Administração Pública

Marinho teria coragem de aceitar
réplica de Comitê de Fábrica?

DANIEL LIMA - 29/07/2014

Servidores públicos de São Bernardo não atrelados ao governo de plantão e protegidos contra qualquer retaliação poderiam ser chamados pelo prefeito Luiz Marinho para compor o que chamaria de Comitê de Prefeitura. Eles fiscalizariam atentamente tudo que acontece na gestão petista, com ampla liberdade de atuação. Mais: eles, os servidores, teriam compromisso de prestar contas a contribuintes organizados. A iniciativa não tem nada de extravagante, mas o prefeito vai abominar este jornalista pela simples proposição. Há tantas bandalheiras na gestão Marinho que até Deus duvida. Os contribuintes é que pagam o pato. Os impostos municipais não param de subir para sustentar uma máquina enferrujadíssima, quando não corrosiva.

 

O Comitê de Prefeitura seria uma réplica dos comitês de fábricas disseminados pelo Sindicato dos Metalúrgicos. O mesmo sindicato que pariu Marinho. Já imaginaram Luiz Marinho, sempre avesso a prestar contas de sua gestão e incapaz de aceitar um desafio de uma entrevista coletiva com gente que não lhe bajula, tendo que se virar nos 30 ante um grupo empedernido de servidores públicos comprovadamente independentes? Seria engraçado.

 

Mas o leitor pode tirar o cavalinho da chuva porque o que bate em chico do empresariado escolhido a dedo para formalizar comitê de fábrica não bate em Francisco de Poder Público avesso à transparência.

 

Sabem de onde retirei essa proposta cabeluda apenas para quem acha que democracia é uma via de mão única? Da entrevista do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, ao jornal Estadão, publicada ontem. Perguntado pela jornalista Cleide Silva sobre o que diferencia o sindicato de São Bernardo dos demais no País, Rafael Marques respondeu exatamente o seguinte:

 

 Temos, há mais de dez anos, os comitês sindicais de empresas, que é nosso modelo de organização no local de trabalho. Esse modelo está crescendo no Estado de São Paulo – já há outros seis sindicados de metalúrgicos que o adotaram. Acredito que podemos aperfeiçoar esse modelo de representação, combinado com o trabalho que fazemos de discutir política industrial, o futuro da categoria, de aprimorar as relações entre capital e trabalho. Esperamos que, no futuro, possamos ter também a participação de trabalhadores nos conselhos de empresas, como ocorre em países da Europa e nas estatais aqui no Brasil – disse Rafael Marques.

 

Viés sindicalista

 

O discurso liberal do dirigente sindical de São Bernardo, o mais jovem da safra de adoradores de Lula da Silva, tem apenas um lado, o lado supostamente dos trabalhadores mas que, no fundo, no fundo, é mesmo o lado do agrupamento de sindicalistas. Já imaginaram se, em contrapartida ao avanço do controle além de operacional mas também de gestão das empresas, como se insinua na entrevista, os sindicatos patrocinadores dos comitês de fábricas fossem obrigados a abrir suas portas a representantes do empresariado? Quantos segredos poderiam ser revelados? Quanto dinheiro público repassado a título de imposto sindical estaria sendo desperdiçado?

 

Há uma distância abissal entre o discurso petista dos sindicalistas da região e a prática democrática múltipla, que deveria envolver todos os agentes preocupados com o destino do País. Os comitês de fábricas industrializados pelo cutismo-petismo são uma tremenda de uma indução à fuga de empresas da Província do Grande ABC. Mais que a indigesta intromissão muitas vezes descabida nos interiores das fábricas, os comitês de fábricas simbolizam uma ramificação que vai além do trabalho e invade o terreno da política partidária. A convivência supostamente democrática entre capital e trabalho sofre intervenções externas de mandachuvas sindicais que não suportam contraditórios.

 

Não conheço um único empresário de pequeno e médio porque que, falando sob a garantia de que a fonte será preservada, entenda que o sindicalismo de comitês de fábricas é algo que possa ser catalogado como uma instância adicional de democracia. Os trabalhadores sindicalizados são em regra trabalhadores de primeira classe nos chãos de fábrica, com influência também entre os engravatados. Nada mais compulsório, porque contam oficialmente com o aval, a retaguarda e tudo o mais da cúpula sindical que já não tem tempo para acompanhamento presencial mais constante mas está permanentemente ligada à realidade de cada empresa.

 

Fora do esquadro

 

O acoplamento de trabalhadores no organograma diretivo das empresas poderia ser interpretado como um avanço extraordinário às relações entre capital e trabalho se não estivesse a permear a conduta dos assalariados um viés fortemente fora de moda de como enfrentar a mundialização da economia.

 

No caso de São Bernardo e, mais ainda, no caso do Sindicato dos Metalúrgicos quase todo voltado ao setor automotivo, a situação agrava-se ainda mais porque o conluio histórico como o governo federal de perpetuar improdutividades com doses cada vez mais cavalares de protecionismo e de vantagens fiscais adia indefinidamente o estado de calamidade entranhado no nível de baixa competitividade do setor mesmo frente a outras geografias nacionais.

 

Frente a outras nações, então, é um desastre total. A produtividade média do trabalhador brasileiro em relação ao norte-americano é cinco vezes menor. Os metalúrgicos daqui são muito menos efetivos que os metalúrgicos de lá. Os sindicalistas são hábeis em proclamar isonomia salarial, mas fecham a boca quando se pretende comparar o tempo médio que cada trabalhador brasileiro leva pra produzir um veículo. Por essas e outras caímos insistentemente no ranking de exportação de uma atividade econômica que é nosso oxigênio.



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