Caso Celso Daniel

Tuminha do Roda Viva supera a
decepção do Tuminha do livro

DANIEL LIMA - 04/02/2014

Interrompi nesta semana a análise do capítulo do caso Celso Daniel do livro “Assassinato de Reputações” do ex-delegado Romeu Tuma Júnior porque fui informado de que ele participaria terça-feira, ontem, do programa Roda Viva, da TV Cultura. Preferi deixar para os próximos dias mais uma rodada de aniquilamento das bobagens impressas pelo ex-secretário Nacional de Justiça do governo Lula da Silva. Entendia que a presença televisiva do narrador daquela obra poderia alterar as avaliações daquelas 50 páginas. Fiz bem, porque Tuminha deve agradecer ao jornalista Claudio Tognolli, que se prestou a ouvi-lo e a reproduzir as declarações em forma impressa, já que ao vivo e em cores, sem edição, sem cortes, Tuminha é muito pior.


 


Não pretendo entrar em detalhes sobre o desempenho de Tuminha no Roda Viva porque respeito a paciência dos leitores. O ex-deputado estadual e eventualmente candidato à Assembleia Legislativa de São Paulo, por conta da repercussão da obra, é um entrevistado complexo e contraditório, é uma espécie de curva sinuosa de terra batida, quando não escorregadia, quando se espera, pela gravidade dos assuntos de que trata uma autoestrada sem qualquer tipo de barreira. 


 


Tuminha não tem foco, não tem fluência verbal construtiva que não seja ambígua, não tolera apartes, está sempre disposto a fornecer resposta complementar imprecisas aos buracos negros declaratórios. Faltou pouco para tomar o lugar de âncora do programa, o experiente mas excessivamente condescendente jornalista Augusto Nunes, confesso defensor da tese de crime petista nas páginas virtuais de Veja.


 


Repito sobre o “Assassinato de Reputações” de Romeu Tuma Júnior o que escrevi anteriormente: como o caso Celso Daniel, que conheço profundamente, é um amontado de equívocos e de especulações sem lastro, não tive coragem de ler os demais capítulos, alguns sobre os quais Tuminha tentou discorrer ontem à noite. É impossível acreditar que o núcleo de denúncias de Romeu Tuma Júnior seja honestamente digerível e metabolizado a ponto de ganhar credibilidade e supere a desconfiança desclassificatória que o caso Celso Daniel lhe impõe.


 


Fora de sincronismo


 


Ficou evidente, apesar da verborragia excessivamente abrangente, o direcionamento ou a tentativa de direcionamento da entrevista ao caso Celso Daniel. Nenhum tema abordado pelo delegado é tão expressivamente popular. Há elementos criminais de sobra que alimentam a centrífuga de interesses partidários, políticos e ideológicos. Não à toa o empresário Sérgio Gomes da Silva foi eleito bode expiatório da vez, numa operação de investigação paralela da qual Tuminha avoca o papel de protagonista que, até então, supunha-se ter sido desempenhada pela força-tarefa do Ministério Público Estadual em Santo André, criada justamente para embananar o jogo mais que resolvido de assassinato comum constatado por três investigações policiais diferentes.


 



Tuminha pode ter sido convincente a telespectadores sedentos de sangue ideológico e que dispensam nexos explicativos, assim como eventualmente tem sido a leitores. Entretanto, quem conhece a fundo o caso Celso Daniel sequer admite a ideia de que pontos nucleares que determinaram a morte do então prefeito de Santo André estejam, na obra do delegado, sincronizados com a verdade dos fatos.


 


Na entrevista de ontem Tuminha discorreu pouco e entrecortadamente sobre o crime, tantas foram as demandas dos entrevistadores e, principalmente, porque, insisto, o ex-delegado sai com facilidade extraordinária do objetivo focal de cada pergunta. Talvez seja essa uma das características de Tuminha e, por isso mesmo, ajude a explicar por que não transmite a segurança de que suas informações, independentemente de provas, têm credibilidade.


 


Sorte de Tuminha, que passou o tempo todo discorrendo sobre ética na gestão pública, é que a banca de entrevistadores não contavam com um jornalista sequer com entranhamento sobre o caso Celso Daniel, embora não faltassem profissionais que o tenham colocado na parede de esclarecimentos frustrantes sobre outras questões.


 


Tuminha foi contraditório, reticente, teatral, manipulador, autoritário e tudo o mais. Mas nada o impede de ter alcançado um espaço de celebridade com agenda lotadíssima para divulgar uma obra que, sempre condicionando meu parecer ao capítulo do caso Celso Daniel, é um contrassenso a partir do próprio título.


 


“Assassinato de reputações” é uma tentativa de Tuminha justificar seu afastamento do governo petista, situação sobre a qual não faço juízo de valor, mas também é uma agressão a personagens que recheiam aquelas 55 páginas da morte do prefeito de Santo André e a eventuais outros integrantes de muitos outros capítulos.


 


Leiam também:


 


Tortura e troca de roupa, novas bobagens do delegado Tuminha


Leia mais matérias desta seção: Caso Celso Daniel

Total de 193 matérias | Página 1

11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP
21/02/2022 Conheça 43 personagens de um documentário histórico
18/02/2022 Silêncio de Sérgio Gomes em 2002 garante Lula presidente
15/02/2022 Irmãos colaboraram demais para estragos do assassinato
14/02/2022 MP desmente MP: Crime de Encomenda é insustentável
11/02/2022 Finalmente acaba a farra oportunista de sete mortes
08/02/2022 Previsão: jogo eletrizante no mata-mata da Globoplay
07/02/2022 Crime de Encomenda é casa que cai a cada novo episódio
04/02/2022 Bomba na Globoplay: Gilberto Carvalho admite Caixa Dois
02/02/2022 Série da Globoplay começa a revelar equívocos históricos
01/02/2022 Crime Comum em vantagem no mata-mata da Globoplay
31/01/2022 CapitalSocial torna prioridade análise da série da Globoplay
28/01/2022 Já se ouve a marcha fúnebre de uma narrativa fraudulenta
24/01/2022 Globoplay vai exibir segredo de Sérgio Gomes que MP queria?
20/01/2022 Documentário histórico põe fim ao totalitarismo midiático
14/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime
13/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (4)
12/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (3)
11/01/2022 Entenda como e porque Lula e Alckmin fazem parte do crime (2)