Ao juntar a fome da memória eleitoral do triprefeito Newton Brandão com a vontade de comer de abundantes recursos de campanha de Duílio Pisaneschi, a coalização de forças conservadoras que pretendem apear o Partido dos Trabalhadores do Paço Municipal de Santo André antecipa precocemente uma decisão que poderia ser tomada com mais vagar.
O anúncio de que Brandão e Duílio perfilam no mesmo passo em busca da vitória eleitoral em outubro surpreendeu provavelmente até o agora coordenador da campanha da dupla, o advogado Raimundo Salles, ainda hoje em dezenas de outdoors exibindo ares de confiança ao lado de Duílio Pisaneschi. O que teria acontecido para, num lance provavelmente tão rápido quanto precipitado, Duílio e Brandão esquecerem antigas diferenças e juntarem forças?
Não fosse um detalhe, seria perfeita a lógica de que devem abreviar o período da disputa pelo Paço, evitando o segundo turno em que a militância petista sempre faz a diferença: quem disse que o popular, para não escrever populista, deputado estadual José Dilson não se lançará à oferta da periferia que consagrou o alienígena Celso Russomanno com 80 mil votos num pleito contra o então imbatível Celso Daniel?
Os 43% de eleitores que se disseram dispostos a votar em branco, nulo ou fazem parte dos indecisos na pesquisa da Brasmarket estimulam José Dilson a pretender uma terceira via que, em última instância, poderia simplesmente anular o núcleo da opção Brandão-Duílio -- ou seja, o segundo turno.
Medidas apressadas
O vazamento dos dados eleitorais da Brasmarket, publicados domingo pelo Diário do Grande ABC, apressou a tomada de decisão dos conservadores. Acelerou-se o ritmo de uma deliberação emanada do Palácio dos Bandeirantes, onde o governador segue à risca a estratégia peessedebista de procurar eleger o maior número de prefeitos em grandes municípios.
Entretanto, havia tempo de sobra para que a medida pudesse ser cristalizada menos ao sabor das circunstâncias e mais sob o suporte de planejamento metodologicamente irrepreensível. A submissão de Duílio Pisaneschi à chapa de Newton Brandão foi provavelmente um gesto doloroso para o ex-deputado federal, cujo grande sonho de assumir o Paço sofre novo adiamento, qualquer que seja o resultado de outubro.
Já em 2000 Pisaneschi abandonou a disputa e seus assessores teriam estimulado o tráfego temporário de Celso Russomanno. Uma operação que lhe custou caro na disputa à Câmara dos Deputados, quando lhe faltaram alguns pares de votos para alcançar o terceiro mandato consecutivo.
Efeito aritmético
O que mais interessa de fato nessa composição de centro-direita é até que ponto gerará frutos eleitorais. Em princípio, Brandão e Duílio somam tanto quanto dois mais dois são quatro. Ou seja: é uma coalização de efeito aritmético, não geométrico, porque praticamente se rivalizam no perfil do eleitorado que lhes daria guarida.
Brandão tem eleitorado envelhecido mas mais elástico, por força dos três mandatos como prefeito. O contraponto que embalaria a dupla seria um Duílio que caísse nos braços do eleitorado mais jovem, mais questionador, mas não é exatamente a essa conclusão que se chega quando se esmiúça o desempenho do ex-deputado.
Aparentemente, quem ganhou com a medida foi o prefeito João Avamileno que, segundo oposicionistas, de pressupostamente em estado de pânico até outro dia assume a liderança da corrida eleitoral e coloca os principais oponentes em destrambelhada ação conciliadora. Também ganha José Dilson, cujo passe se torna mais valioso na medida em que, como terceira via ou suporte de uma das duas chapas principais, poderia influenciar fortemente na arregimentação de votos menos calóricos de municipalismo, porque se insere numa dialética de celebridade prestadora de serviço.
A exposição no Programa do Ratinho confere a José Dilson o ingresso em residências de massas populares desvalidas e geralmente desesperançosas. Recônditos onde geralmente as pregações ideológicas cedem espaço à espetacularização do caos metropolitano combinada com a aura de socorro material e espiritual dos desafortunados.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)