Política

Quem fica com os
votos-celebridade?

DANIEL LIMA - 31/03/2004

"Não venha com essa manipulação, companheiro Duílio, porque os 80.148 votos do companheiro Russomanno em 2000 vão ser do PT neste ano. Ou você acha que nossas políticas sociais não contam nessas horas?".


 


"Desculpe o amigo João, mas com toda a franqueza, pode tirar o cavalinho da chuva porque aqueles votos do Russomanno serão meus. Depois que o Salles me arrumou uma tropa de partidos aliados, não tem cabimento você acreditar que vou deixar de conquistar os votos do meu amigo Russomanno".


 


"Que falta de respeito dos senhores candidatos! Onde já se viu esquecer que estou na praça dos votos, que sou triprefeito, que basta falar Brandão para o povo saber de quem se trata?".


 


"Com todo o respeito que o senhor merece, doutor Brandão, mas doutor por doutor eu também sou. Quem não conhece o médico do Ratinho? Sou deputado estadual, estou todos os dias nas ruas, sou mais jovem que o doutor Brandão e só não vou tirar o sono de vocês todos ainda porque não me decidi se me candidato ou não".


 


"É claro que o caro companheiro Zé Dilson vai se candidatar. Será um dos meus principais cabos eleitorais, porque o posto de vice-prefeito, você sabe, é decisão do partido e não posso garantir. Mas com a gente você terá tudo do que precisar para as próximas eleições a deputado estadual ou federal".


 


"Estão vendo vocês como o PT é encardido na sedução dos candidatos? Já está com toda essa prosa para cima do Zé Dilson. Mas posso garantir que há um lugar reservado para ele. Acho que vou colocar o Salles para conquistá-lo".


 


"Pare com isso, Duílio, porque por mais poder de sedução que o Salles tenha, nada garante que o Zé Dilson vá bandear para o seu lugar e me tirar do segundo turno. Estou de olho nele também. Já imaginou uma chapa de doutores? Eu, doutor triprefeito, respeitado nas zonas mais nobres e próximas do centro, e o Zé cuidando da periferia?".


 


"Pare com isso, companheiro Brandão, pare com isso. O Zé Dilson não vai nos abandonar na reta de chegada. Temos conversado muito e ele sabe o quanto a máquina de governo pode colaborar para sua próxima candidatura".


 


"Estou só ouvindo, só ouvindo, porque ainda não me decidi. O que sei, e todos sabem, é que a herança de mais de 80 mil votos do Russomanno tem a minha cara. São votos dos excluídos municipais, aqueles que não estão nem aí com as cores de Santo André. Gente pobre ou rica, tanto faz, que está inconsolável com o quadro municipal, regional e nacional mas está engajadíssima nos direitos do consumidor".


 


"De fato o companheiro Zé Dilson tem razão. Os votos que o companheiro Russomanno tomou do Celso Daniel nas últimas eleições em Santo André são aquilo que os acadêmicos chamam de híbridos, ou seja, uma parte de alienados políticos, outra parte de engajados consumidores".


 


"Está certíssimo, João, está certíssimo, vejo que o sindicalismo lhe deu certo conhecimento sobre o povo, mas por isso mesmo os votos do Russomanno vão ser meus. Quem está satisfeito com as travessuras do PT em Brasília? E quem não é oposicionista de carteirinha na falta de qualidade de prestação de serviços públicos e privados? Pois é: esses inconformados vão votar em mim, porque represento a verdadeira oposição ao PT em Santo André".


 


"Calma lá, Duílio, calma lá! Nada de tentar monopolizar o discurso oposicionista. A diferença entre eu e você é que sou mais mineiro. Um mineirinho jeitoso, como dizem. O povo vai me dar mais atenção porque minha linha é mais discreta, menos ácida. Você radicaliza demais. Sou mais confiável para uma transição da centro-esquerda para a centro-direita".


 


"De forma alguma, Brandão. Aprendi com as porradas que levei que o negócio agora é maneirar mesmo. Tanto que juro por todos os juros que não vou tocar no assunto da morte do Celso Daniel".


 


"Estou duvidando, duvidando mesmo, companheiro Duílio, porque você foi um dos primeiros a propagar que foram os amigos do companheiro Celso Daniel que o mataram".


 


"Nesse ponto, me permitam interferir, porque o João tem razão. Quem mora em Santo André e está bem informado sabe que o Duílio estava aliado aos Gabrilles nas denúncias de propina e de vinculação do suposto esquema com o assassinato do Celso Daniel. Acho que ele apostou errado, porque tudo isso acabou rebaixando a auto-estima dos andreenses".


 


"Espera aí, Zé Dilson, espera aí. Vamos cortar esse assunto porque não estou disposto a revolver o passado. Meu negócio é outubro. De agora em diante só falo do futuro".


 


"Não acredito que o companheiro Duílio deixará de criticar o IPTU de nossa cidade e nem vai falar do Caso Waldomiro?".


 


"É claro que não, João. Mas o IPTU e o Waldomiro são coisas do presente".


 


"Em matéria de IPTU estou muito à vontade, porque nos meus tempos de prefeito, todos os tempos, aliás, ninguém reclamava".


 


"É claro que não reclamavam, companheiro Brandão! E tinham do que reclamar? Havia dinheiro sobrando na Prefeitura e o IPTU não representava nem meio por cento da arrecadação geral. Será que o companheiro se esqueceu que veio a evasão industrial e tivemos de recorrer a outras fontes de receita?".


 


"Não venham me dizer que estou reforçando desde já a candidatura do João, mas que ele tem razão, disso não há dúvida. Sou dono de hospital e sei o que se passa. Os convênios com empresas minguam e os doentes abundam".


 


"Obrigado ao companheiro Zé Dilson pela sensibilidade de entender as dificuldades que enfrentamos no Paço Municipal".


 


"Já vi que tem armação entre os dois aqui nesse encontro".


 


"Nada disso, Duílio. Pare de ver fantasmas. Aliás, você tem a mania de ver fantasmas".


 


"Até você, Zé Dilson, vem com esse discriminação? Não vejo fantasma coisa alguma. O que sei e não canso de reclamar é que os impostos municipais são muito elevados em Santo André e isso desmotiva investimentos".


 


"Tem razão o amigo Duílio, porque nos meus tempos de prefeito não criávamos embaraços aos investimentos. Aliás, as indústrias proliferavam por aqui".


 


"Me perdoe o companheiro Brandão, mas o que tínhamos antigamente aqui era um eldorado. Todo mundo queria montar uma indústria na região. Se o companheiro Brandão puxar pela memória e for às estatísticas verá que já nos seus segundo e terceiro mandatos a curva de queda de arrecadação começou a se acentuar em Santo André. E nada foi feito para bloquear a fuga das indústrias".


 


"Vá lá que o Brandão tenha negligenciado o futuro, mas a culpa não é só dele, não. O amigo João, aliás, sabe muito bem disso, porque era sindicalista e sabe o que aconteceu em matéria de relações com as empresas".


 


"Sou obrigado a concordar com o João e com o Duílio".


 


"Calma, companheiro Zé Dilson, calma! Essa história de que os sindicatos afastaram as indústrias é muito conhecida, mas não representa a verdade absoluta. Todos sabem que outros fatores contribuíram para a evasão industrial. Principalmente a política de governos estadual e federal de incentivarem a guerra fiscal".


 


"Com toda a franqueza, outra vez, prefiro não entrar mais a fundo nessa questão. Só sei que meus discursos vão ser cáusticos de condenação da ação sindical. Política não se faz com boas maneiras nem escamoteando verdades".


 


"Espero que o amigo Duílio não se esqueça do segundo turno e me poupe de críticas. Ficaria muito chato ter o seu apoio no segundo tempo se me relacionar entre os motivos das perdas econômicas de Santo André".


 


"Fique tranquilo, Brandão, porque meu negócio é atacar o PT. E deixe de ser pretensioso, porque quem vai para o segundo turno sou eu, com seu apoio. Tenho certeza de que os votos do Russomanno vão vir para mim como os holofotes se direcionam para as celebridades".


 


"Discordo, discordo e discordo. Se eu for mesmo candidato, vocês todos verão que os votos do Russomanno em 2000 vão ser meus com juros e correção monetária. Será que vocês não entendem nada de mídia? Podem dizer que não sou tão bonitinho como o Russomanno, mas tenho a mesma notoriedade. Por que vocês acham que frequento o programa do Ratinho?". 


 


"Que me perdoem os companheiros desse encontro, mas tenho um compromisso lá no Paço e não posso faltar. Aliás, estou certo de que vou continuar lá por mais quatro anos, depois de outubro. Com ou sem os 80 mil votos do companheiro Russomanno. Aliás, para vocês não dizerem que sou egoísta, faço o seguinte trato: repartam igualmente os votos do companheiro Russomanno, que são votos sem cidadania municipal, e não atrapalhem minha vida com os votos do companheiro Celso Daniel. Os 250 mil votos do companheiro Celso, votos de consciência municipal e responsabilidade regional me são suficientes. É atrás deles que estou correndo". 


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