Política

PT regional aperta o cerco para
desqualificar pesquisas do Diário

DANIEL LIMA - 30/09/2014

Os dirigentes petistas da Província do Grande ABC querem ver o Instituto Diário do Grande ABC, filho eleitoral dileto do jornal Diário do Grande ABC, pelas costas. Exceto em Santo André, aonde o prefeito Carlos Grana dorme nos mesmos lençóis do pragmatismo editorial do jornal, nos demais endereços há sede por vingança.


 


Pensando bem, e metabolizando as informações, até mesmo Carlos Grana não se conforma com os resultados da pesquisa que o Diário do Grande ABC publicou ainda recentemente, sobremodo à disputa presidencial. A corrida ao governo do Estado fica um pouco atrás, mas também não é algo que se trate com os petistas sem que floresça inconformismo estatístico.


 


Não seria a possibilidade de a corrida presidencial terminar no primeiro turno, com possível reeleição de Dilma Rousseff, que invalidaria a disputa paralela entre PT e Diário do Grande ABC. A diferença de 19,4 pontos percentuais em votos válidos apontada em projeção de segundo turno a favorecer Marina Silva nos sete municípios foi recepcionada com certo espanto pelos principais caciques petistas da região. Consideram um exagero que não se justificaria ante a histórica trajetória do partido na região e sobretudo porque os resultados nacionais e estaduais de outros institutos foram menos pronunciados. 


 


Restabelecendo a verdade?


 


As urnas do primeiro turno restabeleceriam a verdade dos fatos, segundo os petistas, e tornariam os dados do Diário do Grande ABC mais que um furo nágua, uma explícita retaliação ao partido na maioria dos municipais locais. Tudo por conta da aproximação do jornal com o governador Geraldo Alckmin. Por isso há mobilização intensa, que deverá se encerrar com passeata de Dilma Rousseff em São Bernardo. Desqualificar o Instituto DGABC, ao qual este jornalista jamais dedicou confiança dada a opacidade da metodologia, é o projeto dos petistas. Agora só falta combinar com as urnas eletrônicas.


 


Para petistas de alto coturno, qualquer resultado ao final do primeiro turno pronunciadamente abaixo do apontado pelo instituto do Diário do Grande ABC já seria uma vitória. Por isso nem consideram eventual sucesso de Dilma Rousseff, que levaria o PT ao tetracampeão de votos presidenciais nos sete municípios. Há, entretanto, a expectativa de, sempre segundo visão petista, o instituto do Diário do Grande ABC retroceder no esticamento supostamente arbitrário do resultado da sondagem divulgada há duas semanas e, na próxima etapa de pesquisas, neste final de semana, recuar na distância entre os dois principais concorrentes presidenciais. 


 


A medida, sempre na visão petista, atenuaria os estragos na fuselagem de credibilidade da pesquisa já publicada, mas serviria, em contrapartida, como emulação ao avanço suplementar, agora nas urnas, da votação da presidente Dilma Rousseff. Contabiliza-se até mesmo a possibilidade de Alexandre Padilha, de pífia densidade na primeira rodada, ganhar fôlego na região na rodada final da pesquisa do Diário do Grande ABC.


 


Movimentos estratégicos?


 


Essas duas movimentações supostamente aproximariam os resultados das pesquisas do Diário do Grande ABC à verdade das urnas e impediriam novas camadas de desconfiança sobre a nebulosa metodologia do instituto. De qualquer maneira, segundo avaliação dos petistas, o Diário do Grande ABC teria cumprido o objetivo principal de retardar o aquecimento da militância, situação que teria sido revertida paradoxalmente pela própria publicação da pesquisa, instrumentalizada com o pragmatismo petista de que um novo adversário precisaria ser batido na corrida em busca de votos. 


 


Embora não tenha nenhuma paixão pelo desempenho do DGABC Pesquisas e também considere que na sondagem recentemente publicada há incremento gigantesco na projeção de votos a Marina Silva, em detrimento de Dilma Rousseff, desconfio que o resultado final de primeiro turno na região será desfavorável aos petistas ao se somarem os votos dos demais candidatos. E o seria também num eventual segundo turno presidencial. Quanto ao governo do Estado, a invenção de Lula da Silva incensado acriticamente no apontamento de candidaturas viáveis, provavelmente quebrará a cara com resultado final sofrível. Alexandre Padilha não colou em parte do eleitorado conservador, o que é natural, e, surpreendentemente, nem mesmo prevalece no eleitorado petista tradicional.


 


Paralelamente à votação geral que obteria na Província do Grande ABC, principalmente ao comando federal mas também e suplementarmente ao governo do Estado, os petistas de cada Município da Província do Grande ABC lutam em seus respectivos territórios para promover algo que poderia ser chamado de matar dois coelhos com apenas uma cacetada: provar que a mensuração da qualidade das administrações municipais aferida na pesquisa publicada pelo Diário do Grande ABC no dia seguinte à sondagem sobre as eleições à Presidência da República e ao governo do Estado peca pela falta de sustentabilidade popular e, igualmente, obter o máximo possível de votos para Dilma Rousseff e Alexandre Padilha.


 


Prefeitos decididos


 


Traduzindo tudo isso: os prefeitos petistas que dirigem três municípios locais querem o máximo possível de votos em favor de Dilma Rousseff, principalmente, para passar a mensagem de que estão sendo bem avaliados pelas respectivas populações. A conexão da gestão municipal com os votos a Dilma Rousseff não seria uma manipulação semântica nem de marketing. O partido é tão fortemente orgânico que desvincular uma coisa da outra seria, isto sim, um acinte. Para o bem e para o mal, a votação presidencial terá grau de influência expressivo na avaliação da população às respectivas administrações petistas. 


 


E os municípios locais que não contam com prefeitos petistas não escaparão à avaliação do eleitorado quando as urnas revelarem as respectivas votações dos candidatos à Presidência da República. Em São Caetano o PT está condenado a sofrer uma nova goleada na disputa presidencial e também ao governo do Estado, como reza a tradição, acima da política local, mas em Diadema o que as urnas decidirem vai sinalizar até que ponto a perda da Prefeitura após mais de duas décadas de prefeitos de centro-esquerda está sendo avalizada pela população dois anos depois de mandato de centro-direita. Em Ribeirão Pires, o eleitorado assemelhado ao de Santo André, embora miniaturizado, também pode expor especificidades.


 


Embora haja conceitualmente entre os petistas a disposição e o empenho de trabalharem em sintonia neste primeiro turno, ou seja, em busca do fortalecimento da agremiação em oposição ao enfraquecimento sugerido pelos números do DGABC Pesquisas, há movimento de autonomia, sobretudo em São Bernardo, Santo André e Mauá, dos situacionistas Luiz Marinho, Carlos Grana e Donisete Braga: eles travam uma corrida paralela em busca dos melhores números possíveis em várias dimensões das disputas deste domingo.


 


É claro que o peso relativo da corrida presidencial é maior, mas o jogo jogado para o governo do Estado e também à composição dos quadros da Assembleia Legislativa e à Câmara Federal terá ressonância interna e externa na disputa por espaços locais dentro do próprio partido e também na interlocução com o governo federal, em caso de vitória de Dilma Rousseff. Ou seja: o PT disputa unido a Presidência da República e o Palácio dos Bandeirantes, mas cada grupo é por si no jogo municipal. Embora orgânico, o PT também é, paradoxalmente, grupista nas fronteiras municipais, regionais e estaduais.


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