Administração Pública

Santo André é Capital Econômica
só nos delírios do prefeito Grana

DANIEL LIMA - 31/03/2014

Somente nos delírios triunfalistas do prefeito Carlos Grana Santo André é a Capital Econômica da região. O sempre simpático e agradável Grana fez discurso de quem não vive a realidade do Município ainda outro dia ao Diário do Grande ABC, ao comemorar a chegada de mais uma unidade de varejo de grande rede nacional. Grana é mais uma vítima da febre de provincianismo que costuma marcar os festejos de aniversário de fundação da cidade.


 


Antepôs o petista o que se espera tristemente para os próximos dias: um corolário de informações varejistas que tentarão fazer crer aos pobres leitores ingênuos que o antigo viveiro industrial, como ainda expressa o saudoso hino do Município, segue firme e forte na liderança econômica regional. Como se liderança regional em algum ponto fosse importante, tratando-se como se trata de uma geoeconomia que perdeu o rumo e o prumo, além da vergonha, é claro.


 


Apenas a titulo de reflexão provocativa, não mais que isso, e diria que isso já é o bastante para ferir o espírito agressivamente festivo que se anuncia para engabelar o distinto público, apenas a título reflexivo vou tentar emoldurar particularmente Santo André no ambiente regional, movido pela frase de Carlos Grana ao colocar o condomínio do qual suspostamente é síndico como campeão econômico.


 


Afinal de contas, Capital do que seria Santo André nesta segunda década de um novo século que parece ainda não ter sido descoberto pelos agentes públicos e privados da região porque insistem em conjecturas que estão todas no passado?


 


Vamos tentar decifrar a Santo André tão efusiva e demagogicamente entoada pelo prefeito Carlos Grana? Só espero que depois do que segue abaixo não apareça nenhum vereador mal intencionado a propor a cassação do título de “Cidadão Andreense” que inadvertidamente aquele Legislativo outorgou a este jornalista em 2000.


 


1. Capital Econômica – Nem pensar, porque foi apeada do topo da lista já faz um bocado de tempo. Tudo começou com a chegada do traçado da Rodovia Anchieta e se completou com a indústria automotiva, a deslocar o eixo em direção a São Bernardo. Os inúmeros dados a alguns cliques dos leitores desta revista digital demonstram o quanto Santo André se esvaiu economicamente ao longo dos anos. Desde a chegada do Plano Real, em 1994, foi o Município que menos avançou no PIB entre os integrantes do G-20, o grupo de 20 endereços mais importantes do Estado de São Paulo, exceto a Capital. Antes disso, entre 1970 e 1995, foi o Município brasileiro que mais rebaixamento sofreu no repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), indicador da temperatura do PIB Industrial.


 


2. Capital Cultural – Santo André também parou no tempo e no espaço. A efervescência cultural dos anos 1960 e 1970 cedeu lugar a muita gente que se dispersou, que foi embora, que ficou e não participa de qualquer movimento extracorporação em busca de ações que recoloquem a política e a economia nos eixos. São nichos presos à armadilha monotemática. Com restrições ajuizadas, Capital Cultural da região é Diadema, de movimentos populares incentivados pelas administrações petistas. Pena que tenha havido forte refluxo nas últimas temporadas porque perdulários gastos públicos solaparam os insumos culturais.


 


3. Capital Esportiva – Desde que a Pirelli se foi com o gigantismo de investimentos esportivos compartilhados com uma Prefeitura que nadava em dinheiro orçamentário de uma industrialização ainda resistente, Santo André sofreu duros reveses. Tentar atribuir a Santo André algum grau de competitividade na disputa pelo cetro de Capital Esportiva da região é exagero, quanto mais apostar na ideia. Depois de São Caetano dominar por muitos anos, sempre com o suporte do Poder Público, São Bernardo avançou e assumiu a liderança esportiva da região. Nada, entretanto, que sequer lembre os tempos vitoriosos de Pirelli. Nem poderia ser diferente. Aqueles tempos eram tempos de um profissionalismo incipiente e estes tempos são tempos de um profissionalismo incontido, movido a muito marketing.


 


4. Capital Social – Esqueça qualquer possibilidade de colocar Santo André na ponta em matéria de integração social. O que temos são separatismos explícitos, quando não conflitos iminentes, quando não disfarçados. Santo André é a síntese da Província do Grande ABC, região na qual impera o individualismo, o corporativismo, o politiquismo e o materialismo muitas vezes disfarçadíssimo de proselitismos pretensamente socialistas. Santo André é um nó górdio social entre outras razões porque, desfalcada continuamente no setor industrial, mais de um terço da população economicamente ativa se virar fora da casa territorial para sustentar-se. Basta uma espiadinha no fluxo dos corredores viários, de manhã e no final da tarde, para detectar o índice de vazamento de trabalhadores e executivos.


 


5. Capital Intelectual – Também não teria o menor cabimento imaginar Santo André a ditar o pensamento intelectual regional, entre outras razões porque a própria Província é incapaz de sair da pasmaceira de primarismos analíticos. Primarismos que cada aniversário dos sete municípios que a compõem desnuda com uma sem-cerimônia dilacerante. Fabricam-se lantejoulas de um varejismo que não altera o rumo da história e se omitem os grandes problemas municipais e regionais. Com tanta evasão de cérebros em busca de atividade profissional em outros municípios, principalmente na Capital, seria ingenuidade acreditar que Santo André (e qualquer outro endereço regional) possa ao menos se lançar pretensiosamente ao título de Capital Intelectual. Quem não vive o cotidiano das fronteiras físicas da região perde o contato com a realidade que assalta a todos nos dias de descanso, numa roda-viva que não para, ou melhor, que segue em frente, impunemente.


 


6. Capital de Logística – Nem pensar em tal ideia. Centro geográfico da região, Santo André deu há muito tempo um cavalo de pau no bom senso da acessibilidade como vetor de desenvolvimento econômico. Entregou-se de corpo, alma e, principalmente, bolsos, aos mercadores imobiliários. O Plano Diretor virou letra morta desde que a farra da corrupção da máfia dos fiscais e da máfia da construção civil dominou os escaninhos do Poder Público antes mesmo de o Semasa da Administração Aidan Ravin tornar-se o centro da malandragem. O título de Capital de Logística é uma aberração caso venha ser reivindicado por qualquer município da Província do Grande ABC, mas no caso de Santo André seria também estupidez. A cidade que o prefeito coloca no topo da lista de valoração econômica não passa de armadilha urbana tanto quanto São Bernardo e São Caetano. E quem disse que o Rodoanel Sul nos salvaria, caiu do cavalo.


 


7. Capital da Malandragem – Eis um departamento de mensuração subjetiva que exige muita cautela em qualquer afirmativa, porque a concorrência é grande, grave, poderosa e praticamente impune. Por mais esforços que se façam para dimensionar o tamanho do buraco da fuselagem de ética e de moralidade na corroído estrutura do Poder Público e de instituições e corporações, dificilmente se chegará a uma cifra monetária minimamente confiável. O mercado imobiliário e seus derivativos, ou seja, os controladores do uso e ocupação do solo e os malfeitores dos impostos correlatos, são o centro do poder paralelo que amordaça docemente o prefeito de plantão. Sem contar outras áreas mais que manjadas porque, aqui como no restante das grandes metrópoles, estão sob os desígnios do poder econômico e do poder político, industrializadores de embustes também chamados de gestores públicos. 


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André