A presença do presidente Lula da Silva como cabo eleitoral de Vicentinho Paulo da Silva à Prefeitura de São Bernardo será episódica e, por isso mesmo, menos influente na definição de votos do que se poderia imaginar. A fragilização política do governo federal depois do registro de PIB abaixo de zero e principalmente do caso Waldomiro Diniz aumentou a dependência do governo Lula da Silva em relação aos aliados. Por isso, na amarração geral às disputas municipais deste ano, e particularmente de São Bernardo, tema de nosso artigo da última sexta-feira, Vicentinho Paulo da Silva estaria na corda bamba. Teria que contar com seus poucos aliados locais e provavelmente com dissimulado reforço de investimentos materiais do governo federal porque Lulacá provocaria reações pouco agradáveis dos aliados federais.
Isso não quer dizer que Vicentinho Paulo da Silva seja um peixe fora dágua, que já entregou a rapadura para o médico William Dib. Nada disso, nada disso. Mas o fato é que suas possibilidades eleitorais se comprimem a cada dia. A adesão do deputado estadual Giba Marson ao Paço Municipal é o mais recente direto no fígado do entusiasmo de Vicentinho. O representante do Partido Verde pode ajudar a estabelecer a diferença que determinaria o vencedor de outubro, além dos vetores aqui já abordados, como o próprio desgaste pessoal de Lula da Silva em complemento ao já evidente desgaste do governo petista, depois das denúncias brasilienses.
Talvez especificamente em São Bernardo o que poderá se traduzir de vez em forte alavancagem eleitoral de William Dib -- agora reservado à reta final -- seria a presença e o apoio material do governador Geraldo Alckmin. Especialmente se o PSB, partido do prefeito, fizer um meio de campo digno dos melhores momentos com o governador peessedebista. Por isso que, na corrida pela vice-prefeitura, o secretário Admir Ferro pode descolar-se da multidão de candidatos que alimentam expectativa de chegar lá e, com isso, constar da chapa oficial do candidato governista.
É mais que provável, é quase certo, que o governador Geraldo Alckmin poderá ser um cabo eleitoral mais produtivo do que Lula da Silva. Primeiro porque não terá condicionalidades ao engajamento. Segundo porque o cargo de governador é a oitava maravilha do mundo, já que a pauta de potenciais descontentamentos da opinião pública se resume, em geral, às áreas de educação e segurança. Como as duas atividades são cada vez mais confundidas como responsabilidade dos prefeitos, até nisso ser governador é grande moleza.
Governador afável
Daí a capitalizar dividendos de generosidade eleitoral é um passo. Ainda mais sendo o governador paulista o que é -- um homem afável, absolutamente seguro dos nervos, inteligente o suficiente para não dizer bobagens que o façam perder ainda mais cabelos e comprometido com seu próprio futuro, em busca da Presidência da República.
Entre um governador de Estado extremamente poupado pelas pesquisas, embora pouquíssimo tenha feito pela economia do Grande ABC, e um presidente da República cujo capital de carisma pessoal e de identidade com São Bernardo sofreu duros reveses nos últimos tempos, não é difícil prognosticar que quando outubro chegar o candidato William Dib terá empurrão maior rumo à vitória, desde que, evidentemente, a composição da chapa à Prefeitura atenda aos interesses do Palácio dos Bandeirantes.
Por isso, entre um Lulacá reticente e um Geraldocá permanente nas eleições de outubro, em São Bernardo, o bom senso recomenda hoje que quem estiver com o governador vai estar em melhor companhia. Até porque terá efetivamente companhia.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)