Administração Pública

Haddad, não Marinho, eis modelo
de gestor público para a região

DANIEL LIMA - 12/12/2013

Como a política nacional é o que todo mundo sabe, aquele algo que se encontra em banheiro público, pode ser que o futuro seja mais risonho a Luiz Marinho do que a Fernando Haddad, mas não há termos de comparação entre o prefeito de São Bernardo e o prefeito da Capital. Uma longa entrevista na edição de hoje do jornal Valor Econômico e uma ainda mais longa entrevista ao portal UOL, da Folha de S. Paulo, mostram a distância a separá-los.


 


Fernando Haddad, sob fogo cruzado na Capital porque fere interesses conservadores consolidados, expressa a vontade de maioria esclarecida mas não prevalecente na democracia do voto. Luiz Marinho é o passado formalizado, um passado sob pressão porque o presente exige respostas límpidas, sem sentimento de culpa.


 


Não pretendo meter-me em detalhes sobre a íntegra das duas entrevistas, porque a medida exigiria muito espaço, muito esforço, muito tempo e muito o tudo o mais. Prefiro posicionar-me apenas conceitualmente, com alguns fragmentos de exemplos, se necessário.


 


Os dois prefeitos estão em polos distintos também por conta da abordagem a que foram submetidos: o titular da Capital falou concentradamente sobre a gestão iniciada em janeiro; já Luiz Marinho foi instado a falar preponderantemente sobre política nacional, sindicalismo e temários circunvizinhos.


 


Marinho repassa aos leitores ares de arrogância, a ponto de dizer como disse que serviu de conselheiro a Fernando Haddad, instruindo-o sobre a melhor maneira de administrar um Município. Como se após cinco temporadas em São Bernardo possa servir de orientador. E como se o passado de sindicalista e de ministro de Estado protegido do presidente Lula da Silva fossem prova de excelência.


 


Mexendo em vespeiros


 


O prazer de acompanhar cada linha impressa do Valor Econômico com as respostas de Fernando Haddad é proporcional ao sacrifício de consumir a megaentrevista de Luiz Marinho ao UOL. E olhem que adoro leitura política. Longe de mim acreditar que a gestão Fernando Haddad caminhará de forma intocável em direção completamente distinta das forças de pressão dos agentes políticos e econômicos tradicionais que sequestraram a agenda pública e transformaram São Paulo na Capital mais caótica das regiões metropolitanas do País. Um título bastante competitivo porque a concorrência é imensa.


 


O que me satisfaz em Fernando Haddad é a coragem de mexer em alguns vespeiros e de enfrentar também a resistência de gente que, por exemplo, não cansa de proclamar os ganhos imobiliários dos últimos anos mas que, em contraste, não aceita uma evolução mesmo que mais modesta dos valores reajustados do IPTU. Ou de gente que seletivamente condena os valores reajustados sem levar em conta a imensidão de moradores da Capital isentos desse imposto.


 


Muito diferente de Luiz Marinho, que faz um dos governos mais conservadores desta Província, acomodando-se em busca de parcerias com espectros sociais e econômicos que tanto condenava. Houvesse a exposição midiática da Capital, sobretudo das emissoras de TV, Luiz Marinho há muito teria caído em desgraça porque não tem arcabouço intelectual e preparo psicológico para suportar pressões implícitas ao cargo que exerce.


 


Luiz Marinho tem todos os vícios declaratórios dos velhos caciques políticos que a sociedade brasileira ainda não baniu de vez porque não se joga facilmente na lata do lixo esse tipo de deformação histórica. Fernando Haddad não dá voltas ao mundo para dizer o que tem a dizer, sobretudo em defesa de um plano de governo que não se deixa impressionar pelas vozes nem sempre isentas das ruas e muito menos pelo entorno manipulador de decisões em proveito de setores mais organizados. O chega-pra-lá no mercado imobiliário, ao colocar na linha de frente um Controlador-Geral com carta branca, certamente será reconhecido pela sociedade, mesmo se admitindo a possibilidade de que a sociedade é refratária à quebra de referenciais esculhambadores do futuro.


 


Muitas vantagens


 


Entre as vantagens de Fernando Haddad sobre Luiz Marinho está a quase virgindade do gestor público, cujo passado não contamina o presente. Já o prefeito de São Bernardo, ex-sindicalista, sofre terrivelmente ante questionamentos que o remetam a ações pretéritas, como os movimentos grevistas, por exemplo.


 


A maior vantagem entre todas parece ser a disposição de Fernando Haddad acabar com boa parte do estoque de imundícies no relacionamento entre o Poder Público e os agentes privados que se locupletam dos cofres municipais. Já Luiz Marinho não deu uma prova sequer, até agora, de que escolheu outro roteiro senão a acomodação e o compadrio.


 


A situação do prefeito de São Bernardo piora ainda mais ante aqueles que tinham como expectativa uma administração inovadora quando se constata que à frente do Clube dos Prefeitos é incapaz de exercer a liderança política tão proclamada para promover iniciativas restauradoras. Como, por exemplo, uma completa reorganização do sistema municipal de transporte público e uma rigorosa faxina nos escaninhos de uso e ocupação do solo.


 


Marinho é um vendedor de ilusões a desfraldar convenientemente a bandeira da mobilidade urbana enquanto uma das forças que se contrapõem às medidas, no caso a concentração de lançamentos imobiliários em áreas privilegiadas, está completamente à vontade para deitar e rolar. Marinho transmite a ideia de que o interlocutor é um estúpido a engolir sofismas, manipulações verbais e outros truques de palanque. Haddad sugere um educador inquieto com as condições cognitivas e culturais do interlocutor em traduzir uma linguagem direta, reta.


 


Marinho, em suma, é um político tradicional, com todas as vantagens dos políticos tradicionais porque conhece o ritmo das ondas nas quais garantirá braçadas. Haddad é um agente público que ainda não se deu conta de que, exatamente por não ser agente político, poderá ser defenestrado num País hipócrita que cobra tanto por novos tempos mas adora flertar com o passado que continua presente.


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