Política

Quem produz PT
pode produzir PE

DANIEL LIMA - 18/12/2000

Por que o berço do PT não poderia embalar em seu ventre transformador o PE? Não entendeu? Vamos explicar. Há diversas e fundas razões para a criação de um novo partido político a partir do Grande ABC e que tenha tantas semelhanças quanto importantes diferenças em relação ao Partido dos Trabalhadores. Quem não sonha com um partido coerente, operoso e sinérgico como o PT criado num restaurante de frango com polenta em São Bernardo? Certamente todos que queiram construir um País diametralmente oposto ao que está aí. Pois o PE pode ajudar a fortalecer a democracia política sob ótica singularmente interessante, na qual prevaleceriam conceitos de valorização da livre iniciativa sem cair no reducionismo classista. PE é Partido dos Empreendedores.


 


O que são empreendedores? São todos aqueles que participam de atividades econômicas e reúnem sensibilidade a causas sociais. Empreendedor e empresário não são sinônimos. Por isso, não podem ser colocados no mesmo saco sem fundo de insensibilidade comunitária e de pancadarias de ideologias anticapital. Empresário só pensa naquilo -- dinheiro, dinheiro e dinheiro. Empreendedor também pensa em dinheiro -- como qualquer militante petista --, mas vai muito além.


 


Empreendedor tem prazer de produzir produtos ou serviços porque sabe da importância econômica e social da decisão. Pensa em cidadania porque tem compromisso com o local onde trabalha e mora. Preocupa-se com aqueles que o cercam porque a segurança, o conforto e o bem-estar pessoal há muito tempo deixaram de ser projeto exclusivamente individual. Quem é empreendedor? É todo aquele que se encaixa nesse perfil. Desde o açougueiro da esquina, passando pela revendedora de produtos Avon, Yakult ou Natura, incluindo-se médicos, dentistas, arquitetos, engenheiros, proprietários de metalúrgica e de escolas, costureiras, alfaiates.


 


Um mundo imenso


 


Empreendedores são um mundo imenso de trabalhadores formal ou informalmente disfarçados de pessoas jurídicas. São trabalhadores metidos a besta, porque na maioria dos casos não têm salários garantidos ao final do mês e são sobrecarregados por uma montanha de impostos municipais, estaduais e federais. Empreendedor é o vendedor de bilhete de loteria, o vendedor de quinquilharias nas esquinas. Empreendedor é o que mais tem na praça e também escondido na informalidade do negócio na própria residência para reduzir custos fixos. Muitas vezes escondidíssimo da fiscalização. Escondido sim, porque o Brasil parece fazer questão de caçar como bruxas quem tem a ousadia de tentar um negócio próprio porque está cada vez mais improvável conseguir emprego formal.


 


Com todo esse manancial de matéria-prima no mercado, por que os empreendedores não se unem em torno de um partido político do qual se sintam representados para valer em vez de direta ou indiretamente alimentarem os dinossauros que se movem em câmaras municipais, assembléias legislativas e Congresso Nacional?


 


Será que já não cansou a todos os empreendedores, de pequeno, médio ou grande porte, o financiamento compulsório ou voluntário a candidatos de partidos que colocam o livre empreendimento longe de suas reais preocupações?


 


Até quando empreendedores vão sustentar esse modelo político-institucional que mantém a cultura do aniquilamento da livre iniciativa por meio do elefantismo de um Estado que controla descontroladamente 33% de tudo o que se produz no País?


 


Até quando empreendedores vão ser protagonistas do papel de otários acovardados diante da fiscalização arbitrária e do político clientelista?


 


Até quando empreendedores vão ser acusados veladamente ou não de fazedores de caixa 2 quando a própria campanha presidencial foi movida pelo combustível da contravenção às leis e ninguém se mexe para apurar os fatos?


 


Começar por aqui


 


Uma revolução do empreendedorismo nacional poderia muito bem começar pelo Grande ABC, como começou a revolução dos trabalhadores. A vantagem tática do PE em relação ao PT é que a doutrina que lhe daria estrutura estatutária não excluiria funcionários de seu raio de ação, enquanto o PT é geneticamente comprometido com o fortalecimento do Estado e não morre de amores pelo capital e pelo mercado, por mais que algumas de suas lideranças mais modernas procurem disfarçar.


 


O PE é essencialmente includente, porque desenvolvimento econômico gera desenvolvimento social. O PT no qual vai se mirar como referência estrutural é naturalmente excludente, porque desenvolvimento social depende de desenvolvimento econômico.


 


Por mais que tenha se oxigenado ao longo dos anos, o PT não consegue negar a veia socialista. Há ramais do partido que mantêm o olhar enviesado e atrasado em relação aos avanços da social-democracia na Inglaterra e mesmo de forma mais cautelosa em outros países da Europa Ocidental. Cultiva-se em escala ainda inquietante esfarrapados preceitos socialistas que se esfarelaram com a queda do Muro de Berlim. Haja vista que Lula e comitiva de mais de duas centenas de petistas foram comemorar os últimos resultados eleitorais num paraíso da natureza que há mais de 40 anos sofre o terremoto ideológico chamado Fidel Castro.


 


Semelhantes a seu modo


 


Engana-se, entretanto, quem supõe que o PE tem de contrapor-se ao PT. Por mais diferenças que venham a oferecer ao eleitorado, o Partido dos Empreendedores e o Partido dos Trabalhadores seriam semelhantes na força do coletivismo  e da coerência. Cada um a seu modo. O PE colocaria no mercado político nova e revolucionária alternativa, porque os demais partidos que estão aí, excluído o PT naturalmente, não passam de comboios que repetem com marcas próprias velhos vícios da política brasileira.


 


Quando Lula inventou de criar o PT, muitos riram. Que proposta mais maluca! Saído dos chãos de fábricas, o PT acabou enlaçando intelectuais dos mais diversos calibres e também o mobilizadíssimo funcionalismo público, de forma a compor uma santíssima trindade com virtudes e defeitos.


 


O Partido dos Empreendedores têm vantagens enormes sobre a estrutura operária que deu origem ao PT porque cada estabelecimento comercial e de serviços no mais remoto dos bairros, cada vendedora de produtos de beleza, cada costureira de fundo de quintal, enfim, cada brasileiro que sabe o quanto custa a formalidade ou a informalidade dos negócios, e também os familiares e clientes, fariam de seus endereços espécie de comitês fixos e móveis do partido.


 


Será que não vão aparecer lideranças regionais para topar essa parada? Será que, independente dos primeiros resultados eleitorais do PE, não estariam visíveis os ganhos político-institucionais de um conjunto de produtores de riqueza transformados em alvo preferencial da sanha do Estado-Todo-Poderoso? 


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