Principal adversário do Partido dos Trabalhadores nas eleições do ano que vem, o advogado Raimundo Salles, secretário de Comunicação da Prefeitura de São Bernardo, garante que dará a Santo André o que chama de administração empresarial, em contraponto ao que relaciona como modelo ideológico. Salles fala com a impetuosidade de quem quer demarcar o espaço num território oposicionista fragmentado.
O senhor se considera, no momento, o candidato de oposição mais viável para enfrentar a candidatura petista no ano que vem?
Raimundo Salles — Sim. Nas eleições de 2006, recebi aproximadamente 57 mil votos. Fui o candidato a deputado federal mais votado em Santo André e poderia estar eleito em diversos partidos. Foi a minha primeira experiência eleitoral e obtive seis mil votos a mais que o Professor Luizinho (PT) em Santo André, e mais que o deputado estadual Vanderlei Siraque (PT) no Estado de São Paulo. Considero-me um vitorioso. Para a próxima eleição, apresento propostas novas e não tenho amarras com velhas raposas políticas de Santo André. Entendo que a política local é um jogo de cartas marcadas. Chegou a hora de mudar esse jogo. O povo está cansado de política, de políticos e, em especial, de politicagem.
Meu estilo operacional vai cair no gosto do povo de Santo André, pois não sou político tradicional. Quero administrar fundamentado em princípios cristãos de solidariedade e amor ao próximo, o que, no meu entender, falta aos políticos de hoje. Já conto com oito partidos, 87 pré-candidatos a vereador e um partido forte que é o DEM, ex-PFL, nacionalmente de oposição ao PT. Portanto, possuo todas as condições objetivas para o enfrentamento com o Partido dos Trabalhadores. Acredito que nas próximas eleições haverá uma onda favorável à gestão empresarial no setor público e em Santo André também. Venho com discurso fundamentado na verdade, no respeito ao próximo e com coragem. O modelo que o leitor buscará nas próximas eleições será o de uma pessoa capaz de gerir e resolver seus problemas. Modelo ideológico, em minha opinião, está falido. Acho que o eleitor vota na pessoa. A população quer um prefeito humano e que pensa nas pessoas.
Os oposicionistas de Santo André estão fragmentados em várias pré-candidaturas. O senhor acredita que será possível dar certa ordenação e, com isso, encontrar o caminho da união?
Raimundo Salles — Acredito. Não podemos retirar das pessoas o desejo de se apresentarem como candidatas, pois lançar candidaturas faz parte do projeto de todos os partidos que desejam se firmar. Esta é a razão pela qual entendo que as forças políticas da cidade que se opõem ao Partido dos Trabalhadores têm legitimidade de apresentar candidatos no primeiro turno. A regra de dois turnos em eleições municipais foi criada justamente para isso: no primeiro turno podem ser lançadas candidaturas mesmo que de grupos ideológicos semelhantes. Entretanto, tenho absoluta convicção de que, no segundo turno, estaremos juntos, especialmente os candidatos que hoje se apresentam como opção ao governo petista de Santo André.
Quem é o candidato do PT que poderia oferecer menor resistência ao projeto de chegar ao Paço Municipal? O que distingue Ivete Garcia de Vanderlei Siraque?
Raimundo Salles — Para enfrentar qualquer um terei a mesma estratégia: mostrar minhas propostas e destacar que o projeto de administração do Partido dos Trabalhadores em Santo André está esgotado. Entendo que a diferença entre Ivete Garcia e Vanderlei Siraque é muito pequena. É a mesma que separa a Pepsi Cola e a Coca-Cola. Parecem-se muito no conteúdo e no gosto e diferenciam-se no consumo.
O senhor acredita que o PT tem combustível para queimar na disputa interna que definirá o candidato do partido e, por isso, pode se dar ao luxo de ficar despreocupado, por enquanto, com as eleições de outubro do ano que vem?
Raimundo Salles — Volto a frisar que não me preocupo com meus adversários. Eles têm de buscar o consenso e nós teremos de apresentar uma proposta que seja alternativa ao Partido dos Trabalhadores. Temos de cuidar das nossas propostas. Acho que, ao final dessa briga no PT, sobrarão sequelas, uma vez que é declarado que o governo atual, através da máquina administrativa, tem trabalhado sistematicamente em favor de Ivete Garcia. Entendo que ela é candidata da máquina e o Vanderlei Siraque é o do partido. Essa disputa pode trazer cisões irreparáveis.
Qual será a influência do governo federal nas eleições em Santo André no ano que vem? Será maior ou menor que a imagem de Lula da Silva como presidente?
Raimundo Salles — É indiferente. Tivemos a experiência em São Bernardo com o Lula apoiando o Vicentinho e, mesmo assim, ele perdeu por quase 78% dos votos. Acho que as pessoas sabem distinguir o que é administração municipal e do governo estadual e federal. Podemos analisar a eleição do José Serra e do Lula em São Paulo. Tiveram votações expressivas e de correntes políticas diferentes. Acho que estará em julgamento a administração de 12 anos do PT em Santo André, que já está com fadiga de material, ou seja, se esgotou quanto à proposta política. Ademais, como acreditar em um partido que promove o impeachment de Collor, recebe-o no Palácio e o tem como aliado? Critica o excesso de viagens do ex-presidente FHC e faz o dobro de viagens, e ainda compra um luxuoso avião para fazer isso. Por mais de duas décadas chama o ex-governador Maluf de ladrão e depois o incorpora na base de apoio no Congresso. Chamava Orestes Quércia de ladrão e depois pede e recebe apoio dele. Sataniza o governo do ex-presidente Sarney, depois o torna guru de seu governo. Passa oito anos atacando a política econômica de FHC e pratica política mais conservadora ainda. Declara, por anos, que o FMI (Fundo Monetário Internacional) é responsável pela miséria do povo e depois esse mesmo governo petista paga toda dívida com o FMI antecipadamente, descapitalizando o País. Passa anos com discurso em defesa dos aposentados e taxa os inativos. Quando você passa toda a existência falando que os outros partidos não têm ética, que são vendidos e promove o maior escândalo de compra de deputados da história do País (mensalão); quando um presidente, que na oposição tinha opinião sobre tudo e opinava sobre todos os governos, declara que no seu governo não viu, não tomou conhecimento e desconhece qualquer maracutaia; quando esses petistas se juntam aos antigos inimigos e após abandonarem os seus princípios expulsam antigos companheiros como a ex-senadora Heloisa Helena, cuja transgressão partidária foi defender as teses que o partido sempre defendeu; quando o único projeto é permanecer no poder desconsiderando sua história; quando os princípios e a ética perdem valor, não haverá mais razão para permanecer nesse projeto.
Que perfil de companheiro de chapa à Prefeitura de Santo André o senhor já definiu para aproximar-se do eleitorado de incluídos e excluídos, retrato do Brasil?
Raimundo Salles — O perfil do meu vice-prefeito é o de um cidadão que não tenha, até o momento, envolvimento com a política; seja preferencialmente mulher com uma história de luta e de vida que se confunda com a do povo brasileiro. Espero contar com companheira de chapa que ajude a promover as grandes transformações em Santo André.
Em especial, implantar um projeto de gerenciamento administrativo fundamentado em princípios modernos que revolucionem a forma de administração pública municipal, através de uma gestão empresarial e com um prefeito executivo com as seguintes características: maior grau de decisão e responsabilidade administrativa, franco, simples, com habilidade administrativa e política e com coragem de cortar custos e reduzir pessoal. Assim, no modelo de nossa gestão o prefeito moderno tem a responsabilidade de prestar contas e apresentar resultados positivos. Como eu, o meu vice (ou minha vice) deverá ter o estilo de gestão corporativo, ou seja, quero ser um prefeito CEO, onde eu e meu vice vamos tratar Santo André como corporação, seus cidadãos como clientes e os funcionários da administração pública como talentos.
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira