Política

Luizinho versus Salles
uma disputa anunciada

DANIEL LIMA - 02/02/2005

É provável que nos próximos quatro anos muito será escrito, muito será debatido, muito será inventado, muito será negado, muito será provocado, envolvendo o deputado federal petista Luizinho Carlos da Silva, líder do governo na Câmara, e o multimunicipalista Raimundo Salles. Candidatíssimos à Prefeitura de Santo André nas eleições de 2008, provavelmente não perderão oportunidades para se destacarem em pontos que julgarem apropriados para marcar presença midiática e, igualmente prováveis, não deixarão de revelar calcanhares-de-aquiles, por medirem equivocadamente passos que devem dar em direção ao estrelato.


 


Há características em comum entre os dois. Tanto Luizinho quanto Salles são bons de briga. Encrenqueiros, por assim dizer. Não fogem da luta. Aliás, adoram encontrar ocasião em que possam expor a verve ferina, a rapidez de raciocínio, a sinuosidade, a intempestividade factual, a teimosia estrutural, o estrategismo gélido e o fervilhamento tático.


 


Salles e Luizinho costumam se projetar como especialistas em guerra, mas se deixam trair aqui e acolá pela pressão dos fatos do cotidiano, pela necessidade de preencher espaços. São animais políticos, por assim dizer. Dos mais vigorosos que o Grande ABC já conheceu.


 


Salles está em vantagem no confronto com Luizinho Carlos da Silva porque vive no front do Grande ABC. Costura acordos aqui e ali para disputar uma vaga a deputado federal no ano que vem. Articula-se com fluidez. Tem aliados em todos os cantos. De José Augusto da Silva Ramos derrotado à Prefeitura de Diadema, mas com metade do eleitorado a seu favor, a Adler Kiko Teixeira, prefeito tucano eleito em Rio Grande da Serra. Sem contar que Clóvis Volpi, prefeito de Ribeirão Pires, também lhe é bastante próximo. Para completar, tem um filão do eleitorado de Santo André que pode se cansar de Newton Brandão e de Duílio Pisaneschi em nome de renovação. Dramaticamente, encontra maiores dificuldades na São Bernardo cujo prefeito o alçou ao estafe que conduz o Município, porque ali há muitas feras na parada, feras mais antigas e, principalmente, feridas de ciúme.


 


Luizinho Carlos da Silva saiu consagrado das últimas eleições proporcionais de quase 100 mil votos em Santo André. Ajeitou de tal maneira a cama nas últimas eleições municipais que consagraram João Avamileno que fincou fortes estacas para sustentar candidatura à Prefeitura. Ditou o ritmo de apoio ao candidato petista, frenando e acelerando bases eleitorais de acordo com o grau de negociações nos bastidores petistas. O cargo de deputado federal o retira da casamata de Santo André, concede espaço a Salles, mas se o adversário se eleger ano que vem, o jogo presencial ficará semelhante.


 


É possível que tanto Luizinho Carlos da Silva quanto Raimundo Salles já estejam se preparando para o combate de daqui há quatro anos. Devem estar colecionando percalços do inimigo a ser enfrentado. Raimundo Salles pisou feio na bola, conforme revelou este Diário no último domingo, ao insinuar que estaria por trás do reavivamento da campanha de subtração de parte do território de Santo André em benefício de Rio Grande da Serra, cujo prefeito Adler Kiko à falta de alternativas, pretende surrupiar a fábrica e os impostos gerados pela Solvay para anabolizar o raquítico orçamento municipal.


 


Raimundo Salles, como dizem os jovens de hoje em dia, queimou o filme com a interferência de conhecimentos jurídicos num assunto abrasivo e que, no fundo, no fundo, é um presente de grego para quem quer ser prefeito em Santo André de mais de 400 mil eleitores contra pouco mais de 20 mil de Rio Grande da Serra.


 


Evidentemente, o deputado Luizinho Carlos da Silva não perdeu a oportunidade para fustigar o adversário de 2008. Usou inteligentemente de ironia para chamar a atenção dos leitores deste jornal. Lembrou que é contra-senso Salles defender rupturas geoeconômicas contra o Município que o acolhe domiciliar e profissionalmente. Uma estocada e tanto que possivelmente levou Raimundo Salles a sentir o golpe.


 


Mas, já imaginando as disputas em 2008, Salles tem contragolpe preparado contra Luizinho Carlos da Silva. Talvez possa até lá vir a perder terreno, mas que há um buraco na biografia do professor Luizinho não resta dúvida: a vinda de uma universidade pública federal para o Grande ABC é uma promessa antiga do deputado, um anúncio recente do mesmo deputado, uma fratura pedagógica ainda reticente na vida do deputado, e como tal poderá ser tratada pelos adversários.


 


Luizinho e Salles são ótimas atrações para a temporada de votos de 2008. Que se cuidem, entretanto, porque nada lhes garante que sejam as únicas peças de perfil supostamente renovador na política de Santo André. Uma terceira via poderá lhes atrapalhar os planos. 


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