Política

Macroeconomia e as
eleições municipais

DANIEL LIMA - 18/07/2003

A consolidar o cenário exposto ontem neste espaço sobre as probabilidades eleitorais em Santo André, o maior adversário do prefeito João Avamileno não é o conjunto de oposicionistas locais. O que pode pesar mais na balança de fidelidade eleitoral que o PT contabiliza em Santo André seria o quadro macroeconômico nacional, sob a batuta do presidente Lula da Silva.


 


O balanço desse navio de possibilidades eleitorais em Santo André pode fazer água para o candidato do Paço Municipal se o governo Lula da Silva virar desastre econômico. Mais que qualquer outro petista da região, João Avamileno é uma réplica do presidente da República. Ex-metalúrgico, ex-líder sindical, Avamileno e Lula são semelhantes na biografia e na chegada ao poder, guardadas as devidas dimensões e circunstâncias.


 


Quem acredita, entretanto, que 2004 não será um ano de melhorias econômicas? Quem é capaz de apostar que, depois de um 2003 praticamente perdido no setor econômico, mas salvo institucionalmente, o Partido dos Trabalhadores e seus aliados não botem o bloco na rua a partir do segundo trimestre de 2004 para arrebatar prestígio do eleitorado?


 


Quem imagina que o PT, que só depois de 20 anos conseguiu sentir o gosto de governar o País, colocará em risco a reeleição de Lula da Silva em 2006 por não ter sabido prever e desarmar as armadilhas dos pleitos municipais, deixando-se  superar, com seus aliados, em importantes municípios brasileiros relacionados previamente como cidadelas a ser mantidas ou conquistadas?


 


Sinergia petista


 


Embora haja dúvidas sobre as reais influências do quadro político nacional nos embates municipais, o fato é que em se tratando de PT a sinergia para o bem e para o mal é expressivamente palpável.


 


Correlacionar Lula e Avamileno terá sim um pedaço de representatividade na decisão do eleitorado, da mesma forma que a colagem atingirá também Vicentinho Paulo da Silva em São Bernardo. A diferença é que o Paço de São Bernardo não é petista. Portanto, fazer de Vicentinho prefeito contra William Dib -- surpreendente no salto de qualidade que imprime no comando institucional de uma Prefeitura até então doméstica -- é tarefa muito mais complexa do que a reeleição de João Avamileno.


 


A grande disputa eleitoral do ano que vem nas prefeituras vai opor o PT e seus aliados contra o PSDB e seus próximos. Em São Paulo, particularmente, Geraldo Alckmin e seu grupo de assessores já definiram a estratégia: é preciso quebrar a espinha dorsal de prestígio do PT em grandes municípios, entre os quais Santo André, Campinas e Ribeirão Preto, porque o sonho do governador de chegar à Presidência da República em 2006 precisa ser cimentado com engenho.


 


Não é por outra razão que o triprefeito Newton Brandão já está em plena campanha, que Duílio Pisaneschi aquece as turbinas e que até Celso Russomanno pode entrar na disputa, direta ou indiretamente.


 


O fator nacional terá, portanto, peso importante, especificamente porque o PT é  agremiação diferenciada das demais. Mas, provavelmente o que terá peso mais prevalecente serão mesmo as questões municipais, mais íntimas das demandas da população. O risco de contaminação do quadro nacional no ambiente municipal e regional existe e se agigantará diante da eventualidade de crise econômica que coloque a institucionalidade à beira do precipício.


 


Como nem uma coisa nem outra aparecem no horizonte, considerando-se que os sacrifícios deste ano fazem parte do enredo de recuperação da governabilidade e que o afrouxamento das políticas contracionistas lubrificará as engrenagens econômicas, é melhor os oposicionistas locais prepararem artilharia própria e convincente para tentar abater o PT. 


 


Convenhamos que não se configura como razoavelmente provável a perspectiva de que o PT se especializou tanto em comportar-se como oposição no quadro nacional, que jogará a toalha da ingenuidade eleitoral já no segundo ano do primeiro mandato de Lula da Silva. Lula e o PT reconhecem, debatem e metabolizam interna e externamente o conceito de que a caminhada pela reeleição passa obrigatoriamente pelo mata-burros das disputas municipais do ano que vem. 


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