Administração Pública

Donisete Braga estufa o peito contra
boca de urna gigantesca dos tucanos

DANIEL LIMA - 17/09/2014

O prefeito petista Donisete Braga enfrentou uma arapuca política e por isso paga o preço da decisão que teve de tomar porque respondeu politicamente como a maioria dos políticos responderiam. O titular do Paço de Mauá teria cometido um crime inominável ao impedir que uma carreta do programa Mulheres de Peito, do governo tucano do Estado, se instalasse como cavalo de Troia durante os 15 dias finais da corrida eleitoral nas ruas da cidade.


 


Donisete Braga vetou a empreitada que teve o apoio explícito da manchetíssima de ontem do Diário do Grande ABC, bem como de forma incisiva do Editorial do jornal. Uma manchetíssima que merece nota zero porque se limitou a observar apenas um dos lados da questão. O lado que interessa ao jornal, o lado do governador do Estado, o lado de quem está sendo apoiado flagrantemente pela publicação. Na edição de hoje voltou-se ao temário, ouvindo-se especialista sobre a importância dos exames e recriminando a decisão do prefeito.


 


O jornal tem todo o direito de puxar a sardinha para o candidato que quiser, desde que explicite esse apoio de forma oficial. Quando não o faz, e a maioria das publicações despreza essa regra ética, quem paga o preço é o leitor crédulo em imparcialidade.


 


A tentativa de plantar nas ruas de Mauá um potentado de guerra eleitoral disfarçado de responsabilidade social é legítima dentro do padrão de flexibilidade ética que move as campanhas eleitorais. O governador do Estado, Geraldo Alckmin, melhor opção dos eleitores paulistas ante a concorrência oficial que se apresenta, preparou ardilosamente o incômodo ao petista Donisete Braga, com o qual, até prova em contrário, mantém boas relações.


 


Sem escapatória


 


O prefeito Donisete Braga não tinha escapatória, embora tenha sido atropelado pela intempestiva e desastrada intervenção da secretária de Saúde do Município. A executiva pública Célia Bortoletto cometeu a barbeiragem de propagar uma estupidez: Mauá não teria demanda reprimida para os exames de câncer de mama.


 


Donisete Braga foi claro e contundente ao recusar o posto de saúde itinerante. Exames do peito não casam com o calendário eleitoral quando o calendário eleitoral está tão próximo que se confunde com as próprias eleições. A carreta Mulheres de Peito criada pelo governador Geraldo Alckmin ganharia a forma de gigantesca boca de urna.


 


Afinal, aonde o Diário do Grande ABC se excedeu na bateria de críticas condenatórias à decisão de Donisete Braga? Leiam esses trechos do Editorial, espaço no qual a publicação exara ponto de vista oficial:


 


 (...) O câncer é uma doença cujos tratamentos e cura estão diretamente associados ao diagnóstico precoce. Duas semanas podem fazer toda a diferença aos pacientes da doença, ou seja, serem significativas para determinar entre a vida e a morte. Mas Donisete Braga prefere descartar os estudos sérios sobre oncologia e fazer política barata com a saúde da população” – escreveu o editorialista do Diário do Grande ABC.


 


Faltou o outro lado


 


Nada mais frágil como argumentação o período de defasagem de 15 dias como uma cruzada entre a vida e a morte nos exames de mamografia. Se duas semanas são mesmo decisivas aos pacientes, levando-se em conta pareceres de especialistas, as mesmas duas semanas que coincidiriam com a reta final da campanha eleitoral poderiam ter sido antecipadas em várias semanas, salvando-se, portanto mais vidas do que eventualmente as duas semanas propostas.


 


Traduzindo: o desfile pedagógico e técnico da carreta de Mulheres de Peito do governo do Estado poderia ter sido programado e realizado em período distante da luta por votos, especialmente nos municípios geridos pelo PT. Quando se junta a fome de um apelo socorrista à vontade de comer de uma disputa eleitoral, o que pareceria racional ganha outra amplitude, a amplitude da esperteza.


 


Qualquer argumentação que desfralde suposta bandeira organizacional embutida na rubrica de “cronograma previamente elaborado” não escapará ao vício de origem de que se preparou um calendário-cilada contra o qual o prefeito Donisete Braga insurgiu.


 


O Paço de Mauá só errou porque poderia ter, quando da consulta, exigido reprogramação imediata da carreta potencialmente eleitoral. Tanto potencialmente eleitoral que o projeto foi lançado neste ano. Um bom programa, é verdade, mas nem por isso descolado do calendário eleitoral.  Tratar um assunto claramente de dupla face como de face única é mascarar a realidade dos fatos.


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