Secretário particular do governador Geraldo Alckmin, Fernando Leça passa a ter funções múltiplas: além de interlocutor oficial do Palácio dos Bandeirantes na Câmara Regional do Grande ABC é o pacificador de relações que só não foram tormentosas porque descambaram para o desinteresse. Entidade que trafega entre o ficcional e o patético, com expressivo passivo de acordos em vez de realizações, a Câmara Regional poderá ganhar fôlego se o são-bernardense Fernando Leça conseguir tornar-se de fato o embaixador que se espera. Sua missão é eliminar ou pelo menos encurtar a distância que separa o governo do Estado e seus secretários e os governos municipais da região.
Diretamente relacionado com o governador, portanto sem intermediários na sensibilização do comandante do Estado, Fernando Leça tem aparentes respeitabilidade e influência para convencer o secretariado estadual de que a Câmara Regional incentivada não é uma casca de banana a ser evitada a todo custo, sob pena de cometerem escorregões irrecuperáveis. Pelo contrário: a ação de Leça poderia resgatar os primeiros tempos da Câmara apoiada com estardalhaço pelo então governador Mário Covas.
A tarefa de Fernando Leça é fazer crer os secretários e escalões menores da máquina estadual que o Grande ABC fortemente vermelho, dominado por cinco prefeituras petistas, é território político-eleitoral a ser prospectado sim, porque pode gerar frutos generosos numa eventual virada da biruta do apoio ao presidente da República, egresso dessa mesma geografia.
As relações entre prefeitos e deputados petistas e o governo Geraldo Alckmin chegaram aos limites do estresse, segundo revelam fontes insuspeitas do Palácio dos Bandeirantes, especialmente porque não havia um encaminhador de soluções de alta patente e com conhecimento cultural das nuances políticas do Grande ABC.
Tudo será diferente?
O encontro que repaginou as relações institucionais entre Alckmin e os prefeitos locais, notadamente os petistas, recentemente no Palácio dos Bandeirantes, passou pela pacificação explícita que Fernando Leça representa. A garantia de que tudo será diferente estaria na presença permanente da intermediação bilateral de Fernando Leça como embaixador do Palácio dos Bandeirantes no Grande ABC e do Grande ABC no Palácio dos Bandeirantes.
Espera-se que a restauração do monumento de imobilidade institucional da Câmara Regional provoque o milagre de investimentos cirúrgicos à recomposição econômica e social dos sete municípios da região. Aliás, o contragolpe ao estado catatônico precisa ter o poder miraculoso de tornar esse mesmo monumento algo vivo, desperto, reoxigenado, pronto para o enfrentamento das dificuldades que se explicam, entre outros motivos sólidos, pela distância que separa o Grande ABC de impostos arrecadados e impostos devolvidos em forma de investimentos públicos.
O encontro que Fernando Leça manterá na tarde desta segunda-feira com a coordenação executiva da Câmara Regional, na sede do Consórcio de Prefeitos, poderá ser o termômetro dos avanços das relações entre o governo peessedebista de um fortíssimo concorrente ao governo Federal e um grupo de prefeitos petistas vinculadíssimo ao governo federal de plantão.
A prática do toma-lá-dá-cá insinuada pelo noticiário mostra que prevalece o bom senso. Da mesma forma que Geraldo Alckmin precisa dos prefeitos petistas da região para estreitar laços públicos com o governo Lula da Silva, os prefeitos petistas da região esperam de Geraldo Alckmin recursos financeiros geralmente destinados a outras geoeconomias do Estado. E nessa equação, Fernando Leça se tornou ponto de equilíbrio.
Talento para costurar acordos não lhe falta. Leça é dessas figuras públicas que transbordam discrição e simpatia. Tem nervos absolutamente sob controle. Dá a impressão de que, por mais que o terreno seja minado, sabe exatamente onde vai pisar sem causar estragos.
A pauta da reunião que Fernando Leça manterá hoje à tarde com a coordenação executiva da Câmara Regional é razoavelmente interessante para o futuro da região. Os novos acordos que se delineiam envolvem a viabilização do chamado Ferroanel Sul, planejamento e execução do trecho Sul do Rodoanel, a definição do Plano Regional de Turismo com algumas ações de curto e médio prazo, a inclusão do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para implementar programas de financiamento às micro e pequenas empresas, a elevação do teto do Sistema Único de Saúde para o Estado de São Paulo e a criação de um banco de dados de políticas públicas e privadas voltadas a pessoas portadoras de deficiência na região.
Para começar a remontagem de tratados antigos e esquecidos na gaveta de intrigas político-partidárias-eleitorais, nada mal. Mas há coletânea de acordos que precisam ser reavaliados e questões de amplo interesse ao Desenvolvimento Econômico Sustentado que ainda estão longe do alcance dos radares dos gestores públicos locais e estaduais.
O Nosso Futuro é de Plástico é exemplo que, acreditem, deveria ser prioridade absoluta porque representa a maior possibilidade de o Grande ABC recuperar parte do viço industrial com a criação de empregos. Um casamento absolutamente impossível no setor automotivo já exaurido pela ação nefasta do governo FHC.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)