Administração Pública

Marinho garante que caças vão
gerar cinco mil empregos. Será?

DANIEL LIMA - 29/01/2014

Vou registrar no acervo do Observatório de Promessas e Lorotas, que envolve todos os prefeitos da Província do Grande ABC, a projeção do prefeito de São Bernardo sobre o contingente de empregos diretos da fábrica de peças da empresa que participará do processo de industrialização do caça Gripen. Luiz Marinho disse ao jornal ABCD Maior que cinco mil postos de trabalho serão gerados pelo investimento.


 


Demorou para o petista pronunciar-se sobre a fábrica que a Saab pretende construir numa extensa área entre a Anchieta, a Imigrantes e o Rodoanel. Essa é a contrapartida mais evidente da multinacional pelos serviços prestados diretamente por Luiz Marinho em lobby mais que explícito para seduzir a cúpula do governo federal e os militares na parceria com a empresa sueca. Um multilobby, para ser mais preciso. Marinho atacou em todas as direções possíveis, e todas as direções possíveis reuniam também a norte-americano Boeing como a francesa Daussalt.


 


Estou em dúvida se instalo a nova proposta de Luiz Marinho na categoria de promessa ou de lorota. Estou mais propenso a dar-lhe um voto de confiança não necessariamente sobre o total de empregos a gerar, mas sobre a fábrica a fabricar. Talvez registre mesmo como promessa, que, como se sabe, pode ser viabilizada ou não. Lorota não passa mesmo de pasmaceira que só deixaria de ser pasmaceira se uma tremenda loucura se consumasse. Caso do Aeroportozão nos mananciais.


 


Estava estranhando a discrição de Luiz Marinho nos desdobramentos do anúncio oficial de que os 36 caças supersônicos Gripen NG serão fabricados no Brasil pela Saab. Estava encafifado com certo distanciamento midiático do prefeito. É claro que existe uma explicação: como lhe competiu na distribuição de oferendas do governo federal o quinhão das negociações para seduzir uma das grandes empresas do setor aeroespacial a fazer pouso em São Bernardo, em compensação à desistência mais que ajuizada da disputa partidária pelo governo paulista, Luiz Marinho preferiu o silêncio do comedimento ao alarmismo da vitória.


 


Determinação pela causa


 


Agora que passou o impacto da divulgação do contrato entre brasileiros e suecos, não dá mais para disfarçar. Marinho vai tirar o máximo proveito da iniciativa que contou com um assessor discretíssimo, quando não suspeitíssimo, no caso o advogado Edson Assarias, eminência mais que parda nas relações extracampo do prefeito petista como  especialista, também, em nuances do mercado imobiliário juntamente com um dos secretários favoritos do prefeito, da área Jurídica.


 


Se resolver propagandear para valer a chegada dos caças Gripen Luiz Marinho não cometeria nenhum exagero, a bem da verdade e retirando-se de qualquer análise o entorno pouco transparente das negociações, bem como os desdobramentos mais que nebulosos. Luiz Marinho atuou com a determinação dos grandes profissionais do convencimento. É verdade que não ultrapassou os limites do esperado, porque contava com o pistolão de relacionamentos do primeiro-amigo e ex-presidente Lula da Silva e, também, com certas intimidades com a direção da Scania, antiga acionista do conglomerado que reunia também a Saab igualmente sueca e com sede em São Bernardo.


 


O mérito político e administrativo de Luiz Marinho na consumação do contrato com a Saab, assim como o teria se qualquer uma das outras opções de parceria fosse anunciada, é algo que se negado mancharia a realidade dos fatos.


 


A habilidade de negociador que Luiz Marinho sempre exercitou em ambientes fechados, de audiência restrita, é tão inegável como inversamente proporcional ao que oferece de desânimo ao público consumidor de informação como prefeito.


 


Marinho só concede entrevistas em que tratados bajulativos sejam respeitados. Nada que o predisponha à saia justa passaria pelo crivo de aprovação a qualquer encontro com jornalista. Marinho jamais teria a coragem de enfrentar este jornalista numa espécie de “Entrevista Indesejada” ao vivo e em cores, porque lhe faltariam respostas. Mas antes das respostas, correria o risco de perder-se emocionalmente num embate democrático.


 


A primeira indagação que faria a Luiz Marinho – e são tantas do mesmo quilate -- – versaria sobre o engavetamento do processo e a troca do Corregedor do Município que assegurou a este jornalista deflagrar todas as providências para punir os responsáveis pela falcatrua cometida pela MBigucci e parceiros de safadezas no arremate de área pública onde está sendo construído o empreendimento Marco Zero. Mais que isso, juntamente com o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, envolvidíssimo nas denúncias de propinas do ISS do mercado imobiliário na Capital, virou prefaciador do livro de Milton Bigucci que, vejam só, trata de responsabilidade social.


 


Provavelmente a entrevista, se concedida, terminaria aí. Marinho detesta que alguém o coloque contra a parede. E o que não falta em perspectiva numa entrevista com Luiz Marinho é algo que se assemelharia não à parede comum, mas ao paredão de reality show.


 


Hollande, nem pensar


 


Se em condições normais de tempo e temperatura Luiz Marinho é arredio a tudo que lhe inspire desconfiança de que o interlocutor não é exatamente um servo a cumprir seus desígnios, imaginem então se algum dia ele cometeria a loucura de seguir o exemplo do presidente da França, François Hollande que, no dia seguinte às manchetes que o denunciaram por infidelidade conjugal, reuniu-se com mais de 500 jornalistas em Paris para expor as razões de convergir governo à centro-direita, embora tenha vencido nas urnas com discurso socialista. É claro que sobraram perguntas sobre as estripulias sexuais, das quais Hollande não fugiu, respondendo com elegância.


 


O Luiz Marinho que aparece agora para anunciar cinco mil empregos diretos a bordo do caça sueco é um Luiz Marinho com as digitais de mais de cinco anos de administração: superlativo, grandiloquente, pouco preocupado com o dia de amanhã em caso de questionamento, porque é irmão político e sindical de um mito e como mito provavelmente se sente.


 


A fábrica da Saab em São Bernardo vai produzir aeropeças sem valor agregado porque o sonho de Marinho transformar a cidade numa nova capita do setor, anunciado lá atrás, não passou de blefe. Não se altera a rota de investimentos e a cultura industrial num passe de mágica. Estará na Embraer, em São José dos Campos, o coração, a alma e o orgulho maior dos resultados dessa negociação.


 


É louvável que Luiz Marinho forneça alguma indicação de que está preocupadíssimo com o fato de a Província do Grande ABC constar da marca do pênalti de investimentos. A indústria automotiva  emite mais que sinais, dá amplas provas de que não quer saber deste território além da plantas já instaladas.


 


Entretanto, a inquietação não autoriza o prefeito a distribuir ilusões. Só é possível acreditar na projeção de empregos de Luiz Marinho com estudos aprofundados. Bravatas numéricas alimentam especulações, inspiram sonhos que viram pesadelos, tornam-se bumerangues.


 


Talvez a única certeza além de que teremos caças suecos, é que a área da planta industrial já esteja mais que escolhida e pronta para receber investimentos. A Administração Luiz Marinho é especialista em mercado imobiliário. Milton Bigucci não me deixa mentir. Tampouco os obscuros parceiros que tentam engabelar instâncias federais a permitir a construção do Aeroportozão.


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