Sob nenhum aspecto a Frente Andreense conseguirá sensibilizar eleitores minimamente atentos. A truculência com que seus advogados agiram para impedir a publicação da pesquisa Brasmarket/Diário enquadra-se num ringue de equívocos em que os nocauteados são os próprios proponentes da ação liminar. A correlação entre o ato em si e os tempos de ditadura militar e arbítrio é imediata, por mais que se procure envernizar a iniciativa de direito inalienável.
Há mais sombras nesse caso do que poderiam imaginar os leitores. A impressão que se tem quando se observa as mexidas no tabuleiro da Frente Andreense é que o sonho de seus representantes seria a vitória por aclamação em 3 de outubro. Os adversários, principalmente o PT de João Avamileno, são estorvo que ferem a unilateralidade do desejo.
É pena que o triprefeito Newton Brandão, que construiu história de sucesso em Santo André, se tenha deixado levar pelos parceiros que lhe arranjaram para chegar ao Paço Municipal.
Na última vez que mantive contato com o prefeito Brandão, como sempre o chamei, ele foi enfático ao dizer que não perderia a compostura na disputa que se desenrolava. Estava ele acompanhado de Raimundo Salles, o articulador principal da Frente Andreense.
Público e reservado
Acreditei no prefeito Brandão, entre outros motivos, porque a fama que cultivou ao longo da carreira política é de que suas eventuais destemperanças jamais ultrapassaram as indevassáveis quatro paredes do gabinete do Paço Municipal. Publicamente Brandão sempre se mantém fleumático, afável, simpaticíssimo. Como poderia imaginar que se deixaria contaminar por influências ranzinzas, negativistas, idiossincráticas?
A censura da pesquisa Brasmarket/Diário é traumática para a candidatura Brandão/Duílio. Leitores não toleram ultrapassagens supostamente legais, mas fora do figurino da competição franca e aberta.
Por que a Brasmarket não serve agora se em dezembro, na soma de votos, Brandão e Duílio, ainda separados, batiam João Avamileno? O que mudou? Simples: a cronologia eleitoral é cortante. É um teste permanente de preparo psicológico. Ganha quem tem melhor assessoria, entre outras qualificações. E, queira ou não, Brandão cometeu pecado que pode ser fatal.
Já imaginaram os leitores se a pesquisa abortada pela Frente Andreense no Tribunal Regional Eleitoral apresentasse números favoráveis aos candidatos conservadores? Imaginem se os 14,6 pontos percentuais que separavam João Avamileno de Brandão na pesquisa do final de julho fossem reduzidos em quatro ou cinco pontos agora? O oscilação estaria na margem de erro, é verdade, mas seria tratada em números práticos.
Tudo é apenas conjectura, porque os dados estão proibidos de divulgação. Mas quem garante que um pouco para cima, um pouco para baixo, quaisquer que fossem os números, a candidatura Brandão/Duílio não apresentasse avanço em relação à anterior?
Em vez dessa possibilidade, o que a Frente Andreense conseguiu foi a antipatia de boa parte do eleitorado que ainda está na faixa dos indecisos, o escorraçamento dos opositores e provavelmente a desaprovação dos próprios correligionários.
O que moveu a Frente Andreense à investida judicial provavelmente foram a debandada do advogado Raimundo Salles e a possibilidade de outras defecções com novos números da pesquisa que denunciassem a retirada do coordenador-geral. Um gesto de desespero, como se observa.
Será que uma próxima pesquisa Brasmarket/Diário receberia o mesmo tratamento ou o staff da Frente Andreense se dará conta de que trocou os pés da serenidade pelas mãos da imprevidência?
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)