Política

Bandeira Andreense ou
Agência de Emprego?

DANIEL LIMA - 20/04/2004

A escorregadela do candidato petebista à Prefeitura de Santo André no último sábado em almoço no Baby Beef Jardim tem toda a tipologia de um desastre anunciado -- desde que de fato seus adversários se coloquem na trincheira da propagação da bobagem, como se comenta nos bastidores. O oposicionista Duílio Pisaneschi foi tremendamente ingênuo e infeliz ao assegurar aos 300 candidatos a vereadores da Bandeira Andreense -- conglomerado de partidos que o apóia -- cargos comissionados no Paço Municipal a todos que não conseguissem vaga no Legislativo. A divulgação da promessa eleitoral no Diário do Grande ABC de domingo foi ruidosamente comemorada pelos oponentes.


 


Nem poderia ser diferente, porque o delito ético do candidato petebista insere-se como antológica barbaridade pré-eleitoral. Não é preciso ir longe no tempo e no espaço para instalar a declaração de Duílio Pisaneschi num pedestal de desrespeito que fere de morte o senso de responsabilidade pública. Basta lembrar que ainda recentemente perto de 20 mil pessoas se acotovelaram nas imediações do Paço de Mauá na disputa por escassas 600 vagas de empregos temporários de salário mínimo.


 


O fortalecimento da democracia no País começa pelas bases municipais e as disputas eleitorais são oportunidade especial de apurar a qualidade dos pretendentes aos cargos públicos. Na medida em que provocações ao bom senso eventualmente possam ser catalogadas como naturais e que, portanto, devem ser simplesmente esquecidas, como pretendem alguns, acondiciona-se a cidadania política no quartel do nanismo comunitário.


 


Por isso, a proposta de transformar a Bandeira Andreense numa agência de empregos públicos explicitamente apresentada em almoço a correligionários eleitorais requer dura condenação. O candidato Duílio Pisaneschi, duas vezes deputado federal com suporte midiático que todos conhecem, inscreve-se, portanto, na ABBEI (Academia Brasileira de Bobagens Eleitorais Irreversíveis). Caberá a seus apoiadores, a partir de escancarada verbalização de uma prática dissimulada, encontrar meios para amenizar o impacto. Convenhamos, não se trata de tarefa das mais fáceis.


 


Resultado de coalizão de forças políticas inclusive extramunicipais Duílio Pisaneschi pode estar desperdiçando grande oportunidade para elevar a qualidade das disputas eleitorais em Santo André contra o situacionista Partido dos Trabalhadores. Na medida em que o empreguismo ganha mais ênfase que eventual planejamento econômico do Município que mais se empobreceu nos últimos 30 anos no Estado de São Paulo, se desvanecem as expectativas de que a comunidade poderá acreditar em perspectivas do outro lado do muro ideológico.


 


Sim, porque há vitórias e vitórias eleitorais. Contribui muito mais para a comunidade um oposicionismo eventualmente derrotado mas centrado na restauração da força socioeconômica, porque planta a semente de idéias e propostas factíveis, do que um oposicionismo que eventualmente vença essa mesma disputa mas se enclausure na mediocridade do "é dando que se recebe".


 


A gravidade do quadro social e econômico de Santo André e do Grande ABC não pode flexibilizar o conceito de responsabilidade pública. A infelicidade verbal de Duílio Pisaneschi transposta à página de jornal coloca a candidatura do petebista numa corda bamba que seus apoiadores mais próximos, como o advogado Raimundo Salles, candidato a vice-prefeito, certamente não conseguirão amenizar por meio de malabarismos semânticos.


 


Concorrente que mais estrutura parece dispor para disputar com o PT em Santo André, Duílio Pisaneschi conseguiu jogar água no chope de uma confraternização-mobilização interpartidária que reuniu inclusive pesos-pesados da política regional e estadual, casos de Maurício Soares, William Dib e o deputado estadual Campos Machado. Aliás, foi Campos Machado quem destrambelhadamente jogou a isca ao, em tom populista, lançar a idéia do, digamos, reaproveitamento dos candidatos a vereadores não eleitos, introduzindo-os na folha de pagamento da Prefeitura. Duílio Pisaneschi foi fisgado pelo proselitismo que nada custará ao autor, mas pode estragar os planos do replicante. 


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