Entrevista Especial

Crescimento econômico
é responsabilidade geral

DANIEL LIMA - 07/03/2007

Quem acha que pode fugir da responsabilidade de compartilhar iniciativas que incrementem a economia do Grande ABC está no acostamento da história. Novamente titular da pasta de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo, Fernando Longo decidiu ressuscitar o Conselho de Desenvolvimento Econômico adicionando a experiência acumulada na Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo. A instância municipal que Fernando Longo recupera com novo perfil reúne 27 representantes do Poder Público, iniciativa privada e sociedade civil. Eles vão se reunir todos os meses para buscar saídas municipais e regionais que Fernando Longo, sempre otimista, acredita que estão disponíveis.


 


Para o executivo público que integra o restrito grupo de frequentadores assíduos do gabinete do prefeito William Dib, o trecho sul do Rodoanel tem potencialidade muito maior de agregar valor à economia de São Bernardo e da região do que servir como nova passarela de fuga de empreendimentos locais. Utiliza a expressão “guerra logística” para imprimir a marca de confiança de recuperação econômica sem lançar mão da guerra fiscal convencional. Também discorre sobre a Universidade Federal do Grande ABC, perfilando-se a LivreMercado na defesa de relação estreita do projeto acadêmico e as necessidades econômicas e sociais da região.


 


Capital econômica do Grande ABC, São Bernardo carrega a responsabilidade de liderar deliberações na produção de riqueza. Até que ponto é possível acreditar que o novo modelo do Conselho de Desenvolvimento Econômico atingirá esse objetivo e, em cadeia, disseminará conceitos a outros municípios locais?


 


Fernando Longo -- O Conselho de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo é um órgão de caráter colegiado, composto por 27 conselheiros, representantes do Poder Público (Executivo e Legislativo), iniciativa privada e sociedade civil organizada. Neste novo modelo do Conselho Econômico participam Anfavea, Sindipeças, Fiesp, Sindimóveis, Singrafs, CDL, Acisbec, FEI, Fatec, Senai, OAB, Sebrae, dentre outras entidades que representam as forças vivas da sociedade são-bernardense comprometidas com o crescimento. O Conselho reflete bem o perfil do seu líder, no caso o prefeito William Dib. É um órgão moderno, democrático e eficaz na discussão, aprimoramento, avaliação e construção de políticas públicas do desenvolvimento econômico e social de São Bernardo. É um novo modelo de governança de desenvolvimento econômico e social que pautará reuniões mensalmente, seguidas de almoço/palestra com especialistas em diversas áreas e outras ações. Empresários da cidade também serão convidados a participar. O Conselho terá amplo suporte técnico por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Secretaria de Finanças e demais secretarias municipais. Acredito que a mecânica de funcionamento do Conselho de Desenvolvimento Econômico poderá, perfeitamente, ser adaptada a outros municípios, a exemplo da Lei de Incentivos Seletivos implantada recentemente em São Bernardo. 


 


O senhor acredita que há soluções municipais de cunho econômico para um Grande ABC que é visto pelos investidores como território único? É possível sair do encalacramento em que nos metemos apenas por meio de ações municipais autárquicas ou é indispensável aplicar conceitos de regionalidade?


 


Fernando Longo -- É possível que um Município ou outro adote ações que, temporária e pontualmente, promovam o desenvolvimento econômico local. Entretanto, é pouco provável que essas políticas persistam por longo tempo. Adepto do princípio da regionalidade, aposto em acordos e cooperações mais estruturantes, abrangentes e de integralização dentro de certas realidades. É mais difícil, mais trabalhoso, porém mais eficaz. Na busca de soluções conjuntas estamos promovendo reuniões entre secretários municipais, uma vez que é voto unânime que os municípios não são concorrentes, mas sim complementares. 


 


O senhor concorda com o enunciado de que o trecho sul do Rodoanel tanto pode trazer felicidade quanto novas decepções, pelo simples fato de que da mesma forma que facilitará as relações econômicas com base em novo potencial de logística também estimulará novas deserções?


 


Fernando Longo -- Tenho certeza de que a construção do trecho sul do Rodoanel trará mais felicidade do que o contrário. São Bernardo encontra-se numa posição geográfica privilegiada e detém parque industrial invejável. O trecho sul do Rodoanel virá potencializar ainda mais essa vantagem competitiva, inclusive no incremento das exportações ao encurtar a proximidade com o Porto de Santos, com os aeroportos de Congonhas, Cumbica e até Viracopos, bem como no sentido inverso para alimentar a necessidade de abastecimento de suprimentos.


 


Estudos sérios apontam perda muito grande de produtividade e competitividade no campo logístico (transporte e armazenamento), no tempo despendido no trânsito para se atravessar ou se deslocar na cidade de São Paulo, agregando custos adicionais aos produtos. Nesse sentido, São Bernardo vem priorizando e incentivando essa vocação econômica. Os primeiros resultados positivos já começam a aparecer com diversos centros de distribuição se instalando em São Bernardo, às margens das rodovias Anchieta e Imigrantes. 


 


São Bernardo perdeu 40% de produção de riqueza industrial em 10 anos, conforme mostramos na edição de fevereiro. O senhor entende que já passou a hora de virar esse jogo que, aliás, é um jogo regional, porque o Grande ABC perdeu 28% no mesmo período?


 


Fernando Longo -- Apesar de reconhecer que ocorreram perdas significativas na economia em todas as cidades e não somente em São Bernardo, devemos levar também em consideração alguns dados que mantêm o Município em posição de destaque no cenário estadual e nacional. Segundo o IBGE, enquanto as grandes cidades e capitais sofreram redução na participação da produção total do País, São Bernardo apresentou crescimento em valores de 15,92%. Em 2004, o PIB foi de R$ 16,906 bilhões, resultado que serviu para manter a cidade como a maior economia da região e melhorou participação no bolo nacional. Com relação ao ranking nacional das cidades, São Bernardo se manteve entre as maiores do País, ocupando a 12ª colocação e o quarto lugar no Estado. Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior divulgou que as empresas sediadas em São Bernardo exportaram cerca de US$ 4,491 bilhões em 2006, resultado que manteve a cidade em quarto lugar no ranking dos municípios que mais exportaram no Brasil, em terceiro no Estado e em primeiro na região. O Valor Adicionado de São Bernardo em relação ao Estado vem num crescente e em 2005 alcançou um dos melhores índices desde 1996. Todos esses números comprovam que São Bernardo vem adotando medidas de desenvolvimento que estão dando resultados positivos. Alguma coisa precisava ser feita e São Bernardo optou por não entrar na guerra fiscal propriamente dita para manter ou trazer novas empresas. Preferimos adotar o que chamo de guerra logística. Ou seja, a cidade apostou na melhoria das condições de infra-estrutura, sobretudo do sistema viário, de forma que possamos reduzir os custos produtivos e incentivar as empresas a investirem na criação de empregos. Pelos resultados obtidos em 2006, entendo que estamos no caminho certo. Afinal, a cidade viu a chegada de quatro mil empresas em 10 anos. Pode parecer pouco pelas necessidades urgentes que temos, mas é muito quando os números mostram que o crescimento econômico do Brasil é, em média, de 2,7% ao ano. Por outro lado, a criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico mostra uma inquietação do Poder Público quanto aos dados apresentados por LivreMercado. O prefeito Dib determinou que buscássemos políticas públicas estruturantes e desenvolvimentistas. O momento é oportuno, principalmente na maior força propulsora de toda a cadeia produtiva -- a indústria automobilística.  


 


O senhor articulou há quase uma década um ensaio que permitiria ao capital e ao trabalho do Grande ABC, principalmente do setor automotivo, de montadoras e autopeças, ação preventiva contra a guerra fiscal que já ameaça a região. Quase 10 anos depois, Grande ABC estiolado por série de razões, entre as quais, principalmente, a descentralização automotiva, o senhor acredita que foi um erro a ação sindical de São Bernardo de bater o pé em defesa das chamadas conquistas dos trabalhadores ou, de fato, aquela decisão era a mais ajuizada?


 


Fernando Longo -- Tivemos na região, em especial em São Bernardo, um sindicalismo muito reivindicativo, com grande tendência política; portanto, altamente combativo, buscando o poder pela classe operária adicionado com a conquista por direitos trabalhistas. A junção desses dois fatores, indiscutivelmente, resultou num custo muito alto à região, acima da média. Entretanto, é importante destacar que, por vezes, houve uma exploração oportunista dessa emblemática imagem sindical selvagem do Grande ABC, sem descartar certa concretude nessa teoria. 


 


Com a experiência que o senhor tem no setor automotivo, inclusive como ex-executivo de uma das montadoras, como observa o quadro internacional, levando-se em conta a realidade do Grande ABC? Estamos mesmo perdendo a disputa pela competitividade para asiáticos e Leste europeu ou há possibilidades de recuperação?


 


Fernando Longo -- O Grande ABC, além de posição geográfica, prima pela qualidade de produtos e pela excelência de mão-de-obra. Entretanto, com o processo da globalização e busca permanente de realinhamento de custos e preços, dois fatores poderão atentar contra a competitividade da nossa indústria: a excessiva carga fiscal e tributária e o alto custo da mão-de-obra. Ressalte-se que estamos falando no contexto nacional, mas com reflexos imediatos por ser uma região altamente industrializada e pelo fator “Custo ABC”. A entrada de produtos asiáticos desonerados desses dois fatores promove competitividade desigual e, por sua vez, o mercado externo não importa impostos, salários e encargos trabalhistas.


 


O senhor acredita que o Grande ABC deve trabalhar com as vocações históricas, do setor automotivo e do pólo petroquímico, para sustentar-se economicamente, ou há alternativas que precisam ser bem elaboradas e executadas?


 


Fernando Longo -- Acredito que a indústria automobilística (montadoras e autopeças) e o pólo petroquímico são e serão por muito tempo a espinha dorsal e o carro-chefe da economia do Grande ABC. Portanto, devemos incrementar, incentivar, e não desestimular esses setores. Paralelamente, devemos também identificar outras vocações econômicas que sejam fontes de desenvolvimento geradoras de riquezas, empregos e renda. O setor terciário e o turismo podem rapidamente absorver, e estão absorvendo, boa parte de milhares de empregos que deixaram de existir na indústria local na última década. O problema reside no alto grau de perda da massa salarial, resultante desse movimento, e isso nos mostra o quanto devemos investir em educação e em políticas públicas que incrementem atividades econômicas que agreguem valor às vocações econômicas e históricas, gerando empregos e renda de qualidade. Este é o cenário que o Conselho de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo encontrará e terá como desafio. 


 


Quais foram as principais experiências que o senhor agregou para aplicar à frente da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo de São Bernardo depois de passar pela Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo?


 


Fernando Longo -- Aplicamos o princípio da regionalidade e da descentralização quando criamos o programa Jornadas de Desenvolvimento do Turismo Paulista. As ações formaram um modelo democrático e eficaz de gestão pública descentralizada que promoveu o ordenamento do turismo pela base, buscando o comprometimento de todos os protagonistas: Poder Público, através do Executivo e Legislativo, iniciativa privada e sociedade civil organizada. O Conselho de Desenvolvimento Econômico tem características que surgiram do trabalho na Secretaria de Turismo. Além disso, aprimoramos o nível de articulação para trabalhar de forma mais organizada, entendendo melhor as máquinas do Estado e da União. Hoje sabemos que existem disponibilidades no mercado e aprendemos os caminhos para buscar recursos ou para estabelecer parcerias. 


 


Há um debate aparentemente desnecessário, mas fundamental para o futuro do Grande ABC: o senhor faz parte do grupo que entende que universidade pública estadual ou federal deve fechar-se academicamente ou considera vital que o currículo contemple a inserção no mercado de trabalho e a geração de pesquisa e desenvolvimento tecnológico nas empresas?


 


Fernando Longo -- A Universidade Federal só terá sentido se tiver a grade curricular intrinsecamente ligada à demanda do mercado de trabalho do Grande ABC. Se não for assim, não faz sentido mais uma universidade, seja particular ou pública. Lembro-me do professor Jacob Daghlian, reitor da Universidade Metodista quando comecei na vida pública. Ele dizia que tinha dó dos alunos, porque as universidades não estavam entregando um diploma e sim um atestado de óbito, porque não havia mercado de trabalho suficiente para eles, principalmente pela formação acadêmica estar desagregada do mercado de trabalho. Integração com mercado de trabalho, pesquisa e desenvolvimento tecnológico (PED) sempre estiveram na ordem do dia nas discussões regionais, tanto na Câmara Regional ou em qualquer outro fórum que busque desenvolvimento. 


Leia mais matérias desta seção: Entrevista Especial

Total de 197 matérias | Página 1

10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira
29/04/2024 Veja as respostas do vereador Colombo
26/04/2024 Veja as respostas do vereador Awada
03/04/2024 Últimas respostas que Bigucci jamais daria
28/03/2024 Veja outras três respostas que Bigucci jamais daria
26/03/2024 Quatro novas respostas que Bigucci jamais daria
22/03/2024 Mais três respostas que Bigucci jamais daria
21/03/2024 Terceira resposta que Bigucci jamais daria
20/03/2024 Segunda resposta que Bigucci jamais daria
19/03/2024 Primeira resposta que Bigucci jamais daria
15/03/2024 Veja todas as respostas do vereador Ricardo Alvarez
28/02/2024 Veja todas a respostas do candidato Eduardo Leite
23/02/2024 Veja todas as respostas do regionalista Fausto Cestari
08/02/2024 Veja as 13 respostas do Coronel Edson Sardano
10/04/2023 44 meses depois, decidimos responder por Paulinho Serra
10/06/2021 Conheça todas as respostas omitidas por Paulinho Serra (6)
09/06/2021 Conheça todas as respostas omitidas por Paulinho Serra (5)
08/06/2021 Conheça todas as respostas omitidas por Paulinho Serra (4)
07/06/2021 Conheça todas as respostas omitidas por Paulinho Serra (3)