Administração Pública

Desafio à fanfarronice de Marinho:
proíba o empreendimento da EzTec

DANIEL LIMA - 20/08/2014

Reservei um presente de grego ao prefeito da aniversariante São Bernardo, o petista Luiz Marinho. Diferentemente dos jornais que aproveitam a data para publicar edições especiais que não passam de lambeção acrítica, num festival de provincianismo que se espalha por todas as páginas, o que se oferece ao titular do Paço de São Bernardo é um desafio. Que também é uma provocação. Que também é um direito legítimo de fazer jornalismo com responsabilidade social. Algo, que convenhamos, é um acinte na Província do Grande ABC repleta de mandachuvas e mandachuvinhas que se imaginam dono da bola, do gramado, da torcida e do árbitro.


 


O que exponho publicamente a Luiz Marinho é o seguinte: já que disse outro dia ao Repórter Diário que proibiria qualquer empreendimento imobiliário destinado a habitação em área utilizada por indústria, quero ver se terá coragem de vetar a construção de apartamentos que a construtora e incorporadora EzTec prepara para o Bairro Planalto. A EzTec adquiriu aquela área e derrubou as instalações da Knauf Isopor, indústria que se escafedeu da Avenida Álvaro Guimarães há dois anos.


 


Fui pessoalmente ao local. Os tapumes com a logomarca da EzTec estão ali. Sei por informações de fontes da empresa que aquele espaço de metragem não confirmada terá algumas dezenas de apartamentos direcionados à classe média baixa, perfil daquela geografia. Há algumas informações contraditórias sobre o processo burocrático na Prefeitura. Fala-se que já houve autorização à obra. Fala-se também que os trâmites estão em fase de aprovação.


 


Nada é obstáculo


 


Qualquer que seja a situação documental que encaminharia o empreendimento não inviabiliza o autoritarismo e o imperialismo anunciados por Luiz Marinho. O prefeito de São Bernardo disse a plenos pulmões que proibiria ocupação de área industrial por habitações. Travestiu-se de legítimo opositor da especulação imobiliária.


 


Houve quem acreditasse na demagogia do chefe do Executivo. Ao longo de seis anos de mandato, Luiz Marinho muito contribuiu para o afundamento da qualidade de vida no Município e na região. Principalmente por não fazer qualquer movimento contrário à construção de imóveis residenciais e comerciais em áreas já congestionadíssimas.


 


Que providências, por acaso, tomou a gestão de Luiz Marinho para minimizar os efeitos deletérios do sistema viário na Avenida Kennedy, onde se instalou um shopping? O que ali se providenciou para evitar que o caos já comum em tempos passados fosse agravado? Sorte do prefeito que o empreendimento está longe do fluxo imaginado. Há excesso de lojas em centros planejados de compras na região, em contraste com o encolhimento da renda das classes mais graduadas. O Golden Square está em fase de ajustes para tentar descobrir o consumidor que poderá agarrar. Outros fazem o mesmo exercício.


 


Mais exemplos poderiam ser citados como contra-veneno às declarações de Luiz Marinho. Na região do entorno do Paço Municipal, já coalhada de torres comerciais e residenciais que viraram o maior mico imobiliário da Província, a Administração petista autorizou a construção de um hotel aonde funcionava o estacionamento a céu aberto do Shopping Metrópole.


 


Não é preciso ser especialista em mobilidade urbana para projetar uma associação de desassossego e improdutividade aos usuários daquela geografia. Ai os simplistas vão fazer discurso exclusivamente contrários ao excesso de veículos.


 


Cordilheira congelada


 


Sorte também de Marinho que aquele entorno de cordilheira de cimento onde antes funcionava a Tecelagem Tognato está longe da ocupação desejada. Mas o tempo tratará de corrigir a rota de triunfalismo cego dos empreendedores e, quando isso ocorrer, Deus nos livre do que teremos em forma de congestionamentos. Como se o que já temos hoje não fosse suficientemente desgastante.


 


Voltando à área remanescente da Knauf Isopor, as informações vão todas no sentido de que as digitais da Administração Luiz Marinho estão integralmente impressas no projeto daquela construtora e incorporadora. A debandada da indústria se deu no período de gestão de Luiz Marinho, bem como encaminhamento e aprovação do lançamento do empreendimento residencial. Luiz Marinho não poderá alegar que recebeu uma herança maldita do antecessor.


 


Receber herança maldita do antecessor, como é praxe no discurso petista, também é papo furado quando se trata da gestão Luiz Marinho. Ele teve a oportunidade de não só vetar como também de colaborar com o Ministério Público de São Bernardo no caso do Marco Zero, de Milton Bigucci.


 


O que fez o petista? Juntou-se ao empresário que antes tanto detestava, porque apoiava opositores petistas, e engavetou as provas confirmadas pelo então Procurador-Geral do Município. Não se deu conta de que este jornalista já dispunha de toda a documentação.  O Marco Zero é um escândalo dentro e fora de campo. Fora de campo no arremate fraudulento da área. Dentro de campo com o impacto viário que provocará quando estiver a pleno vapor. Algo que também sofrerá atraso cronológico por conta da crise imobiliária.


 


Rompantes ameaçadores?


 


Não se deve duvidar dos rompantes de Luiz Marinho, acostumado a utilizar barricada de trabalhadores em estado de greve para arrancar acordos com montadoras e autopeças nos tempos de sindicalista. O prefeito de São Bernardo talvez seja até capaz de, num gesto tresloucado de marketing, partir para cima da construtora e incorporadora que prepara o lançamento residencial no Bairro Planalto. Seria um blefe. Não há plataforma de legalidade que obrigaria a empresa a desistir do projeto habitacional.


 


O prefeito de São Bernardo é obreiro por excelência. Há disponibilidade de recursos financeiros próprios e também do governo federal para a execução de intervenções na infraestrutura com visibilidade e serventia. O problema é que Luiz Marinho é vítima da Síndrome do Aperto do Parafuso Intelectual. Sei que os leitores estão curiosos em saber o significado dessa enfermidade citada originalmente ontem nesta revista digital. Prefiro esperar mais um pouco para detalhá-la.


 


Por enquanto, a especulação sobre a estrutura sintomatológica vale mais que a definição propriamente dita. Posso garantir que a construção do conceito tem muito mais solidez que a arrogância e a cara de pau do prefeito em brandir a espada da moralidade e da ética para dinamitar a especulação imobiliária.


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