Administração Pública

Aeroportozão: Luiz Marinho engana
ministro ou atua como especulador?

DANIEL LIMA - 16/07/2014

A manchetíssima de primeira página do Diário do Grande ABC desta quarta-feira (“Projeto de aeroporto de Marinho não existe, diz ministro de Dilma”) coloca a nocaute a política de relacionamento com o Palácio do Planalto e entorno. Se o ministro-chefe da Secretaria da Aviação Civil, Moreira Franco, disse o que disse ontem num evento em São Bernardo, e disse que não existe projeto para a construção de aeroporto no território tomado pelos mananciais, das duas uma: ou o ministro está sendo enganado pelo prefeito petista, que o teria ignorado na relação direta com a presidente Dilma Rousseff, ou o prefeito petista juntou-se a especuladores imobiliários privados para espalhar aos quatro cantos que no entroncamento entre a Imigrantes e o Rodoanel há certeza de construir algo inicialmente afirmado como o terceiro aeroporto internacional da Grande São Paulo. O Aeroportozão que cansei de apresentar como exemplo-mor de lorota.


 


Seja qual for a verdade e não parece possível que exista uma terceira via avaliativa, a não ser que a imbecilidade deste jornalista, dita assim pelo prefeito por conta de contestação à obra, seja na verdade, o suprassumo do espelho da cara de pau do próprio Luiz Marinho, seja qual for a verdade, parece claro que a casa de fantasias do primeiro amigo do ex-presidente Lula da Silva caiu.


 


Aliás, é possível que exista sim uma terceira vertente a explicar a saia justa em que se meteu Luiz Marinho ante a resposta de Moreira Franco ontem em São Bernardo: o chamado Aeroportozão, que ao longo do tempo de desmascaramento de CapitalSocial virou Aeroportozinho e finalmente chegou à condição de pistazinha de pouso e decolagem, pode ser uma combinação das duas coisas. Ou seja: tanto o ministro-chefe da Secretaria da Aviação Civil foi enganado pelo prefeito, que se teria dirigido diretamente à presidência da República, como também a descoberta da insensatez do projeto original tenha dado espaço à especulação imobiliária.


 


Uma reza inútil


 


Quanto mais rezo para o Aeroportozão sair do foco editorial desta revista digital mais o diabo da espetacularização ditada pelo interesse político-eleitoral e provavelmente financeiro da gestão Luiz Marinho se manifesta. A manchetíssima do Diário do Grande ABC de hoje é de lascar.


 


Justamente quando estava eu a especular que entre o jornal e o prefeito de São Bernardo havia sinais de reconciliação, após meses e meses de farta distribuição de porradas denunciatórias, eis que vem essa refrega.


 


Disse o Diário do Grande ABC de hoje: “Na tentativa de justificar a saia justa, Marinho revelou ter comunicado ao ministro sobre a existência do projeto de São Bernardo na sequência da entrevista coletiva com os jornalistas”. Prossegue o jornal: “Segundo o prefeito, a situação se deu em virtude de o ministro estar recém-chegado ao cargo. Moreira Franco assumiu a Secretaria de Aviação Civil em março de 2013, um ano e quatro meses atrás” – escreveu o Diário do Grande ABC.


 


A emenda explicativa de Luiz Marinho foi pior que o soneto do desmascaramento do ministro. Pego de calças curtas, Luiz Marinho poderia evitar o constrangimento de chamar o ministro de incompetente e descuidado, porque, convenhamos, quem está há tanto tempo no cargo e não sabe que São Bernardo supostamente pretende construir um Aeroportozão, ou mesmo um Aeroportozinho, ou, vai lá, uma pistazinha de pouso e decolagem, não pode ser outra coisa senão uma bananão.


 



Uma terceira possibilidade


 


Como até prova em contrário o ministro Moreira Franco não é um bananão, está evidenciado que, das duas uma: ou está sendo devidamente corneado pela presidente Dilma Rousseff, que supostamente estaria tratando do investimento à revelia do respectivo organograma destinado ao assunto, ou o prefeito de São Bernardo é um tremendo especulador imobiliário, juntamente com parceiros de supostos negócios no setor. Uma das táticas de valorização de espaços urbanos é a disseminação de investimentos grandiosos. Quem é do ramo sabe disso.


 


A reportagem do Diário do Grande ABC é oportuna, foi elevada à condição de manchetíssima em tiro preciosíssimo, mas não é objeto de atuação deste jornalista como eventual ombudsman dos jornais da região. Não vou me envolver com a qualidade do texto e também com eventuais buracos negros da reportagem. Só faço uma restrição às informações repassadas aos leitores: o Diário do Grande ABC omite que, em outubro de 2011, quando estava em lua de mel com a Administração Luiz Marinho, deu corda em manchetíssima de primeira página à estapafúrdia informação de que seria construído um Aeroportozão em São Bernardo.


 


O jornal simplesmente omite essa informação no noticiário de hoje. Mais que isso: diz que deu aquela notícia com exclusividade (o que parece verdade, embora o ABCD Maior também registre a notícia na mesma data), mas suprime a informação de que tenha cometido uma barrigada e tanto. Mais que isso: procura brincar com a memória e as provas dos leitores ao afirmar que a exclusividade da informação referia-se à construção de um aeroporto para tráfego de mercadorias e voos fretados. Leiam abaixo a reprodução de parte do texto do Diário do Grande ABC de outubro de 20011 a respeito disso:


 


 A Prefeitura de São Bernardo, chefiada por Luiz Marinho (PT), planeja entrar na briga com o município de Caieiras para receber o terceiro aeroporto da Região Metropolitana. Mogi das Cruzes corre por fora na briga. O projeto está sendo desenvolvido e guardado a sete chaves pelo secretariado do Paço, inclusive com perspectiva de áreas com potencial para receber o empreendimento. Em reuniões fechadas para formulação da peça orçamentária de 2012, Marinho chegou a tocar no assunto com o primeiro escalão e conselheiros do Orçamento Participativo e disse que São Bernardo quer acolher o terminal aéreo. As áreas preferidas são próximas ao Trecho Sul do Rodoanel, mas a União poderia ser fundamental para viabilizar o projeto, com capacidade de atrair investidores privados para o empreendimento. O secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Jefferson José da Conceição, deu mostras de que o plano não está em estágio tão primário na administração, tanto que afiançou que há um projeto executivo finalizado. Esse documento é responsável por demarcar o terreno do aeroporto, delinear estratégias de mobilidade urbana e até a estipular capacidade de funcionamento. “Estamos empenhados. O prefeito lidera essa questão do aeroporto, mas não posso dar detalhes. É uma discussão série e não é ideia, é projeto executivo”.


 


Repórter Diário completa


 


Não existe jornalismo sem erro, sem barrigada, sem descuido, sem enganação voluntária e involuntária. O Diário do Grande ABC perpetra contra os leitores uma peça pecaminosa em confiabilidade quanto tenta levá-los a acreditar num determinado posicionamento sem considerar que não existe nada mais apropriado e contundente ao desmascaramento que as páginas impressas e digitais publicadas. Concorrer com o prefeito Luiz Marinho em ilusionismo não é bom predicado.


 


A edição digital do jornal Repórter Diário também cuida do assunto. Há convergência de tratamento em relação ao tom do Diário do Grande ABC. O título “Construção de aeroporto deixa ministro em saia justa em São Bernardo” reforça o embaraço diplomático. Diz o jornal (também o Diário do Grande ABC o disse) que o ministro Moreira Franco só conhece o projeto reservado para Caieiras, na Grande São Paulo, que comportará aeroporto internacional propagado inicialmente pela gestão Marinho.


 


Disse o ministro: “Essa questão já foi decidida pela presidente Dilma. São Paulo precisa aumentar a sua infraestrutura aeroportuária. Existe essa vontade de oferecer alternativa. Existe na Casa Civil e já está em deliberação final: a proposta alvo do objeto de estudo técnico é em Caieiras”, salientou o ministro, segundo informa o Repórter Diário. Nada diferente do que CapitalSocial vem publicando há muito tempo.


 


Mesmo com o posicionamento de Moreira Franco, o teimoso prefeito de São Bernardo segue a jogar para a plateia. Tanto que disse ao Repórter Diário: “Falei para o ministro que tem nosso projeto e combinei que vou levar o projeto lá para apresentar para ele também. O comandante Saito (Juniti, comandante da Força Aérea Brasileira) disse que nosso projeto é muito melhor que o de Caieiras” – disse Marinho.


 


Ninguém supera o petista em soberba. Talvez Luiz Marinho sofra do que chamaria de Síndrome de Sindicalista que Deu Certo. Ou alguém duvida que, com as costas largas de Lula da Silva, é possível acreditar que se acerta sempre e que se pode fazer tudo, inclusive iludir o distinto público? 


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