Administração Pública

Grana rechaça Controladoria-Geral;
Marinho e Milton Bigucci se calam

DANIEL LIMA - 25/11/2013

Não há prefeito na Província do Grande ABC com a coragem do prefeito da Capital, Fernando Haddad, a ponto de romper os laços imundos do setor público com mercadores imobiliários. O escândalo patrocinado por fiscais corruptos e empresários igualmente desprezíveis que toma o noticiário da Capital há quase 30 dias é praticamente ignorado na região. Mais que ignorado, causou constrangimentos nos bastidores dos Paços Municipais. Trata-se de enredo mais que manjado.


 




O prefeito de Santo André, Carlos Grana, que nomeou um empresário do ramo imobiliário para a secretaria de Habitação, entrou em parafuso ante a proposta de um vereador para que crie uma Controladoria-Geral do Município.


 




Entre as mesmices dos legislativos da Província do Grande ABC, que reúnem quase uma centena e meia de supostos representantes da população, está a clonagem de projetos de lei, porque clonagem não dá trabalho, não exige pesquisa e geralmente dá Ibope. Pois não se tem notícia de que a proposta do vereador Marcos Pinchiari (Pros) de Santo André, tenha sensibilizado outros legisladores.


 




Há mecanismos abortivos que imobilizam as bancadas majoritárias dependentes do prefeito de plantão. O legislativo faz o que o Executivo determina tendo a garantia de modelos infinitos de mensalões e mensalinhos. De vez em quando há um jogo de cena para vender a ideia de independência. Tudo para aumentar a taxa de manutenção das relações consolidadas.


 




Possivelmente porque está desavisado ou certamente porque não tem tido o espaço que esperava na Administração Carlos Grana, ou eventualmente porque seja mesmo alguém preocupado com a bandalheira geral e irrestrita, Marcos Pinchiari apresentou documento que indica ao prefeito petista a criação de um órgão de controle interno nos mesmos moldes do concebido no início da administração petista de Fernando Haddad. A notícia foi publicada pelo Diário do Grande ABC na semana passada com muita discrição, é claro, porque o jornal, como os demais da região, parece ter feito um pacto informal de distanciamento sobre o assunto. Não fica bem mexer num vespeiro.


 




Resposta patética


 




A resposta do prefeito Carlos Grana seria outra senão patética se o prefeito Carlos Grana não fosse o que todo mundo sabe o que é: um instrumento amorfo sob controle partidário e interpartidário interno e uma ferramenta com mil utilidades às forças de pressão externas, as quais imagina dominar mas que, no fundo, no fundo, mesmo ante a mediocridade geral, os interlocutores acabam por submetê-lo a seduções variadas.



 


O que disse Carlos Grana, afinal, sobre a criação de uma Controladoria-Geral que reproduzisse o poder investigativo do órgão criado por Fernando Haddad e que tantos estragos vem provocando na indústria da corrupção paulistana? Segundo deu no Diário do Grande ABC, Grana disse que criar uma controladoria não está nos planos porque a proposta é fortalecer a Ouvidoria e “reafirmar sua independência”.


 




Quanta encenação, quanta encenação!  Ouvidoria foi completamente deturpada e virou peça de submissão no jogo de poder. “Queremos sim dar todo o prestígio para a Ouvidoria, atender suas solicitações. Há outros órgãos de controle, como a Câmara, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) e entidades da sociedade civil. Por isso, não colocamos isso como prioridade” – afirmou Grana. Nada mais lamentável.


 




Primeiro porque, Ouvidoria independente na Prefeitura de Santo André é uma anedota. Tanto que se negocia agora um novo ocupante do cargo, cuja escolha decorre de cruzamento de interesses políticos e partidários ajambrados para reduzir qualquer possibilidade de ruído no circuito de relacionamentos espúrios da gestão Grana com supostos representantes da sociedade.


 




Segundo porque o Tribunal de Contas do Estado está eivado de vícios mais que conhecidos e condenados, além de não dispor de velocidade e especificidades para atingir o coração dos núcleos de corrupção em tempo hábil.


 




Terceiro porque, como já expliquei, os vereadores não contam como instância inibitória a falcatruas. Muito pelo contrário.


 




Quarto porque o respaldo de representações da chamada sociedade civil é uma falácia. Além de não existir essa tal instituição, as que realizam algum tipo de mobilização não passam do próprio umbigo, quando não estão atreladíssimas ao Paço Municipal. Caso da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) que, ao indicar uma representante sem lustro na própria entidade para ocupar a chapa vitoriosa de Carlos Grana, no caso a educadora Oswana Fameli, assinou atestado de submissão mesclado com imposições que, tudo colocado no liquidificador de interesses, gerou essa geleia real de inapetências da Administração Municipal.


 




Omissões esperadas


 




Tão lastimável quanto o caradurismo de Carlos Grana é a omissão do prefeito dos prefeitos Luiz Marinho e o descaso do empresário Milton Bigucci. Luiz Marinho dirige o Clube dos Prefeitos da Província do Grande ABC. Milton Bigucci é o eterno presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores. Provavelmente não é pura coincidência que Bigucci, Marinho e Gilberto Kassab estejam reunidos num mesmo livro, lançado este ano pelo construtor que imagina dominar as letras, e prefaciado pelos dois políticos. Bigucci, Marinho e Kassab estão envolvidíssimos em irregularidades no setor imobiliário.


 




Acreditar que Luiz Marinho levantará para valer a bandeira da moralidade e da ética no relacionamento entre gestores públicos e mercadores imobiliários e, semelhantemente, que Milton Bigucci saia da toca em que se meteu há muitos anos e desfralde propostas de transparência, agilidade e honestidade burocrática entre o mercado imobiliário e o setor público é sugerir que o presidente Kennedy foi alvejado há 50 anos porque desejou a mulher do próximo. 


 




Por essas e por outras não existe nada que se oponha à convicção de que não passará de especulação qualquer noticiário que dê conta da possibilidade de Fernando Haddad fazer escola na Província do Grande ABC, porque por aqui está tudo dominado. Com o agravante de que, à sombra midiática da Capital, continuaremos a fermentar, com outros protagonistas e sem maiores riscos de punição, os escândalos que continuarão e ganhar as manchetes das capitais amanhã.


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