O PT vai se esforçar para curar as feridas, mas seja qual for o resultado das prévias de 11 de novembro, que vão decidir quem será o candidato do partido nas eleições municipais do ano que vem, o estrago já está feito. Só falta saber a extensão e a profundidade. Entre perdas e danos, pouco se salvará da divisão que sair derrotada de uma disputa que vai muito além de certa elegância autoprotetora que resiste nas páginas de jornais. O PT de Santo André está em guerra pela sucessão de João Avamileno. E o espírito de Celso Daniel embala os concorrentes como salvo-conduto de legitimidade partidária e popular. Os concorrentes não abrem mão de chamar Celso Daniel para a disputa porque entendem que é um reforço considerável tanto nas prévias quanto no pós-prévia, de conquista do eleitorado em geral.
Recorrer a um morto praticamente canonizado por conta das circunstâncias que o abateram é tática para edulcorar a beligerância que move as duas candidaturas. Mas os oposicionistas estão atentos. O principal deles, o advogado Raimundo Salles, segue vasculhando cada canto de Santo André em busca de votos. Até ao transporte coletivo tem recorrido na condição de passageiro para conhecer mais de perto a opinião do eleitorado e quebrar um dos supostos pontos negativos de que frequentaria mais assiduamente as rodas da classe média.
Raimundo Salles evita críticas ao PT entre outros motivos porque surfa na maré de problemas do adversário. Secretário de Comunicação de São Bernardo, Raimundo Salles alcançou mais de 55 mil votos nas eleições a deputado federal no ano passado. Ficou atrás apenas de Vanderlei Siraque em Santo André. Pacientemente constrói rede de partidos que deverão, com candidatos a vereador, fornecer cabos eleitorais a fim de massificar os trabalhos de sensibilização do eleitorado.
Hostilidades explícitas
A crise do Partido dos Trabalhadores em Santo André promete expandir-se porque há hostilidades explícitas que dificilmente resistirão a apelos ideológicos de uma centro-esquerda prevalecente entre militantes.
O que resta saber é até que ponto a ruptura não abrirá a boca do jacaré de complicações eleitorais no futuro, como nas prévias disputadas em 1992 entre o sindicalista José Cicote e o economista Antonio Carlos Granado. Apoiado pelo grupo de Celso Daniel, Granado perdeu a convenção e Cicote não teve forças partidárias efetivamente unidas para superar o adversário Newton Brandão.
De um lado do tabuleiro de complexas equações numéricas que procuram desvendar a alma dos filiados estão os aliados do prefeito João Avamileno, sempre assessorado pelo influente filho Fabrício, colaborador direto do deputado estadual Vanderlei Siraque, o candidato do prefeito. Do outro lado está a vice-prefeita e secretária municipal Ivete Garcia, apoiada pelo marido até outro dia secretário de Governo da Prefeitura, Mário Maurici.
Peça-chave à governabilidade do Paço Municipal no período pós-Celso Daniel, Mário Maurici foi destronado por João Avamileno no primeiro dia útil após o próprio prefeito colocar fogo no Paço Municipal e proclamar apoio formal a Vanderlei Siraque. Avamileno tomou decisão surpreendente para quem conhece, reverencia e proclama o temperamento calmo e tolerante cultivado desde os tempos de liderança sindical. Ele elegeu Siraque o candidato ideal do PT sem ao menos comunicar previamente qualquer integrante do secretariado e do próprio partido.
Política à parte?
O prefeito de Santo André se defende das críticas de que tenha exonerado Mário Maurici por conta de retaliação à influência do relacionamento familiar com Ivete Garcia na máquina do governo. “Secretário não tem de fazer política na Prefeitura, e sim trabalhar em prol do Município” — disse Avamileno ao Diário do Grande ABC de quarta-feira, 17 de outubro, dois dias depois do anúncio da demissão.
Uma declaração estranha, por conta de, pouco menos de uma semana, ter ocupado a manchete do mesmo jornal para declarar apoio a Vanderlei Siraque. Avamileno justificou posicionamento por entender que o deputado estadual tem história política e eleitoral de vitorioso em três eleições para vereador, ocupou a presidência do Legislativo de Santo André e está há três mandatos na Assembléia Legislativa. Uma coleção de explicações que mostra um concorrente experiente no campo eleitoral. João Avamileno foi mais longe e provocativo, segundo o estafe de Ivete Garcia. Disse que Siraque “sempre mostrou capacidade administrativa e política”.
O prefeito de Santo André só não convenceu quanto à explicação para a demissão de Mário Maurici. A separação das atividades de funcionário público e militante político é dualidade incontornável que mascara a realidade dos fatos. O próprio prefeito de Santo André se tornou vítima da justificativa utilizada para apear o secretário de Governo porque rigorosamente também não segue a doutrina da separação entre militância e governo — como, aliás, nenhum ocupante de cargo público quando metido direta ou indiretamente em disputas eleitorais. Tanto que Avamileno tem participado ativamente da campanha de Vanderlei Siraque rumo às prévias.
Iniciativas criticadas
A dupla iniciativa de João Avamileno, de anunciar apoio a Vanderlei Siraque numa sexta-feira e destronar Mário Maurici na segunda-feira seguinte, foi duramente criticada por vários secretários municipais. Pelo menos dois fatores determinaram o mal-estar que prevalece a ponto de esfriar o relacionamento entre o chefe do Executivo e o secretariado nos dias subsequentes e a ponto de tornar uma reunião de cúpula semelhante a cerimônia religiosa, segundo confidências de alguns dos participantes.
O mal-estar está vinculado a dois pontos. Primeiro, porque nenhum secretário foi comunicado previamente. Segundo, porque o prefeito teria se comprometido, no primeiro trimestre, a apoiar a candidatura de Ivete Garcia. São vários os secretários que garantem essa versão negada pelo prefeito. Atribui-se generalizadamente à participação de Fabrício Avamileno a guinada do pai prefeito. Por isso, ao reagir à exoneração, em diversas entrevistas, Mário Maurici não exagerou na inflexão da voz nem nos argumentos. Disse apenas que João Avamileno foi conduzido à quebra da promessa de apoio a Ivete Garcia por conta de influência filial, nominando o assessor especial de Vanderlei Siraque.
Por isso tudo, embora à primeira interpretação a luta pela vaga do PT na corrida à Prefeitura de Santo André pareça situação que deva ser reduzida simplesmente à dimensão histórica da agremiação e às próprias forças que reunirá para disputar nova reeleição, a realidade é outra e muito mais problemática.
O que está em jogo num primeiro momento é a governabilidade do Paço Municipal e em seguida o modelo de gerenciamento da segunda mais importante administração pública do Grande ABC. São 700 mil habitantes que dependem em larga escala do que for decidido na Prefeitura, inclusive durante o período pós-eleitoral deste novembro e as disputas oficiais de outubro do ano que vem.
Legado ameaçado
Há mais que o risco de as iniciativas da administração Celso Daniel se diluírem em velocidade muito maior que a naturalmente já verificada por conta da ausência física do idealizador e do afastamento de vários dos principais cérebros com quem o então prefeito compartilhava gestão estratégica. Também está em jogo a própria dinâmica da máquina pública nos mais de 13 meses que vão separar as prévias da posse do novo ocupante da Prefeitura.
Exatamente para minimizar os estragos gerais e para capitalizar credibilidade programática, pelo menos num ponto os candidatos Vanderlei Siraque e Ivete Garcia concordam em gênero, número e grau: o legado do prefeito Celso Daniel é esgrimido com a destreza de quem sabe que pesquisas apontam o homem assassinado em 2002 como espécie de mito para a população. Tudo que for relacionado aos três mandatos — o terceiro, incompleto — de Celso Daniel à frente do Paço Municipal, sempre com olhos na regionalidade de um Grande ABC fragmentado historicamente, será avalizado pela população com o mesmo sentimento de quem segue um roteiro sacrossanto.
Se para a população qualquer discurso sobre a importância de políticas públicas adotadas por Celso Daniel será sempre bem-vindo, para a militância com direito a voto o sentido crítico é mais pronunciado. E nesse ponto Ivete Garcia leva vantagem. O estoque factual para avocar para si os louros da proximidade com aquele administrador público não configuraria apropriação indébita.
Primeiro porque Ivete Garcia participou efetivamente do governo Celso Daniel e sempre esteve ao lado da Administração. Segundo porque conta com o apoio de praticamente todas as cabeças coroadas da gestão Celso Daniel, casos do chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, da assessora especial da mesma Presidência, Miriam Belchior, evidentemente do marido Mário Maurici, e de tantos outros que atuaram ao lado do homem que seria o ministro do Planejamento do governo Lula da Silva.
Alinhamento coletivo
Além disso, todo o secretariado do próprio governo João Avamileno, cujas digitais técnicas e partidárias e o senso estratégico foram delineados por Celso Daniel, também está alinhado com Ivete Garcia. Por isso, a decisão de Ivete Garcia requisitar a companhia santificada de Celso Daniel tem repercussão mais verdadeira entre os militantes petistas do que quando sugerida por Vanderlei Siraque. Na voz de Vanderlei Siraque qualquer enunciado sobre Celso Daniel parece recurso de marketing.
Embora o deputado estadual tenha portfólio com série de atividades operacionais resolutivas na área de Segurança Pública, perde credibilidade quando se refere a Celso Daniel. O problema é que, exatamente porque pertencia a outro grupo político do PT de Santo André, Siraque conviveu de fato muito pouco com o então prefeito. O deputado estadual sugeriu numa entrevista que um dos motivos de reivindicar a vaga do PT à disputa à Prefeitura é o histórico no partido, numa mistura de cronologia e meritocracia por conta de que não haveria mais ninguém que lhe pudesse opor resistência.
Por conta desse raciocínio, o petista estaria mesmo na linha de sucessão. Celso Daniel morreu, Klinger Sousa abandonou a vida pública, João Avamileno não pode concorrer de novo, Luizinho Carlos da Silva foi sacrificado no Mensalão e Miriam Belchior não quer saber de votos, exceto como especialista em desvendar intenções de militantes e eleitores comuns. Sobrou Vanderlei Siraque como a opção lógica no sentido especificado pelo próprio deputado. Ao que reagiu Mário Maurici numa entrevista a programa de TV regional. Com a elegância verbal de sempre, Maurici sugeriu que Siraque pretendia estabelecer regime de dinastia partidária.
Legitimidade incontestável
Fugir da constatação de que quem mais se aproxima do legado de Celso Daniel e está muito mais próximo do secretariado municipal é mesmo Ivete Garcia apenas para transmitir a sensação de imparcialidade na análise do quadro pré-eleitoral interno do Partido dos Trabalhadores seria sonegação informativa. A influência de todos esses nomes no dia da votação é outra história. Até que ponto o fato de Miriam Belchior ter participado de uma plenária de apoio a Ivete Garcia no Clube de Portugal e de ter feito pronunciamento incisivo de adesão à candidatura da primeira mulher com possibilidades de chegar à Prefeitura de Santo André também é subjetivo na atividade político-partidária e eleitoral.
Os bastidores da corrida pela glória de concorrer oficialmente à Prefeitura de Santo André no ano que vem com a estrela vermelha no peito poderiam servir de roteiro para uma obra-prima sobre a elasticidade do conceito de ética na política. Vale tudo para conquistar o voto dos filiados. Até mesmo a captura temporária da CPU do computador de Mário Maurici, logo após desocupar o gabinete mais importante do Paço Municipal — depois do reservado ao prefeito João Avamileno.
A invasão da privacidade funcional de Mário Maurici virou arma de guerra eleitoral. Contam-se histórias diversas sobre o que estaria registrado no equipamento. Haveria algum combustível suficiente para atear ainda mais fogo na disputa. Manifestações de apoio pós-queda de importantes secretários poderiam virar peça-chave para futuras demissões que estariam reservadas para dias subsequentes às prévias. Sejam quais forem os resultados das urnas.
Já do outro lado, espalha-se a informação de que Mário Maurici estaria por trás do desgaste do reitor Odair Bermelho na Fundação Santo André. Ele teria preparado a mobilização que culminou com a invasão da reitoria e, em seguida, com um corolário de complicações. Tudo para ferir fundo Vanderlei Siraque, responsável pela retaguarda política que levou Bermelho ao cargo. A versão não passaria de maledicência dos adversários de Maurici.
Contabilidade conveniente
São anunciados 2,8 mil petistas habilitados às prévias, mas não devem comparecer durante o dia inteiro na Câmara de Vereadores mais que 1,8 mil militantes. Exércitos de voluntários misturados com funcionários públicos, sindicalistas e simpatizantes varrem cada pedaço de chão do Grande ABC onde consta endereço de quem tem direito a decidir a sorte do concorrente à sucessão de João Avamileno.
A contabilidade prévia dos votos depende da posição dos interlocutores. Dá-se como certo que a disputa se encerrará no primeiro turno, depois que o vereador Cláudio Malatesta, presidente local do PT e membro da família Avamileno, confirmou suspeitas e renunciou para aliar-se a Vanderlei Siraque. Espera-se o mesmo de Ivo Martins, outro suposto concorrente que, de fato, quer espaço na máquina pública, porque é assim que se produz política em qualquer lugar do planeta. Ele correria para os braços dos eleitores internos de Ivete Garcia. Os estimados 5% dos votos que deteria dos filiados podem fazer a diferença. Ninguém aposta em vantagem superior a 100 votos quando as urnas forem apuradas.
Os aliados de Vanderlei Siraque somam eleitores aqui e ali, fazem análises diversas e chegam à conclusão de que obterão 55% dos votos. Os correligionários de Ivete Garcia concordam com o universo de votos, mas discordam frontalmente do resultado final: seriam 60% para a mulher que militou durante muito tempo no Sindicato dos Químicos de Santo André.
O ângulo democraticamente compensador da crise no PT de Santo André na ótica de quem enxerga os partidos políticos muito além de reduzido clube de amigos circunstanciais é justamente a capilaridade participativa dos filiados. Essa avaliação é relevante quando se trata da tradição político-partidária no País, principalmente de agremiações avessas ao associativismo e à gestão pública mais próxima dos contribuintes.
Guerra de informações
Por isso a guerra de informações entre petistas se intensifica até as prévias, com direito a desvios éticos nem sempre camuflados. Cada voto de indeciso será comemorado ruidosamente. Por mais que haja certa unanimidade na observação de que os votos já estão definidos, mesmo entre filiados mais distantes do dia-a-dia da administração petista em Santo André, carrega-se a expectativa de mudança.
Conquistar mentes faz parte do roteiro de sedução do qual a mídia é peça importante. Por isso, a assessoria de Imprensa do deputado Vanderlei Siraque foi reforçada e distribuiu comunicado na segunda-feira seguinte à festa de 25 anos de formação da Comissão de Fábrica da Volkswagen, no Restaurante Florestal, em São Bernardo.
Na nota, além de destacar a participação de Luiz Marinho, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema e atual ministro da Previdência Social, atraiu-se a atenção para o chamamento de Vanderlei Siraque ao palco exatamente pela voz de Luiz Marinho, onde se juntou ao prefeito João Avamileno e ao atual presidente da entidade, José Lopez Feijóo, além do presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Carlos Alberto Grana, e outros representantes da categoria.
A gentileza que Vanderlei Siraque recebeu do ministro Luiz Marinho foi explorada com fotografias e informações que sugeriam apoio do ministro. A realidade, entretanto, é que Luiz Marinho está engajado na candidatura de Ivete Garcia. Ele é um dos embaixadores mais estrelados de Brasília para atuar em favor da vice-prefeita. A mulher do ministro é assessora na Prefeitura de Santo André e jamais escondeu preferência por Ivete Garcia.
Oponente atrasada
O mesmo relato da assessoria de Vanderlei Siraque não deixa de estocar Ivete Garcia ao destacar que a concorrente à Prefeitura de Santo André só chegou ao restaurante por volta de 23h30, depois que todas as homenagens foram prestadas aos membros da Comissão de Fábrica, antigos e atuais, e a funcionários com atuação na Cipa. Caso de Genária Marques dos Santos, que recebeu um troféu. O texto é provocativo nas aspas atribuídas a Genária Marques: “É uma pena que ela tenha se afastado da base, pois a base é tudo” — disse, referindo-se à ex-sindicalista Ivete Garcia.
Já a assessoria de Imprensa da vice-prefeita, igualmente reforçada por jornalistas experientes, mostrou-se mais comedida na cobertura da chamada Plenária de Organização da Campanha, no Clube de Portugal, em Santo André, coincidentemente na mesma noite do evento em São Bernardo. Daí o atraso de Ivete Garcia. Mais de mil pessoas participaram do encontro que teve como mestres-de-cerimônias o sindicalista Carlos Alberto Grana e Angélica Fernandes, membro da Secretaria de Formação Política da Comissão Executiva do PT Estadual e integrante da corrente Articulação de Esquerda.
Quem mais chamou a atenção, além da pré-candidata petista, foi a assessora especial da Presidência da República, Miriam Belchior, secretária municipal nos tempos de Celso Daniel, seu primeiro marido. Miriam Belchior é reforço substancial da campanha de Ivete Garcia. Entre outras qualidades é especialista em decifrar a movimentação de votos dos filiados. “Este ano pedi desculpas ao presidente por faltar ao aniversário dele e expliquei que era fundamental ir a Santo André dar o meu depoimento” — disse a uma platéia exultante.
E não economizou elogios a Ivete Garcia: “Ela se preparou para governar a cidade. Atuou no sindicalismo, na coordenação da Assessoria da Mulher na primeira gestão de Celso Daniel, na Câmara de Vereadores, onde foi a primeira presidenta, e agora no Executivo. Ela reúne todas as características para liderar um governo de sucesso” — afirmou Miriam Belchior.
A expectativa de que o chefe de gabinete da Presidência da República e ex-secretário de Governo de Celso Daniel, Gilberto Carvalho, participasse da plenária, acabou frustrada. Gilberto Carvalho provavelmente preferiu não contrariar cuidado por conta do cargo que ocupa, mas a versão de que o governo Lula da Silva não se preocupa com a disputa pré-eleitoral do PT em Santo André está longe da verdade. Trata-se de uma das muitas variáveis para confundir o eleitorado que tanto o estafe de Siraque quanto de Ivete Garcia usam sem pestanejar.
Gilberto Carvalho está com Ivete Garcia. Numa entrevista ao Diário do Grande ABC de 17 de outubro, no auge do fogaréu no Paço Municipal, ele anunciou apoio à candidata: “Não tenho nada contra o Siraque, mas o meu apoio será para a Ivete, que, para mim, reúne grande capacidade administrativa e está muito bem preparada para o cargo” — disse.
A demissão de Mário Maurici surpreendeu Gilberto Carvalho: “Ele sempre foi fiel às decisões do João Avamileno. Recebi a notícia com muita tristeza. Fiz o que pude para tentar impedir a demissão do Maurici” — afirmou o chefe de gabinete de Lula da Silva ao, mais que dar indícios, confirmar as tratativas de pesos pesados tanto do Paço Municipal e do Palácio do Planalto para impedir a demissão do então secretário de Governo.
A versão intocável quanto àquele desenlace é que, ao ser comunicado da exoneração pessoalmente por João Avamileno, Maurici sugeriu que se transformasse a medida em férias que se esticariam até alguns dias após as prévias, evitando-se desdobramentos que atingiriam a imagem do partido. Em seguida, de acordo com o resultado da disputa, sugeriu Maurici, o prefeito poderia definir a questão. João Avamileno pediu tempo, mas retomou o diálogo sem alterar a decisão. Ou seja: nem os apelos de Gilberto Carvalho para evitar que o Paço Municipal entrasse em convulsão foram ouvidos porque a interpretação do grupo que apóia Vanderlei Siraque convergiu para a necessidade de dar espécie de basta na imagem de que João Avamileno não detinha o controle do Paço Municipal e que Mário Maurici era um representante de Brasília com poderes ilimitados.
Ex-prefeito de Franco da Rocha, cidade-dormitório da Grande São Paulo, hábil articulador, Mário Maurici manteve respeito público por João Avamileno em todas as demandas da Imprensa. Mas não resistiu ao uso da crítica para encostar contra a parede o argumento de Vanderlei Siraque para apoiar a decisão do prefeito João Avamileno: “O desentendimento entre mim e o Siraque foi em março. Ele queria que eu me demitisse, porque me acusava de favorecer a Ivete. Será que agora ele quer que o prefeito se demita porque o apóia? Agora pode?” — ironizou Mário Maurici.
A crise no Paço Municipal era apenas uma questão de tempo. E nada indica que vai ser superada depois das prévias. Seja qual for o resultado, o oposicionista Raimundo Salles (e outros potencialmente menos votáveis) agradece.
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05/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (21)