O prefeito Carlos Grana não apareceu na noite de sábado no cerimonial de reabertura do Teatro Municipal de Santo André, equipamento público venerado pela crítica e pelos omissos. Onde estava o prefeito de Santo André? Resposta: numa festa, ou num rescaldo de festa de aniversário do mandachuva do PT da cidade, Luiz Turco. Uma comemoração que começou à tarde e que, tranquilamente, não atrapalharia a presença do prefeito no Teatro Municipal. O problema é que o prefeito costuma engatar uma quinta marcha em eventos com amigos e, principalmente ante a oferta de Coca Cola. Por isso a agenda vai para o espaço.
Deixar de aparecer no Teatro Municipal em noite de gala é o fim da picada, mas Carlos Grana provavelmente não se abalará com os comentários. A ausência observada única e exclusivamente por conta de eventuais exageros comemorativos se encerraria como um episódio comum. Há quem projete contratempos político-partidários, porque um aliado importante, o secretário de Cultura, Raimundo Salles, teria sido desprestigiado. Essa avaliação não prosperará.
O cerimonial da festa que teve como ponto alto a apresentação da Orquestra Sinfônica de Santo André (horrorosamente chamada de OSSA) e a apresentação do cantor Edu Lobo, programava a presença do prefeito Carlos Grana. Estava tudo preparado para o petista manifestar-se. Foi substituído pela vice-prefeita que, cumprindo o dever de tentar apagar o incêndio dos comentários maliciosos que multiplicavam versões sobre os motivos da ausência do prefeito, disse num dos trechos de um discurso-clichê que são muitas as atividades da atual Administração e por isso mesmo ela tem dividido os compromissos oficiais com o chefe do Executivo. Oswana Fameli, a secretária em questão, aprendeu as malícias da política muito mais rapidamente do que alguns atalhos técnicos que poderiam retirar a cidade do ostracismo econômico, ela que, embora educadora, acumula o cargo de Secretária de Desenvolvimento Econômico.
Salles brilhou
Quem deu a volta por cima na festa de reabertura do Teatro Municipal foi o secretário Raimundo Salles. Notável pela capacidade de, ao escolher um foco, mergulhar nas soluções, ele comandou pessoalmente como mestre de obra a recuperação física daquele espaço histórico de Santo André. Tanto que garantiu a reabertura do Teatro Municipal em tempo recorde.
Salles é tão decidido quando se mete a resolver determinada situação que chego a uma conclusão nada onírica: fosse ele secretário da pasta (que também abrange Esportes e Turismo) na Administração Aidan Ravin, o setor de arquibancadas cobertas do Estádio Bruno Daniel não teria sido demolido. Foi destruído um patrimônio que supera o convencionalismo da estrutura física. Ali, naquele espaço, Santo André aprendeu ao longo dos anos a se aproximar do clube e também de iniciativas coletivas em outras esferas sociais.
Raimundo Salles reinou na festa de reabertura do Teatro Municipal. À chegada dos convidados, distribuiu pessoalmente DVD da apresentação da orquestra com os cantores Pedro Mariano e Luiza Possi, em show realizado no Clube Atlético Aramaçan. Também programou fotos com cada convidado. No palco, também sobrou. Não faltarão comentários sobre exageros do ex-adversário petista que está de olho na sucessão municipal. Salles é extravagante na ação política, a qual, muitas vezes, minimiza a materialidade das propostas. Mas isso é café pequeno perto de políticos menos intensos na verbalização e nos gestos mas pouco efetivos.
Talvez uma assessoria de modos comedidos para quem quer ser prefeito de uma cidade em busca de um administrador mais confiável e competente, vácuo deixado por Celso Daniel, seja uma boa sugestão a Raimundo Salles. Se encontrar o meio termo entre o excesso e o escasso, ganhará novo impulso eleitoral.
Sem desdobramentos
A ausência de Carlos Grana não deverá repercutir internamente nos relacionamentos do Paço Municipal com o agregado de partidos de direita e centro-direita que o levou à vitória em outubro do ano passado. A maioria dos formadores de opinião que gira em torno do Paço Municipal sabe que, fosse outro o prefeito, seria impossível dar ares de normalidade à ausência a uma festa tão marcante e para a qual o próprio titular do Paço se preparou dias antes, inclusive deixando-se retratar à Imprensa ao lado de Raimundo Salles.
Não haverá desdobramento em crise a ausência de Carlos Grana porque quem acompanha de perto o prefeito petista sabe que ele não consegue levar a sério o compromisso seguinte a uma festa regada a Coca Cola. Faz parte da natureza de Carlos Grana esbaldar-se.
Por isso, à pergunta do título, “Onde estava o prefeito na noite de reabertura do Teatro Municipal”, a melhor resposta talvez seja dizer que ele estava exatamente onde qualquer um que adora outro tipo de festa estaria. Carlos Grana, em circunstâncias normais, jamais trocaria uma tarde-noite de festejos com companheiros de jornada por um evento cultural. Possivelmente até a vice-prefeita Oswana Fameli estaria de prontidão para subir ao palco e dizer o que disse. E o que disse? Minhas fontes não foram além da tal menção de que ela se tem dividido com o prefeito nas tarefas de dar a Santo André o dinamismo perdido no tempo.
Oswana é fértil em industrializar adjetivos. Se seus discursos fossem contabilizados como agregado de valor ao PIB, certamente Santo André seria imbatível, e não o que todo mundo sabe -- uma cidade encalacrada pela falta de logística, uma cidade retalhada pela ausência de ideias econômicas compatíveis com ações e uma cidade que busca no Teatro Municipal uma válvula de resgate de parte da autoestima perdida – no que o secretário Raimundo Salles está absolutamente certo, porque, pelo menos, nesse ponto, está cumprindo sua parte.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ