O Partido dos Trabalhadores de Santo André está longe de definir o companheiro de chapa de João Avamileno às eleições de 2004, mas já há quem trace referenciais com base no sucesso da dobradinha capital-trabalho de Lula da Silva e José de Alencar para a presidência da República. E o nome de José Batista Gusmão, diretor de Assuntos Corporativos da Bridgestone Firestone, surge como eventual coelho que saltaria da cartola petista para harmonizar interesses eleitorais.
Evidentemente Gusmão foge do assunto. Descarta-o sobretudo porque tem atividade profissional como ganha-pão. Entretanto, as relações de amizade com João Avamileno, que remonta aos tempos em que o agora prefeito não passava de esquecido vice-prefeito, poderão ser decisivas no compromisso de confiança mútua que deve reger os integrantes de uma chapa a cargos majoritários.
A vitória de Lula da Silva fortaleceria tremendamente a posição do amigo João Avamileno como candidato do Paço de Santo André, se já não bastasse o fato de o companheiro de chapa de Celso Daniel ser naturalmente o concorrente preferencial do PT. Com Lulalá, João Avamileno teria suporte inquestionável. Então, sobraria a disputa pelo cargo de vice-prefeito. Há porção de concorrentes naturais, todos filiados ao PT, mas nada impede que José Batista Gusmão, apartidário, resolva lançar-se na empreitada porque nenhum outro reúne perfil mais apropriado para desbloquear as restrições e o preconceito que o ex-sindicalista Avamileno ainda desperta. Sobretudo porque, como Lula, não fala a linguagem refinada das elites conservadoras.
Perfil complementar
Gusmão tem perfil complementar que o PT tanto aprecia: saiu de funções de chão de fábrica para o posto de diretor de multinacional. Suas atividades extra-corporação, engajado naquilo que se convencionou chamar de capital social, são reconhecidamente meritórias. De sua liderança silenciosa e discreta emergiu uma Bridgestone Firestone participativa junto à comunidade. Contou, é claro, com todo o aparato do comando da empresa, primeiro emanado do norte-americano Mark Emkes, depois de Eugenio Deliberato.
José Batista Gusmão recusou recentemente o cargo de secretário de Desenvolvimento Econômico de Santo André. Pesou a diferença salarial que separa o posto de executivo privado do de executivo público. Isso não quer dizer que dentro de dois anos, provavelmente já gozando de aposentadoria, repita a decisão se convidado for a perfilar com João Avamileno. Assíduo participante de eventos na Prefeitura, notadamente do programa Santo André Cidade Futuro, Gusmão já construiu rede de relacionamentos com o primeiro, segundo e terceiro escalões petistas que provavelmente o avaliariam como interessante aliado.
Capital-trabalho é saída
O embate para a escolha do perfil de chapa de João Avamileno, vitoriosa dobradinha Lula-José Alencar, provavelmente nem exista. Por hipótese, que força se oporia a qualquer empreitada nesse sentido se o candidato presidencial finalmente decolou e retirou de Lula o estigma picerniano? Talvez haja restrição aqui ou ali quanto ao nome eventualmente escolhido pelo Paço, porque a fertilidade do contraditório deve ser mesmo incentivada, mas a essência estará invulnerável.
A fórmula de composição entre capital e trabalho é de fato contemporânea porque retira o Partido dos Trabalhadores do limbo do sectarismo de tempos idos. Por mais que encontrem explicações para o sucesso eleitoral de Lula nesta temporada, a raiz que sustenta a frondosa árvore de alianças estratégicas está em Minas Gerais e atende pelo nome do senador da República, um dos maiores empresários do País. Ao juntar Lula e José Alencar o Partido dos Trabalhadores surpreendeu à direita e à esquerda porque até então não parecia nada decidido a flexibilizar para governar com flexibilidade.
Quem vai comandar
Se o problema do PT em Santo André provavelmente se resumirá ao cargo de vice-prefeito, em São Bernardo de Vicentinho Paulo da Silva e Luiz Marinho a disputa é mesmo pela cabeça de chapa. Eventual reviravolta nas eleições ao governo do Estado que coloque José Genoíno/Luiz Marinho no Palácio dos Bandeirantes bagunçaria o coreto petista em São Bernardo porque, automaticamente, poderia guindar o presidente licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em posição de vantagem contra o praticamente eleito deputado federal. Mesmo possível derrota de José Genoíno já alçou Luiz Marinho a novo patamar nas relações internas do partido, porque a subida nas pesquisas e a visibilidade que ganhou na mídia o tornam mais densamente conhecido, além dos muros sindicais.
Considerando-se que Vicentinho Paulo da Silva deve assumir algum posto de comando em Brasília, e que provavelmente fique por lá por toda a eventual gestão petista, o território estaria liberado para Luiz Marinho pleitear a sucessão de Maurício Soares. É exatamente essa disputa que o Paço Municipal de São Bernardo tanto teme.
Pesquisas qualitativas já teriam indicado que Luiz Marinho é um osso mais duro de roer do que Vicentinho. Pesariam na equação, favoravelmente a Marinho, um grupo de atributos detectados nas pesquisas: é mais alegre, menos preconceituoso, menos recalcitrante e de interlocução mais produtiva do que seu antecessor na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos. Um dado suplementar, que na verdade nem suplementar é, daria conta de que o fato de Vicentinho ser negro o tornaria menos interessante às urnas comparativamente a Luiz Marinho de pele clara.
De qualquer modo, com Vicentinho Paulo da Silva ou Luiz Marinho, a disputa eleitoral em São Bernardo passará a ter novas conotações estratégicas simplesmente com a vitória mais que provável de Lula da Silva. Se vier de lambuja a vitória de Genoíno ao governo do Estado, então é melhor sair de baixo, porque a porca vai torcer o rabo -- provavelmente à esquerda mais moderada que qualquer nome escolhido por Maurício Soares.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)