Política

Como se explica o sucesso
de Avamileno na pesquisa?

DANIEL LIMA - 03/05/2004

Como se explica a estatística da pesquisa eleitoral divulgada ontem pelo Diário do Grande ABC que aponta que a Prefeitura mais duramente atingida nos últimos anos na região tem seu comandante na cômoda liderança de intenção de votos? Reforçando a indagação: como pode a prefeitura petista mais metralhada nos últimos anos apresentar-se à frente das demais administrações municipais do partido? É provável que o Paço de Santo André esteja comemorando os resultados da pesquisa de intenção de votos porque João Avamileno bate o segundo colocado, o triprefeito Newton Brandão, por 31,7% a 13,5%, enquanto Duílio Pisaneschi está num terceiro lugar mais que discreto, com apenas 7,8% da preferência do eleitorado.


 


Vamos tentar destrinchar as prováveis razões que levaram os petistas de Santo André a terem saído das profundezas do inferno astral de mais de dois anos -- desde o assassinato de Celso Daniel -- para a retumbante liderança pré-eleitoral.


 


Primeiro, hão de convir todos que João Avamileno manteve-se absolutamente ileso na enxurrada de denúncias contra a administração petista de Santo André, a começar da série de supostas propinas e, para completar, da morte de Celso Daniel. Mais que isso: como os oposicionistas juntaram as duas temáticas num mesmo saco, João Avamileno livrou-se completamente da guerra de guerrilhas. Não só isso: as investigações tanto de um caso como de outro lhe conferiram atestado de idoneidade que alavanca a campanha rumo à legitimidade popular do cargo que ocupa por circunstâncias acidentais.


 


Bobagens politizadas


 


Segundo, que os efeitos de campanhas dirigidas também pela oposição de desgaste da administração como um todo, sobretudo na politização das bobagens cometidas pelo Paço em parte da cobrança do IPTU e dos desacertos da área de saúde, não tiveram profundidade devastadora. Paradoxalmente, é possível que diante da estocada sofrida por Santo André com a morte de Celso Daniel, o eleitorado tenha baixado o crivo crítico e elevado o senso de solidariedade à administração municipal, reconhecendo-lhe situação delicada na condução de uma máquina que sofrera terrível golpe.


 


Além disso, sabe-se por outras sondagens que os efeitos do IPTU foram ínfimos, porque os erros de lançamento alcançaram parcela residual de contribuintes, embora oposicionistas tenham tentado de todas as formas -- democracia é isso mesmo -- generalizar o específico. Mesmo a área de saúde é um caos público agora sim generalizado, ou seja, atinge as mais diferentes geografias e emblemas partidários. Quem tem um mínimo de atenção à realidade regional e mesmo nacional sabe que o empobrecimento da classe média aumentou extraordinariamente a demanda por atendimento público de saúde.


 


Terceiro, a divisão dos oposicionistas em Santo André entre os conservadores Newton Brandão e Duílio Pisaneschi confere ao PT duplo e contraditório efeito -- ao mesmo tempo em que eventual segundo turno pode tornar-se realidade, o divisionismo dos concorrentes que apenas se suportam resplandece evidente carência de capacitação estratégica de quem imagina que teria chegado a hora de barrar o PT do baile de gerenciamento público do Município mais fortemente empobrecido no Estado de São Paulo nos últimos 30 anos.


 


Quem morre primeiro?


 


Brandão e Duílio ameaçam composição, seus correligionários mais próximos já fazem esforço nesse sentido, até a Acisa mete o bedelho onde não deveria, mas o fato é que se perguntarem aos dois candidatos quem vai morrer primeiro, a resposta será automaticamente a mesma à indagação sobre quem  concorrer como vice-prefeito -- o dedo em riste será apontado para o outro, mutuamente.


 


A cinco meses da efetiva disputa que confirmará ou não o choro dos perdedores nas sondagens eleitorais, é provável que o Paço de Santo André esteja concentradamente de olho no excessivo índice de eleitores ouvidos pela Brasmarket e que demonstraram disposição de anular, votar em branco ou que ainda não escolheram candidato -- são 43,3% dos entrevistados, número elevadíssimo já que em São Bernardo o efetivo é de 33,1%, em São Caetano de também 33,1%, em Diadema de 22,1%, em Mauá de 38,6%, em Ribeirão Pires 28,7% e em Rio Grande da Serra 27,5%.


 


Há pelo menos duas veredas que poderiam explicar o desgarramento numérico de Santo André em relação aos municípios mais próximos da numerologia de votos brancos, nulos e de indecisos. Primeiro, uma parcela estaria eventualmente desgastada com a administração municipal face às circunstâncias nebulosas em que se transformou o caso Celso Daniel e também às propaladas propinas. Essa situação estaria ligada em parte à segunda -- uma eventual descrença nas opções oposicionistas que se apresentam, praticamente do mesmo viés conservador.


 


Faltou um concorrente


 


No caso específico de Santo André a pesquisa Brasmarket/Diário talvez tenha cometido uma grande falha, ao desconsiderar a candidatura do deputado estadual José Dilson, cujo viés populista de Médico do Ratinho tem cristalizado preferência eleitoral significativamente semelhante à de Celso Russomanno, fora do combate deste ano mas que em 2000 chegou a 80 mil votos. A inclusão de José Dilson no rol de concorrentes ao Paço de Santo André rebaixaria o número de votos nulos, em branco e de indecisos.


 


Embora a liderança de João Avamileno seja o dado mais impressionante da pesquisa -- não propriamente pelo posicionamento, mas pelas circunstâncias e pelos números decepcionantes dos principais oponentes --, o fato mais intrigante mesmo está localizado em Ribeirão Pires, onde o candidato petista Jair Diniz, com todo o apoio da prefeita Maria Inês Soares, tem míseros 6,5% dos votos, atrás de quatro concorrentes, o principal dos quais Valdírio Prisco, com 25,9% das intenções de votos.


 


O massacre de William Dib sobre Vicentinho Paulo da Silva já era esperado pela mobilização do candidato do Paço em direção aos redutos petistas da periferia. A disputa palmo a palmo em Diadema faz parte da rotina histórica da cidade mais politizada da região. O domínio Tortorelliano travestido de José Auricchio em São Caetano é a crônica de uma escolha majoritariamente antecipada e garantida por um exército de situacionistas que não deixa espaço para o adversário além de suas próprias cidadelas.


 


A pole-position de Leonel Damo em Mauá exprime a força da memória eleitoral combinada com intrigas de facções petistas do Paço. E a disparada do jovem Adler Kiko Teixeira em Rio Grande da Serra coloca o petista Carlos Augusto Cesar Cafu em situação dramática.


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