Caso Celso Daniel

Caso Celso Daniel: delegado Tuma
Júnior comete montanha de erros

DANIEL LIMA - 06/01/2014

A partir de amanhã, terça-feira, vou destrinchar o longo capítulo do livro do delegado Romeu Tuma Junior que trata do caso Celso Daniel. Há uma montanha de equívocos repassados em forma de textos ao jornalista Claudio Tognolli na obra que integra o “Assassinato de Reputações”. O resumo da ópera após dar prioridade, por motivos mais que óbvios, àquelas 50 páginas entre 550 é que não tenho disposição de ler os demais temas. Falta consistência à versão de Tuminha sobre a morte do prefeito de Santo André – e isso pode configurar metástase. E olhem que estou sendo generoso, porque a narrativa mereceria avaliação mais contundente. Romeu Tuma Junior atira para todos os lados com a pontaria supostamente certeira de alguém com um rifle no braço direito e uma garrafa de cachaça pela metade no esquerdo.

 

Escreverei sobre as versões de Romeu Tuma Junior porque mergulhei profundamente no caso Celso Daniel. E tenho larga vantagem sobre os demais jornalistas, além da persistência e da continuidade na cobertura do caso: não tive a me guiar, quanto menos a me encabrestar, qualquer alinhamento ideológico, político e partidário.

 

Não fui obrigado a omitir o que não interessava à pretensa configuração do crime como ação encomendada. Tampouco me submeti a pontos que me forçassem à constatação de que tudo não passou de crime de ocasião. Quem se alinhou à tese da força-tarefa do Ministério Público de que Celso Daniel foi abatido por conta dos escândalos administrativos o fez com tamanha sofreguidão que não houve obstáculo a interpor os riscos implícitos na empreitada.

 

Li aquelas 50 páginas narradas pelo delegado Tuma Júnior ao jornalista Claudio Tognolli durante os primeiros dias das férias de duas semanas, das quais retorno hoje. Não foram nem duas horas de leitura atenta, caneta esferográfica sempre pronta a sublinhar os principais trechos, mania que cultivo porque toda leitura implica em responsabilidade de compreensão detalhadíssima. 

 

Leitura atentíssima

 

Na verdade, li inicialmente duas vezes aquelas páginas, uma seguida da outra.  A primeira, uma leitura mais solta, atenta mas solta. A segunda mais crítica, mais analítica, mais usuária da caneta preta que jamais abandono. Conclusão final: Tuminha chega a ser patético na sanha de tentar incriminar o PT, ao vincular o assassinato à gestão de Celso Daniel. Nada surpreendente, porque, como informante confesso das ações do Ministério Público, Tuminha espertamente vinculou o crime aos descaminhos financeiros e administrativos da Administração Celso Daniel. Não havia tática mais factível para juntar o possível com o improvável. E assim se fez com todo o requinte de espetacularização, numa das investigações mais ruidosas da história criminológica do País.

 

Quem conhece pouco do caso Celso Daniel, caso da maioria dos leitores,  certamente foi e está sendo levado a acreditar nas “revelações” de Tuminha. Esses incautos não sabem o risco que correm porque estão rezando por Genésio, não por Jesus. Há tantas incoerências, tantas imprecisões, tantas invencionices, tantas maluquices, que eventuais porções verdadeiras e legítimas da narrativa daquele extenso capítulo acabam asfixiadas, sem sobrevida.

 

Como o capítulo do caso Celso Daniel é uma agressão aos fatos investigados à exaustão por forças-tarefas policiais, não tive dúvidas em tomar uma providência imediata: desconsiderei os demais escândalos daquela obra de mais de 500 páginas porque não me senti minimamente seguro de que consumiria informações que não pudessem me causar estragos. Talvez o livro de Romeu Tuma Júnior tenha o mesmo significado de uma laranja bichada: pode estar igualmente deteriorada em outras áreas e, portanto, mereceria a lata de lixo. 

 

Fico a projetar a reação de leitores engajados e visceralmente antipetistas ao lerem este texto e, mais que isso, ao consumirem os contrapontos que apresentarei em várias edições deste CapitalSocial. Não faltarão impropérios, acusações, baixarias. São pobres coitados maltratados por manipuladores de informações. Desconheço um jornalista neste País que tenha mais condições de escrever sobre o caso Celso Daniel. Basta uma pesquisa nesta revista digital para compreender uma realidade pouco usual na mídia nacional: não tenho compromisso algum com o PT e também com seus opositores. Todos são especializados em transformar jornalismo em Fla-Flu senão idiota porque estúpido. As torcidas organizadas que giram em torno desse Fla-Flu agressor do bom jornalismo jamais me amedrontaram.

 

Pontos inconsistentes

 

É com a liberdade de expressão que poucos podem desfraldar que me meterei nas páginas das memórias mais que contraditórias, porque embaralhadas, confusas, de Romeu Tuma Júnior. De imediato, listei 25 pontos que vão instrumentalizar o combate àquelas barbeiragens. Há de tudo na narrativa do delegado, desde informações ingênuas e despropositadas até acusações sem base técnica, além de manipulação dos fatos.

 

O que me intriga no capítulo de Celso Daniel é a constatação de que não tenha havido preocupação com o nexo das narrativas do delegado Tuminha. Afinal, há incongruências tão estonteantes que custa acreditar que se tenha dado ao produto editorial os cuidados mínimos de segurança informativa. Aquelas páginas sobre a morte do então prefeito de Santo André foram descuidadamente aprovadas e, mesmo que o restante do livro seja uma sequência de verdades invioláveis, comprometeram demais o produto final.

 

Não imaginava que voltaria a esmiuçar o caso Celso Daniel. Entretanto, o que fazer se o delegado decidiu me oferecer grande oportunidade de resgatar boa parte de um intenso trabalho jornalístico que realizei contra tudo e contra todos que digladiaram e ainda digladiam em defesa dos respectivos pontos de vista submetidos a violações ideológicas, partidárias e, por que não, econômicas?

 

Meti-me no caso Celso Daniel entre outros motivos porque aflorou a indignação de ver tantas bobagens veiculadas na chamada grande imprensa. Espertamente, Romeu Tuma Júnior mobiliza conceitos mais que suspeitos de isenção que a função profissional lhe permitiria. Até parece que não trafegou erraticamente por caminhos à direita e à esquerda do espectro político-partidário, do qual se tornou refém e algoz num paralelismo que, no caso Celso Daniel, o torna completamente estéril como fonte de credibilidade.

 

Paradoxalmente, "Assassinato de Reputações" é um título-sentença que expressa com precisão o escopo que levou a narrativa do delegado Romeu Tuma Júnior a ganhar a forma de bumerangue. 



Leia mais matérias desta seção: Caso Celso Daniel

Total de 193 matérias | Página 1

11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP
21/02/2022 Conheça 43 personagens de um documentário histórico
18/02/2022 Silêncio de Sérgio Gomes em 2002 garante Lula presidente
15/02/2022 Irmãos colaboraram demais para estragos do assassinato
14/02/2022 MP desmente MP: Crime de Encomenda é insustentável
11/02/2022 Finalmente acaba a farra oportunista de sete mortes
08/02/2022 Previsão: jogo eletrizante no mata-mata da Globoplay
07/02/2022 Crime de Encomenda é casa que cai a cada novo episódio
04/02/2022 Bomba na Globoplay: Gilberto Carvalho admite Caixa Dois
02/02/2022 Série da Globoplay começa a revelar equívocos históricos
01/02/2022 Crime Comum em vantagem no mata-mata da Globoplay
31/01/2022 CapitalSocial torna prioridade análise da série da Globoplay
28/01/2022 Já se ouve a marcha fúnebre de uma narrativa fraudulenta
24/01/2022 Globoplay vai exibir segredo de Sérgio Gomes que MP queria?
20/01/2022 Documentário histórico põe fim ao totalitarismo midiático
14/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime
13/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (4)
12/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (3)
11/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (2)