Administração Pública

MBigucci segue na mira do MP da
Capital que investiga Máfia do ISS

DANIEL LIMA - 11/08/2014

A Construtora e Incorporadora MBigucci, alardeada maior empresa do setor na Província do Grande ABC, está confirmadíssima como integrante da Máfia do ISS da Prefeitura de São Paulo. Segundo estimativas preliminares, a ladroagem teria provocado desfalque estimado em mais de R$ 500 milhões aos cofres públicos. A empresa do presidente do Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC, Milton Bigucci, está sendo investigada juntamente com algumas dezenas de organizações privadas que se associaram a servidores públicos.


 


O conglomerado MBigucci é freguês de caderneta do Ministério Público do Consumidor de São Bernardo. Tanto que já foi denunciado à Justiça. O promotor Marcelo Sciorilli apontou o empreendimento de Milton Bigucci como campeão de abusos contra os consumidores. Além disso, a MBigucci arrematou de forma irregular terreno de 15 mil metros quadrados entre a Avenida Senador Vergueiro e a Avenida Kennedy. Essa área nobre de São Bernardo é o local onde a MBigucci constrói o empreendimento Marco Zero. A Administração Luiz Marinho engavetou o processo delituoso e tornou-se aliada do empresário.


 


O conglomerado de Milton Bigucci também foi denunciado ao Ministério Público de Santo André no caso do escândalo do Semasa como agente ativo em negociações que beneficiaram tanto a empresa quanto parceiros em megalançamento residencial ao lado do Shopping ABC. O MP de Santo André ainda não se manifestou sobre a irregularidade apontada pelo advogado Calixto Antônio Júnior, representante do então prefeito Aidan Ravin. Calixto era colaborador informal daquela autarquia de água e esgoto. Atuava especialmente na liberação de licenças ambientais, indispensável à liberação de empreendimentos. 


 


Fugindo da colaboração


 


A MBigucci constou da lista de dezenas de empresas denunciadas pelo Ministério Público de São Paulo há 16 meses como integrante da Máfia do ISS, em conjunto com uma quadrilha de servidores públicos. No último sábado, o MP pediu a prisão temporária de Ronilson Bezerra Rodrigues, ex-subsecretário da Receita Municipal na gestão de Gilberto Kassab.


 


O prefeito Gilberto Kassab foi um dos prefaciadores de um livro lançado há pouco mais de dois anos por Milton Bigucci. Também o prefeito Luiz Marinho, de São Bernardo, aceitou apresentar a obra. O mesmo Marinho envolvido com várias denúncias de irregularidades à frente da Prefeitura de São Bernardo.


 


Independente de juízo de valor sobre a qualidade ética dos negócios que pratica, Milton Bigucci não é um empresário que possa ser chamado de escritor. As arremetidas no campo literário são um labirinto. Suas habilidades escritas rivalizam-se com a destreza de um hipopótamo numa pista de gelo. Ainda recentemente Milton Bigucci lançou um livro sobre sua identificação com o futebol diante de não mais que 50 convidados. A maioria formada de parentes próximos. A assessoria de Imprensa do empresário, que também serve ao Clube dos Construtores, divulgou número de convidados multiplicado por 10. Bigucci tem vocação ao aumentativo. O palco foi o Museu do Futebol de São Paulo. 


 


A intimidade de Bigucci com a bola também não é levada a sério. Entretanto, há quem a reconheça como elemento explicativo ao sucesso empresarial. Ele costuma promover peladas com gente influente do mundo político, empresarial e de gestões públicas na mansão da família no condomínio Acapulco, no Guarujá. Não foram poucas as vezes em que serviu macarronada.


 


Aposta equivocada


 


A denúncia anunciada nos jornais de sábado inclui 11 pessoas, entre as quais ex- servidores da Prefeitura e vários familiares. Segundo os jornais O Estado de São Paulo e a Folha de S. Paulo, ao relatar os crimes cometidos pela quadrilha, o Ministério Público Estadual usa como exemplo seis casos de concussão (quando o funcionário público exige pagamento pra fazer o serviço que deveria) contra seis construtoras que atuam na Capital: Tarjab, Alimont, Brookfield, AMF, Trisul e Onoda. Em nenhum dos casos as empresas aparecem como beneficiárias do esquema de que seriam vítimas.


 


“As empresas mencionadas foram as que consideramos como vítimas”, afirmou o Ministério Público na reportagem publicada pelo Estadão. Quem não consta da relação de vítimas, caso a MBigucci, parceira se tornou do esquema de falcatruas – eis uma conclusão tão óbvia quanto inquestionável.


 


O promotor Roberto Bodini disse à Folha de S. Paulo de sábado que as empresas que não colaboraram com as investigações se aproveitaram do esquema. “Aqueles que optaram e apostaram na ineficiência da investigação, por se esconder, vão ter a resposta futura”, disse o representante do MP. Uma nova preocupação para a MBigucci.


 


Complicações futuras


 


Também escreveu a Folha de S. Paulo que, entre os políticos citados em depoimentos durante a investigação, estão o ex-prefeito Gilberto Kassab e o ex-secretário de governo da gestão de Fernando Haddad, o vereador petista Antônio Donato. Testemunhas afirmaram que eles e outros políticos receberam dinheiro de origem ilícita, mas ambos negaram. “Nós só tivemos êxito porque empresas de construção civil procuraram o Ministério Público e disseram que não estavam conseguindo obter o certificado de quitação do ISS sem o pagamento da propina. “Os superiores, se houver a participação, teria sido por omissão. É uma situação mais complicada de a gente analisar e descrever” disse Roberto Bodini ao jornal paulistano. “Isso significa que não vai haver (denúncia contra eles)? Não estou dizendo isso”.


 


A situação da MBigucci e de outras dezenas de empresas acusadas de relações incestuosas com os servidores denunciados pelo Ministério Público tende a se complicar após recusarem contribuição às investigações. Esta teria sido a senha do MP para separar, de imediato, empresas supostamente vítimas e empresas claramente responsáveis pelo assalto aos cofres públicos da Capital. Segundo o MP, outros inquéritos sobre pessoas citadas e sobre a atuação de empresas e seus representantes continuam correndo no Ministério Público Estadual e na Polícia Civil.


 


Há uma leitura objetiva entre especialistas nas relações de fiscais do ISS da Capital e representantes de empresas que não se dispuseram a colaborar com o Ministério Público Estadual: os interesses pecaminosos entre os fiscais da Prefeitura e os agentes econômicos se mostraram tão próximos e suficientemente reincidentes que qualquer iniciativa que se pretendesse saneadora não encontraria respaldo técnico.


 


Entre entrar na lista negra do Ministério Público em continuadas investigações sobre o caso e entregar de bandeja a própria cabeça, preferiu-se ganhar tempo e, quem sabe, encontrar alguma porta ou janela política para arrefecer a impetuosidade investigatória.


Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André