Administração Pública

Granismo impõe mobilidade urbana
populista; classe média paga o pato

DANIEL LIMA - 09/05/2014

Não há mais a menor dúvida sobre o perfil da política mais que oportunista da Administração Carlos Grana na área na mobilidade urbana, utilizando-se como bucha de canhão o deslumbramento do jovem secretário e ex-tucano Paulinho Serra: trata-se de iniciativa populista que, a pretexto de favorecer os usuários de ônibus, transforma os integrantes da classe média motorizada em idiotas juramentados. 


 


Mais que isso: mesmo com recuo de medidas impostas sem critério na Rua Carijó, onde comerciantes entraram em guerra contra a faixa exclusiva, nos demais endereços escolhidos apressadamente para dar conta do recado político-eleitoral o que se tem é o caos. Ônibus e veículos de passeio disputam espaços que estão lá há décadas e que, cúmulo da ingenuidade, a administração petista assessorada por um ex-vereador guindado à secretaria, atribui-se poderes de flexibilização física, como se cimento virasse plástico. Nada surpreendente para uma gestão pública que pretendia aterrar parcialmente o Tancão da Morte, reservando dois metros de profundidade à salvação apenas dos grandalhões jogadores de basquetebol e voleibol.


 


Ao pegar carona na decisão do prefeito paulistano Fernando Haddad, pós-manifestações de junho, Carlos Grana esqueceu que Santo André não é dotada de sistema viário que comporte política que favoreça o tráfego de ônibus sem prejudicar intensamente os donos de veículos. Tanto é verdade uma coisa quanto a outra (ou seja, o oportunismo político-administrativo e o encavalamento das ruas) que a Prefeitura petista espera por US$ 250 milhões do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para construir 13 corredores de ônibus na cidade. Os recursos produziriam verdadeiras cirurgias de alargamento viário. Daí a diferença entre corredores e faixas. Corredores são uma dieta rigorosa, quando não uma cirurgia bariátrica. Faixas significam a obesidade disfarçada numa vestimenta de tamanho muito abaixo do confortável. Sobram gorduras por todos os cantos. 


 


O secretário de Mobilidade Urbana, Paulinho Serra, sugeriu numa entrevista ainda outro dia publicada no Diário do Grande ABC que os proprietários de veículos pequenos não perderam espaço para os ônibus com a introdução de faixas exclusivas. Paulinho Serra é um prestidigitador numérico. Utiliza dados que não passaram por aferição independente para tentar justificar que a barafunda é uma miragem no trânsito de Santo André.


 


Desobediência generalizada


 


As faixas exclusivas são persistentemente desobedecidas tanto por motoristas de ônibus como por motoristas de carros de passeio. Não existe entre os infratores vocação incontida ao delito. Eles apenas se defendem de uma insanidade: exceto a Avenida Perimetral, as ruas escolhidas não comportam esse tipo de medida corretiva. São ruas comuns, estreitas. As faixas exclusivas corrompem também a logística de deslocamento dos veículos porque não há forma que não seja transgressiva ante a necessidade de dobrar à direita e à esquerda senão invadir preventivamente aquela demarcação.


 


Disse também Paulinho Serra ao Diário do Grande ABC que o número de notificações de infrações foi reduzido: “Se a gente pegar o gráfico e comparar janeiro com abril, teve queda de mais de 50%”. Paulinho Serra sofisma. Os fiscais municipais são em número escasso. Felizmente, portanto, porque, cada canetada tem o condão de cometimento de uma injustiça fiscal.


 


Não se pode punir o leão porque o leão está solto nas ruas. Pune-se o dono do leão, claro. Paulinho Serra é o dono do leão das faixas exclusivas (e impossíveis de serem respeitadas) em Santo André. Ou se faz de dono do leão, porque o dono do leão mesmo é o prefeito, espertíssimo por sinal porque fica com a multiplicação dos lucros da classe popular que o elegeu enquanto Paulinho Serra fica com o ônus da ingratidão à classe média que sempre o tratou bem.


 


O secretário de Mobilidade Urbana de Santo André infla os indicadores de tal maneira que, houvesse nessas publicações sobre recordes mundiais algo relativo à pasta que dirige, provavelmente seria catapultado à glória da eficiência administrativa. Duvidam? Vejam então o que publicou o Diário do Grande ABC:


 


 Em relação à eficiência, o secretário afirma que as linhas que percorrem a Perimetral e as ruas General Glicério e Siqueira Campos passaram a fazer o trajeto em 61% menos tempo que antes da implantação das faixas. Nas ruas Queirós dos Santos e Luís Pinto Flaquer, a fluidez melhorou 47%, enquanto na Carijó e Dom Pedro I houve redução de 16% no tempo de viagem.


 


Bananosa minimizada


 


A sorte do secretário Paulinho Serra é que a bananosa das imediações das ruas centrais de Santo André atingidas pelo politiquismo popularesco da Administração de Carlos Grana só não é maior porque a economia está a andar de lado. Santo André já contou com uma região central poderosa e, nestes tempos de recuo no consumo, sofre ainda mais as consequências da desindustrialização e da chegada de um setor de serviços sem valor agregado.


 


No mesmo dia em que o Diário do Grande ABC entrevistou Paulinho Serra (e registrou com algumas entrevistas o descontentamento de donos de carros de passeio e também de usuários de ônibus), o Estadão publicou matéria sobre os corredores de ônibus da Capital. Lá, a velocidade média do corredor formado pelas Avenidas Eusébio Matoso, Rebouças e Rua da Consolação, um dos principais da cidade, caiu de 11,7 quilômetros por hora em 2012 para 7,9 quilômetros por hora no ano passado, entre 16h e 17h, horário que antecede o rodízio do fim da tarde. A piora, segundo o jornal, é de 32,4% no período. Os números são da 16ª avaliação da Operação Horário de Pico, relatório publicado anualmente pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O corredor paulistano é usado como parâmetro para monitorar a eficiência do rodízio de veículos.


 


A reportagem do Estadão é ampla, detalhada. Nada a ver, portanto, com as declarações de Paulinho Serra, às quais lanço desconfiança sim, principalmente porque exalam números extraordinariamente positivos que não combinam com o incômodo de quem trafega pelo centro de Santo André.


 


Estamos vivendo um mundo de fantasias numéricas que, mais que exibir exageros, escondem as durezas do prélio: as faixas exclusivas viraram apenas um corte de tinta a ser ultrapassado sem cerimônia por motoristas de carros particulares irritados com a experiência de não encontrar uma saída física minimamente inteligente para dobrar à direita ou à esquerda sem esbarrarem em ônibus. A reciproca é verdadeira. 


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André