Política

Morando pode beneficiar-se do
acordo Manente-Luiz Fernando

DANIEL LIMA - 09/01/2014

O deputado estadual Orlando Morando poderá contabilizar dupla vantagem nas eleições deste ano, quando disputará novo mandato à Assembleia Legislativa. Os presentes seriam preparados, embalados e entregues por dois adversários do tucano, o também deputado estadual Alex Manente, do PPS, e o neopetista Luiz Fernando Teixeira, empresário ligadíssimo ao prefeito Luiz Marinho e presidente do São Bernardo Futebol Clube. Manente está de olho no dinheiro farto que regará a candidatura de Luiz Fernando Teixeira à Assembleia paulista. Já o dirigente esportivo mira com olhos ávidos parte da classe média de São Bernardo que vota em Manente. A outra parte vota em Morando.

Manente e Luiz Fernando já teriam fechado um acordo de não agressão e, mais que isso, de colaboração intramuros, às escondidas. Manente, agora candidato a deputado federal, jogaria no mesmo time de Luiz Fernando Teixeira. A aproximação não seria novidade para Manente, que, nas eleições de 2008, perfilou com Luiz Marinho num segundo turno vencedor ante o também finalista Orlando Morando, apoiado pelo então prefeito William Dib. Nas eleições seguintes, Manente disputou o Paço com Marinho apenas por disputar, para marcar presença, porque a máquina pública montada pelo PT desestimulava qualquer competição mais séria. Com isso, a disputa se encerrou no primeiro turno, quando Manente contou com 30% dos votos válidos. Orlando Morando preferiu não gastar combustível à toa.

Manente e Morando são adversários políticos por conta de compartilharem a mesma perspectiva: são jovens e acreditam que mais dia menos dia chegará a hora de a onça beber água. Quem sabe na próxima disputa em São Bernardo, quando Luiz Marinho estará fora de cogitação porque já esgotou o estoque legal de reeleição. Manente e Morando são filhos diletos da classe média de São Bernardo, independentemente de inserções populares. Luiz Fernando Teixeira se sente rejeitado pelos mais abastados ou pelo mais escorchados por impostos, conforme a visão ideológica da representação social que ocupa os melhores bairros da cidade.

A dificuldade de Alex Manente é entender que, ao se aproximar do PT corre o risco de ter pretensões futuras abortadas, porque contribuiria, por exemplo, para fortalecer a eventual candidatura de Luiz Fernando Teixeira à sucessão de Luiz Marinho. Não falta quem explique a aproximação entre Manente e o petista nas próximas eleições proporcionais como a tentativa de viabilizar a candidatura do representante do PPS como cabeça de chapa à Prefeitura, tendo Luiz Fernando como vice. É claro que poucos levam a sério essa projeção. Somente em circunstâncias muito especiais o PT abriria mão de concorrer à Prefeitura provavelmente mais simbólica da agremiação no País. Manente, dizem os mais céticos, caiu no conto de apostar no futuro tendo às mãos fichas com prazo de validade sob suspeição.

Vantagens solares

A dupla vantagem que se oferece a Orlando Morando é tão clara quanto um dia ensolarado. Primeiro, boa parcela dos eleitores de classe média de São Bernardo que vota em Alex Manente e que não tem o menor interesse em votar em qualquer candidato do PT, desembarcaria em sua candidatura. Segundo, Orlando Morando poderia alargar esse mesmo eleitorado nas eleições municipais de 2016, acrescentando-o à parcela que já o acompanha há tempos. Ou seja, Alex Manente flexibilizaria a fidelidade sólida de eleitores que, quando da disputa na mesma raia de Orlando Morando, como candidato a deputado estadual, optaram por segui-lo.

Traduzindo tudo isso em termos mais pedagógicos: Manente recomendaria votos de seu eleitorado em favor de Luiz Fernando Teixeira mas não seria ouvido em larga escala porque o público que o acompanha não tem o menor interesse em apoiar um petista. Diante dessa potencial infidelidade ou coerência ideológica e tendo-se à mão um concorrente à Assembleia Paulista com histórico em São Bernardo, caso de Orlando Morando, o desvio de rota do eleitorado de Manente seria compulsório.

Até porque, não faltará guerra de bastidores a denunciar o acordo que uniria Manente e Luiz Fernando. O voto de cabresto na classe média é muito menos provável do que entre os populares. Luiz Fernando Teixeira, por sua vez, recorre a Manente porque sabe que o futebol do São Bernardo não goza de simpatia da classe média. Muito pelo contrário: Luiz Fernando Teixeira encontra mais barreiras na classe média por conta dos excessos partidários no futebol. A preferência original pelos pobres está custando caro também no próprio campo esportivo, porque ao São Bernardo Futebol Clube falta institucionalidade.

Orelhas enormes

Feita essa exposição, infere-se que o alquimista introdutor da aproximação entre Manente e Luiz Fernando Teixeira provavelmente é um agente infiltrado do estafe politico-eleitoral de Orlando Morando. Não haveria solução mais viável para adensar os votos do tucano senão arrebanhando eleitores desiludidos com o outro jovem que nas últimas disputas sempre constou das urnas eletrônicas como alternativa à classe média. Se não houver no centro de decisões de Manente e de Teixeira algum camicase que se autoproclame gênio, a sugestão que restaria seria simples: providenciem o quanto antes um diploma aos dois aliados, desde que o formato não seja outro senão orelhas estilizadas de um dos exemplares da família dos equinos.

É muito provável que não faltarão claques a desconsiderar o acordo de bastidores à montagem da dupla Manente-LFT, mas há mais que indícios, há constatações que asseguram esse encaminhamento. É claro que não faltarão jogos de cena, principalmente de Alex Manente. O deputado estadual deverá, aqui e ali, estocar o suposto oponente petista, mas, na calada da noite, quando todos os gatos são pardos, a história será sempre outra. Foi assim, aliás, quando, em 2012, fomos os primeiros a revelar os acertos entre os petistas liderados por Luiz Fernando Teixeira e o então vereador Paulo Pinheiro, em São Caetano. Não convinha a ambas as partes revelarem a comunhão de interesses, porque o eleitorado de São Caetano é visceralmente antipetista.

O tempo provou que Paulo Pinheiro foi turbinado por Luiz Fernando Teixeira. Tanto que, ainda outro dia, o prefeito peemedebista anunciou publicamente que chefiará a campanha do petista a deputado estadual em São Caetano. Dizem que além de confissão de um crime de lesa-confiança contra o eleitorado de São Caetano, com repercussões nas próximas eleições municipais, Paulo Pinheiro assinou uma sentença de morte local do presidente do São Bernardo Futebol Clube na medida em que o vínculo que mantém com o PT for massificado.

Não está fora de cogitação que o desmascaramento da aproximação envergonhada entre Manente e Luiz Fernando mude a estratégia dos dois candidatos. Algum iluminado talvez venha a ser ouvido com mais atenção e coloque as pedras nos devidos lugares. Paulo Pinheiro seria a referência de autofagia político-eleitoral.