Geraldocá chegou junto com Lulacá mas, convenhamos, está mais eficiente. Traduzindo essa equação político-administrativa: enquanto o governador Geraldo Alckmin já escolheu o embaixador do Palácio dos Bandeirantes no Grande ABC, o governo Lula da Silva mantém estilo de dispersão, depois de informalmente colocar o sindicalista Luiz Marinho para costurar algumas questões repassadas pelo grupo de estudos à Agência de Desenvolvimento Econômico.
Vai ser difícil acreditar que haverá sistematização e produtividade nos pleitos federais do Grande ABC se o governo Lula da Silva não escalar um agente para concentrar e coordenar as demandas locais. Se houver dúvida sobre a operacionalidade da proposta, que se ouça o secretário particular de Geraldo Alckmin, Fernando Leça. Entre várias atribuições, ele está destacado para olhar a geografia do Grande ABC com a perspicácia de quem entende que cada investimento bem feito poderá ser recompensado nas urnas. Especialmente se o Partido dos Trabalhadores não for aquela Brastemp que todos esperam no governo federal.
Não boto fé em qualquer proposta que dispense um coordenador responsável por articulações matriciais. A atomização de supostos representantes do governo Lula da Silva no Grande ABC é a porta de entrada para o inferno de resultados, quando não para resultados seletivamente pontuais e, portanto, maquiadores. Por isso o governador Geraldo Alckmin saltou na frente e escalou um craque na arte de articular respostas indiferentemente de cores partidárias. Fernando Leça provavelmente encarnou algum tecelão de muita destreza, tal a notabilidade com que desembaraça fios idiossincráticos inerentes das atividades políticas. É possível que seus ancestrais no Grande ABC tenham trafegado com desembaraço pelo setor têxtil, outrora grande força de nossa indústria.
Quem seria o melhor embaixador de Lula da Silva no Grande ABC? Há vários nomes que poderiam ser escalados e que já estão em Brasília. Miriam Belchior, Gilberto Carvalho e Jorge Hereda não contam com similaridade de perfil, mas reúnem características individuais que poderiam ajustar as relações entre o Grande ABC e Brasília num padrão de rentabilidade de que tanto necessitamos. Como Leça, não teriam o território regional como exclusividade funcional, evidentemente. Mas teriam, sim, o foco coordenador nos 840 quilômetros quadrados de problemas que precisamos resolver com o suporte do governo federal.
A moral dessa correlação entre o governo oposicionista de Geraldo Alckmin e o situacionista de Lula da Silva, em termos de expectativas para o Grande ABC, é que poderemos ser surpreendidos com volume de resultados muito melhores do Palácio dos Bandeirantes. Aliás, vai ser interessante mesmo comparar ao final de quatro anos o que significou Lulacá e Geraldocá. O ideal seria se houvesse empate com placar de basquetebol.
Seria irônico para a sorte do Grande ABC que tanto esperou por ter representação de verdade em Brasília -- e queiram ou não Lula da Silva é o extremo desse sonho -- se caíssemos no paradoxo de contar com dezenas de militantes regionais petistas nos mais diferentes escalões da frondosa árvore brasiliense e, exatamente por causa disso, não termos coordenação capaz de encurtar a distância entre as nossas latentes vicissitudes e as potencialidades de resolução.
Precisamos de mais um embaixador, além de Fernando Leça. Lula da Silva está fazendo 4 a 1 no jogo de frequência oficial no Grande ABC contra Fernando Henrique Cardoso, mas esse placar pode ser enganoso se o governo federal não souber ramificar seus projetos na região mais seriamente atingida pela globalização.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)