Administração Pública

Marinho confirma Aeroportozinho
e mantém especulação imobiliária

DANIEL LIMA - 17/09/2014

O prefeito Luiz Marinho foi à Brasília ontem para pagar a penitência de uma bobagem que a mídia regional industrializou irrefletidamente: entregou o projeto do Aeroportozinho que pretende ver construído em São Bernardo, na área dos mananciais. O anunciado Aeroportozão foi para o beleleu.


 


Três anos atrás, em outubro de 2011, Marinho mandou assessores alimentarem a mídia com a informação de que São Bernardo teria um Aeroportozão, desses bem grandões, uma alternativa a Congonhas e a Cumbica.


 


Até recentemente Luiz Marinho insistia na bobagem do Aeroportozão com ares de todo-poderoso.


 


O Diário do Grande ABC deu em manchetíssima de primeira página, em outubro de 2011, que Marinho construiria um Aeroporto Internacional. O ABCD Maior foi na mesma toada. Faz tempo que as duas publicações fogem do assunto. Tratam do Aeroportozinho como se Aeroportozinho tenha sido sempre. Mas Aeroportozinho só veio mais tarde, quando desmascaramos a estupidez.


 


Luiz Marinho é o maior especulador imobiliário da década na Província do Grande ABC. Deveria integrar o quadro de honra do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC (Acigabc), presidido pelo empresário Milton Bigucci. Talvez Bigucci, embora seja seu amigo do peito e também prefaciador de algo que foi chamado de livro, não aceitasse a inscrição. Marinho seria um rival e tanto nos movimentos para valorizar artificialmente as terras de São Bernardo.


 


Explicando o título


 


Explico o título que confiro sem receio a Luiz Marinho. Vejam os leitores se é possível enquadrar nos manuais de ética e moralidade públicas um prefeito travestido de corretor de imóveis. Utilizando-se das intimidades com os poderes brasilienses, onde o PT deita e rola há mais de uma década, e, adicionalmente, sem dar a menor satisfação à sociedade, Luiz Marinho representa um anônimo grupo de dois empresários, segundo as próprias palavras do prefeito, numa demanda negocial que beneficiaria os parceiros.


 


Por que Luiz Marinho se empenha tanto por uma obra despudoramente prejudicial à qualidade ambiental em São Bernardo? Quem são os parceiros do negócio? Que tem a ver Marinho com isso para tanta disposição seletiva?


 


Tudo isso, convenhamos, seria um acinte num País sério. Como os escândalos na Petrobrás se repetem ao sabor dos ventos político-partidários, Luiz Marinho se sente autorizado a meter os pés pelas mãos. A sociedade como um todo, manietada, assiste passivamente ao descalabro.


 


Os jornais impressos e virtuais da região escrevem hoje e escreveram ontem sobre a viagem de Luiz Marinho a Brasília. O jornal Repórter Diário lembrou bem que, “depois de ver o ministro da Aviação Civil, Moreira Franco, revelar que desconhecia o projeto de construção de um aeroporto em São Bernardo, o prefeito Luiz Marinho esteve nesta terça-feira em Brasília para apresentar a iniciativa”.


 


Acabou o triunfalismo


 


Finalmente Luiz Marinho se dobrou à sensatez que a grandiloquência obnubilava e, menos espalhafatoso, mas nem por isso inofensivo, revelou que o projeto trata de um aeroporto de cargas que iria atender à demanda do Porto de Santos e até o Pré-Sal. Diz mais, segundo o Repórter Diário: “O terreno foi comprado na área de 10 milhões de metros quadrados, sendo um milhão de área construída. O local indicado é próximo ao Rodoanel entre São Bernardo e Cubatão, próxima à Via Anchieta, a 22 quilômetros do marco zero de São Paulo, 38 quilômetros do porto de Santos e seis quilômetros do Rodoanel”. 


 


Apesar desse suposto detalhamento, que só complementa informações já vazadas há três anos, quando se anunciou não um terminal de cargas e de voos executivos, mas um aeroporto internacional, o prefeito Luiz Marinho não abre o jogo geográfico e tampouco a identidade dos investidores.


 


Mais que informações técnicas sobre o projeto do Aeroportozinho de São Bernardo, o que choca é o jogo de esconde-esconde patrocinado pelo prefeito. Que jogo é esse? Simples: quem são os investidores e como eles se tornaram proprietários de tão vasta área nos mananciais? Mais que isso? Por que tanto empenho pessoal e institucional de Luiz Marinho em instâncias brasilienses? Por que esse privilégio a empresários que, estes sim, deveriam estar à frente da empreitada e à disposição dos jornalistas para prestarem informações que interessam de perto a quem entende que mananciais não são um detalhe apenas na configuração territorial do investimento pretendido.


 


Na mesma tecla


 


Quando escrevo por livre arbítrio e de forma mais ajuizada do que imaginam os predadores que Luiz Marinho merece o título de especulador imobiliário da década, de uma década que nem à metade chegou, não estou exagerando. Há três anos ele vem batendo na ladainha de um Aeroportozão que virou Aeroportozinho.


 


Jornais propagaram a bobagem. Quem conhece o mercado imobiliário sabe o peso de informações sobre investimentos. Quem fizer uma pesquisa sobre o custo da terra antes e depois de o governo federal anunciar o trajeto do Trem Bala no Interior de São Paulo ficará horrorizado. E mais horrorizado ainda porque o Trem Bala virou Trem Fantasma. Quem caiu no conto da Carochinha de ganhos de investimentos se ferrou de verde e amarelo.


 


Luiz Marinho está a serviço de quem nessa empreitada de valorização de terras? Qualquer pergunta que venha a ser feita ao prefeito sobre o Aeroportozinho pretendido encontrará o silêncio como resposta. A arrogância do poste sindical que virou chefe de Executivo de um dos principais municípios brasileiros não tem limites.


 


Luiz Marinho, nunca é demais lembrar, foi forjado nas lides sindicais que só aparentemente são democráticas. Sempre que mantinha reuniões com os chefões da indústria automobilística para acertos trabalhistas, entre tantos outros acertos, contava com a costa larga de uma categoria disposta à greve e a outras manifestações nem sempre publicadas, porque veladas.


 


Ambiente ameaçado


 


O que assusta na reportagem de Leandro Amaral, do Repórter Diário, é que o projeto de Aeroportozinho em São Bernardo já tem parecer ambiental, segundo a assessoria do prefeito. Que parecer ambiental seria esse se os mananciais são mananciais e como mananciais dispensam explicação sobre os cuidados ocupacionais que exigem? Sem contar que, além disso, até recentemente o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DCEA) declarou que não existiria possibilidades de construção de um terceiro aeroporto internacional na Região Metropolitana de São Paulo por conta do tráfego aéreo. Está certo que o Aeroportozão proposto inicialmente foi para a cucuia, mas um Aeroportozinho, por mais insignificante que seja, não causaria danos ao mesmo tráfego aéreo?


 


É claro que essa é uma pauta obrigatória de CapitalSocial. Vamos continuar a oferecer aos leitores o contraponto que os demais veículos de comunicação da região sonegam porque existe uma confraria de interdependência incontrolável nas relações entre o Poder Público e a produção jornalística. Somos uma Província de cabo a rabo.


 


Enquanto isso, sugiro ao presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC, Milton Bigucci, que deixe de lado qualquer preocupação com a ameaça ao autoritarismo convulsivo que adota na condução daquela suposta entidade e convide Luiz Marinho apenas em forma de homenagem, entregando-lhe o título de “Homem da Década”.


 


Como tem muitas coisas a fazer, Marinho certamente não representará a Milton Bigucci uma ameaça de concorrente ao comando do Clube dos Especuladores Imobiliários. Bigucci fará mais uma média requentada com os poderosos de plantão, como o fez com a ministra Miriam Belchior num passado não muito distante, e seguirá reinando sobre o nada, como desde antes de o muro de Berlim vir abaixo.


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