse mais bem avaliado pelos eleitores. Se há algo que não falta a Carlos Grana é um esforço extraordinário de comunicar-se com relativa competência. Os marqueteiros só esquecem que não se vive de ilusão de manchetes ante o desencanto na vida prática.


 


Carlos Grana só está desperdiçando a oportunidade que Fernando Haddad lhe ofereceu de mão beijada para transmitir a ideia de que a Administração de Santo André de alguma maneira flerta com a seriedade porque entregou até as vísceras aos sequestradores de plantão que imobilizaram Aidan Ravin e encabrestaram João Avamileno.


 


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