Administração Pública

Fábrica de caças em São Bernardo
é ótimo negócio só para alguns

DANIEL LIMA - 01/07/2014

A fábrica de asas (e também de outros componentes sem grande valor tecnológico) que São Bernardo deverá sediar no projeto de caças suecos que vão abastecer a Força Aérea Brasileira é um grande negócio para alguns empresários bem próximos da Administração petista de Luiz Marinho e também do governo federal. A unidade fabril do caça Gripen da Saab está prevista como centro de montagem preliminar de um aglomerado de fornecedores. O regime condominial terá extensão complementar a gente que não entende bulhufas de defesa aérea. Mas dá show de bola em matéria de outras matérias. Se é que me entendem.


 


Tudo está sendo organizado de modo que pareça a síntese do sucesso do empreendedorismo privado associado ao brilho da gestão pública. O sonho de unir capital e governo num empreendimento prometido como desbravador de novas matrizes industriais em São Bernardo bate de frente com a ideologia discricionária desse mesmo governo municipal.


 


Que governo senão egresso do sindicalismo seria capaz de erguer um Museu do Trabalho e do Trabalhador na Capital Econômica da Província como se o empreendedorismo privado fosse desprezível na equação de desenvolvimento econômico e social?


 


Como um prefeito pode justificar a discriminação ao capital historicamente relevante à transformação de São Bernardo em território privilegiado quando comparado a tantos outros do País se na hora de formular nova opção industrial joga-se de corpo e alma no empreendimento?


 


Luiz Marinho e sua turma fazem parte dos organismos de mandachuvas e mandachuvinhas do informal Festeja Grande ABC. Tudo lhes é motivo a comemorações. Eles têm o poder de esconder os problemas, as desilusões e os descalabros públicos, e de enaltecer supostas conquistas.


 


Redenção econômica?


 


A fábrica de caças suecos e a constelação pretendida de empresas satélites que dividiriam espaços produtivos inserem-se no projeto de suposta redenção econômica da região. Tudo bobagem. Uma andorinha não faz verão. Principalmente uma andorinha de cartas marcadas, de baixa geração de empregos e principalmente de bases tecnológicas primárias. As partes nobres de montagem final e de equipamentos e acessórios tecnologicamente modernos ficarão com o Vale do Paraíba, especialmente em São José dos Campos.


 


Devem ter percebido os leitores que tenho evitado aprofundar informações sobre a identidade dos empresários que se lançarão numa área privilegiada nas proximidades do trecho sul do Rodoanel, em São Bernardo. Cautela faz parte da sobrevivência profissional. São múltiplas as modalidades de compadrismos políticos, associativismos empresariais, poder de sedução no arremate de terras, entre outras variáveis que torna o obscuro deletério dissimuladamente transparente e ético.


 


Sabe-se que o modelo do empreendimento a ser implantado nas proximidades do Rodoanel admite possibilidades de romper a barreira de acesso àquele traçado mais que cuidadoso com o meio ambiente. O que se planeja para os negócios ali sediados é um novo impulso logístico a impulsionar o valor dos investimentos. Não se deve esperar pouca coisa de um prefeito que tem a petulância de insistir na lorota de que construirá um aeroporto internacional de grande porte nos mananciais de São Bernardo. Uma agressão que atingiria 12 milhões de metros quadrados. O que seria, para Luiz Marinho, uma aberturazinha seletiva no traçado do Rodoanel?


 


Sabe-se que nem tudo que reluzirá de desprendimento dos empresários escolhidos a dedo para se associarem à empreitada de dar um verniz de diversidade econômica à administração municipal terá o menor parentesco com ouro. Os ideais sindicalistas que durante décadas tornaram Luiz Marinho e parceiros corporativos pontas de lança ideológicas a hostilizar empreendedores privados de todos os portes viraram poeira. Pena que o radicalismo de um socialismo retrógrado tenha sido substituído pelo oportunismo e pelo exclusivismo capitalista. Nunca o dinheiro dos endinheirados foi tão inebriante à antiga capital sindical da região.


 


Sindicalismo capitalista


 


O complexo industrial e de serviços com que se sonha como fonte de riqueza da indústria de defesa de São Bernardo terá, se levado adiante, um novo ensaio de aproximação entre capitalistas e dirigentes públicos de origem esquerdista. O modelo é inovador. Não ficaria restrito a abordagens sazonais de financiamentos eleitorais. Será estruturalmente extraordinário como alavanca sistemática de um novo perfil de negócios com amplas repercussões no modo de fazer política partidária.


 


Talvez os leitores continuem com dificuldades em entender aonde quero chegar. Não sejam impiedosos. O que interessa mesmo é que Luiz Marinho e sua turma, se não forem portadores de paranoias, sabem exatamente o que quero dizer com estas linhas.


 


Eles sabem o que sei sobre a fábrica de componentes básicos e quase rudimentares de caças suecos, um dos projetos que ainda sobram do espectro de alianças com o governo federal, sempre tendo uma ala petista na articulação de iniciativas macroespaciais. O polo de petróleo tão fartamente divulgado pela gestão Marinho durante anos derrapou após sucessivos escândalos na Petrobrás. Interlocutores agora dinamitados pelos desatinos desapareceram da geografia regional. Eles eram porta-vozes dos poderosos da estatal.


 


O polo da indústria de defesa que se planeja para São Bernardo é uma das grandes operações capitalistas da Prefeitura de São Bernardo. Uma prova de que não existe contradição entre sonegar da identidade do Museu do Trabalho e do Trabalhador uma expressão que simbolizasse os representantes do capital e os malabarismos de engenhosidade empreendedora na preparação da fábrica de asas e outros componentes.


 


Sugerir ao público que continua fiel à história de representantes dos trabalhadores, com a supressão do capital na marca oficial do museu, é apenas marketing de  enganação. A gestão petista de São Bernardo é pragmática até demais ao vislumbrar oportunidades que o capitalismo oferece.


 


Pensando bem, talvez não exista novidade alguma nessa avaliação. O sindicalismo é uma universidade na formação de capitalistas disfarçados de justiceiros sociais. 


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