Política

Haverá segundo turno nas
eleições em Santo André?

DANIEL LIMA - 27/03/2003

Haverá segundo turno nas eleições municipais do ano que vem em Santo André? Reforçando a pergunta: será que o petista João Avamileno conseguirá emplacar a reeleição no primeiro turno? Antes de maiores considerações é preciso ressalvar que qualquer análise político-eleitoral precisa desconsiderar eventuais fatos excepcionais e contundentes que, como se sabe, deslocam o eixo de interpretação do eleitorado e desestabilizam candidaturas.


 


Isto posto, o que quero dizer é que as condições que serão aplicadas pelos opositores petistas em Santo André é que definirão a disputa eleitoral em turno único ou não. Não será, portanto, o brilho do candidato situacionista nem eventuais tropeços de menor monta.


 


Quem serão os candidatos oposicionistas? A lista é imensa e, quanto maior, mais possibilidades de o pleito desdobrar-se em dois turnos. Luiz Tortorello, Duílio Pisaneschi, Celso Russomanno, Elcio Riva, Silvio Pina, Fernando Gomes, Sérgio De Nadai e Newton Brandão. Todos esses, se eventualmente se lançarem à empreitada, vão disputar votos com João Avamileno. Qual desses interessa mais de perto à cúpula petista de Santo André para medir forças?


 


Candidatos e candidatos


 


O suposto batalhão de prefeituráveis tem um grande blefe e um fortíssimo concorrente. O blefe é o prefeito de São Caetano, Luiz Tortorello. O candidato respeitável pela possível densidade eleitoral é Celso Russomanno. Newton Brandão talvez valorize o passe para somar como candidato a vice. Duílio, abaladíssimo pelo fracasso na tentativa de trideputado, exige reforço de marketing que uma catequese convencional não sustentaria. Elcio Riva, Fernando Gomes e Silvio Pina são candidatíssimos não a prefeito de fato, mas à negociação política, quem sabe para virar secretários de aliados eleitorais. Ou seja: disputam a Prefeitura para garantir secretaria. O empresário Sérgio De Nadai dificilmente se meterá em aventura eleitoral, especialmente porque trafega pelo mesmo viés ideológico congestionadíssimo de centrodireitistas. 


 


O deputado estadual José Dílson e o advogado Raimundo Salles engrossam a tropa e não constam da lista inicial por motivos diferentes. José Dílson estaria bandeando para o PT e contribuiria para deslocar votos populares de Celso Russomanno. O título de Médico do Ratinho lhe conferiu votação expressiva nas camadas mais simples da população, exatamente onde viceja Russomanno. Raimundo Salles não está nem à centrodireita nem à centroesquerda. Porta-voz do prefeito William Dib, de São Bernardo, Salles candidato pode atrapalhar a vida e os votos que seriam destinados aos conservadores tanto quanto baixar o índice de sufrágios do PT entre os evangélicos.


 


Explicando o blefe de Luiz Tortorello: o comandante de São Caetano sabe que Santo André não se limita ao Bairro Jardim, espécie de réplica de seu reduto eleitoral. A exclusão e as carências sociais residuais em São Caetano dominam a geografia de Santo André de extensão territorial 15 vezes maior. Sem contar que, mesmo sem o grau de bairrismo da vizinha, Santo André não aceitaria de bom grado espécie de invasor que, como se sabe, pouco se entregou à regionalidade que Celso Daniel personificou. 


 


Já o caso do invasor Celso Russomanno é diferente. O jornalista e deputado federal que obteve mais de 70 mil votos concorrendo com Celso Daniel nas eleições municipais de 2000 tem faixa de eleitorado de baixa renda e vidrada em ações de herói midiático.


 


Invenção complexa


 


Diferentemente de Tortorello -- que, na verdade, embala suposta candidatura para desgastar o PT de Santo André em auxílio a seus pares ideológicos, no caso Duílio e Brandão -- Celso Russomanno está acima de interesses localizadamente partidários locais. Quem o inventou para concorrer com Celso Daniel em 2000 -- Duílio Pisaneschi jura por todos os santos que não cometeria essa bobagem -- agora tem de suportar o efeito bumerangue e rezar para que Russomanno concorra à Prefeitura de São Paulo e esqueça Santo André.


 


Diferentemente portanto de São Bernardo, onde, de imediato, William Dib e Vicentinho Paulo da Silva estão sozinhos na raia da disputa eleitoral mais frenética do Grande ABC, em Santo André a pulverização de concorrentes opositores à administração petista dá o tom de perspectivas.


 


O paradoxo é que, enquanto em São Bernardo a escassez de adversários longe está de significar esfarelamento oposicionista, em Santo André a abundância denota a ausência de pelo menos uma liderança incontestável que se rivalize de fato com o Paço Municipal.  


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