Política

Quem será o melhor vice de
João Avamileno e de Brandão?

DANIEL LIMA - 11/02/2004

Que vice contribuiria potencialmente com maior reserva de votos para os até agora apontados favoritos ao Paço de Santo André -- João Avamileno e Newton Brandão? Estaria o Partido dos Trabalhadores acertando o passo ao pretender uma chapa puro sangue, cedendo o segundo posto do Executivo provavelmente para um ponta-de-lança do deputado federal Luizinho Carlos da Silva, candidatíssimo à disputa municipal de 2008? Ou seria melhor o PT observar com mais cuidado o quadro eleitoral e somar à candidatura do sindicalista João Avamileno um classe média que inverteria os papéis estratégicos que levaram Celso Daniel a compor-se nas duas últimas disputas com a ala de operariados de seu sucessor acidental? E quem Newton Brandão deveria ter como companhia para alargar a faixa do eleitorado predominantemente de idade mais madura, contrapondo, portanto, a juventude, a expectativa renovadora?


 


Não custa nada especular sobre as alternativas porque o mundo da política, principalmente do jogo eleitoral, comporta cenários diversos exatamente para que a margem de eventuais erros seja reduzida ao máximo. Nada pior do que um time mal-escalado eleitoralmente, sobretudo para o posto máximo da administração municipal, estadual ou federal.


 


Está aí o governo Lula da Silva que não me deixa mentir. O vice-presidente José Alencar já está meio escanteado, depois de colidir frontalmente com a equipe econômica e de enroscar-se também nos corredores políticos. Tanto que José Dirceu, o superministro, é quem dá as cartas no dia-a-dia do governo, limpando a área para os chutes nem sempre certeiros mas inegavelmente portentosos de Lula da Silva.


 


Puro sangue ou não?


 


O ritmo das pesquisas eleitorais definirá até que ponto o PT de Santo André confia no taco de uma chapa exclusivamente própria ou se abrandará o ímpeto em favor de uma composição de extrema confiança e que, portanto, nada, no futuro, provocaria trepidações. Os abalos provocados pela morte de Celso Daniel, tanto no âmbito administrativo interno quanto no eleitorado, não podem ser minimizados.


 


Se a governabilidade não chegou a sofrer avarias no trem de pouso, o dispositivo chamado reverso provocou  desconfortos e com isso atingiu a governança. Ou seja: com tudo o que aconteceu a partir de janeiro de 2002 em Santo André, o Paço Municipal conseguiu manter o prumo, com os sacolejos esperados mas assimilados, enquanto externamente os rescaldos podem estar em desarranjo. Uma situação que poderia ser agravada com uma candidatura puro sangue.


 


O PT de Santo André trabalha com o tempo para definir quem vai fazer companhia a João Avamileno. Tudo estaria resolvido se a agora ainda mais próxima do poder máximo de Brasília, Miriam Belchior, assessora direta de José Dirceu, fosse deslocada para fertilizar o terreno eleitoral. Entretanto, nem pensar nessa possibilidade extremamente vantajosa porque além de mulher e de reconhecidamente competente, Miriam Belchior é um Celso Daniel de saias, ou seja, uma representante das famílias mais tradicionais da cidade e que, portanto, potencializaria a elasticidade da candidatura de um sindicalista.


 


É mais que provável que da cartola petista sairá um José Batista Gusmão ou um Wilson Bianchi para fazer companhia a João Avamileno. Nestas alturas do campeonato, Gusmão aparentemente leva vantagem porque conta com invejável histórico de relacionamento pessoal com João Avamileno: quando o então vice-prefeito não passava de peça quase decorativa no jogo de xadrez do tabuleiro estratégico do Paço de Santo André, as famílias Gusmão e Avamileno se visitavam frequentemente. Não foram poucas as vezes em que Gusmão, então executivo da Bridgestone Firestone, apanhou um sempre ansioso João Avamileno para assistir a mais uma etapa da Fórmula-1 em Interlagos. Não bastasse isso, Gusmão é afável, discreto, harmonioso e devagar, devagar, vai conquistando militantes petistas. Até ingressou no Partido Verde que, como se sabe, tem tudo a ver com o PT. Ou quase tudo, não é, Gabeira?


 


Sobreposição de votos


 


O mesmo Gusmão e o mesmo Partido Verde que podem dar a João Avamileno complementaridade eleitoral interessante estariam também no raio de ação da candidatura Newton Brandão, desde que haja alguma surpresa na definição já consolidada de que caberá ao empresário Duílio Pisaneschi a companhia do triprefeito. A dificuldade operacional ao acerto técnico-eleitoral da dupla Brandão-Duílio está na derrapagem da sobreposição de votos. Brandão conta com eleitorado mais popular e frequentador de faixa etária mais elevada. Por isso, teria pouco a ganhar com os votos mais conservadores e, até prova em contrário, escassos de Duílio Pisaneschi. Embora jamais tenha passado pelo crivo dos eleitores, José Batista Gusmão reuniria espectro de admiradores menos ortodoxos que os de Duílio e menos colecionador de primaveras do que de Brandão.


 


Cabe um parêntese à possível candidatura de Duílio Pisaneschi como companheiro de Newton Brandão, depois de o ex-deputado federal assustar-se com os resultados das primeiras pesquisas eleitorais que o colocaram muito aquém dos dois primeiros colocados e, também, do fracasso da campanha para chegar pelo terceiro mandato consecutivo na Câmara Federal. Como pode um filho da terra, detentor de oito anos de Brasília, ter seu estoque de votos tão impiedosamente sucateado? Seria a maldição do caso Celso Daniel, já que Pisaneschi ajudou sim a azeitar a engrenagem que acabou por instalar Sérgio Gomes da Silva no xilindró de Juquitiba? Certo mesmo é que diferentemente de Brandão, visto como adversário leal e ético, Duílio Pisaneschi encontra no PT uma resistência revanchista por ter ele e seus amigos do setor de transportes ultrapassado os limites do código de ética de uma atividade que todos sabem não ser exatamente merecedora do título de Madre Tereza de Calcutá.


 


Neste exato momento, não há mais que as alternativas de João Avamileno e Newton Brandão ao Paço Municipal de Santo André. Outros eventuais candidatos podem autoproclamarem-se respeitáveis, mas não passariam de zebras. Nada, absolutamente fora dessas duas bifurcações, seria capaz de fazer a cabeça do eleitorado numa região em que não há mídia de massa. Não é coincidência que os concorrentes sejam um detentor do poder e um ex-frequentador assíduo do poder -- foram 14 anos de mandatos do petebista e hoje peessedebista.


 


Seus respectivos staffs devem estar preparando desde já alquimias para sensibilizar o eleitorado. Seria a idade já avançada de Brandão um prato cheio para vender ideais de continuidade reformista dos petistas numa Santo André em busca de eixo econômico e abaladíssima em sua auto-estima? Seriam as supostas propinas e as dúvidas cristalizadas sobre o assassinato de Celso Daniel bons argumentos dos brandãonistas em defesa da moralidade pública? Por falar em Celso Daniel, estaria o PT prontíssimo para explorar o legado que o prefeito assassinado deixou como símbolo de mudanças?


 


Também não se pode esquecer que, nessa disputa, há um terceiro elemento que, inteligente, matreiro, está de camarote, analisando detidamente todos os movimentos. É o advogado Raimundo Salles, controlador de mais de uma dezena de agremiações partidárias e de consequente exército de candidatos a vereador, batalhão importantíssimo num primeiro turno porque todos correm atrás de votos, mas, sem dúvida, pouco relevante num eventual segundo turno, porque desmobilizado e desmotivado, sejam quais forem os resultados da primeira rodada.


 


Raimundo Salles conta com o fator tempo a embalar seus sonhos. Aos 40 anos ele sabe que a fadiga de material de Newton Brandão, a moribundez política de Duílio Pisaneschi (que poderia se recuperar como vice de um Brandão vitorioso, é verdade), o provável desgaste de eventual segundo mandato de Lula da Silva (com consequências abaladoras sobre Luizinho Carlos da Silva) e a inexistência de qualquer outra ameaça no horizonte eleitoral de 2008 o colocam como potencial concorrente de peso ao Paço Municipal. 


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