Quanto maior a margem de erro mais a margem de erro se transforma em margem de manobra em pesquisas eleitorais e se pesquisas eleitorais se submetem à margem de manobra tudo indica que a margem de erro é apenas um efeito marquetológico para ludibriar o distinto público. Entenderam? Se não entenderam, leiam novamente o enunciado propositalmente embaralhador à compreensão.
Dois pontos percentuais de margem de erro já dão um senhor salvo-conduto aos institutos de pesquisa, porque para mais ou para menos a banda que parece estreita fica larga com quatro pontos percentuais de imunidade. Imaginem então margem de erro de cinco pontos percentuais, que, no limite técnico-conceitual significa 10 pontos de diferença entre os candidatos quando se jogam para cima os números de um e para baixo os números de outro.
Escrevo a propósito dos resultados que o DGABC Pesquisas, instituto vinculado ao Diário do Grande ABC, apresentou há duas semanas tanto para a Presidência da República como para o governo do Estado. O DGABC é um enorme ponto de interrogação de credibilidade metodológico quando visto por gente que não se conforma com opacidade e quer muitas luzes, luzes e mais luzes sobre tudo que diz respeito ao interesse da sociedade, mesmo uma sociedade invertebrada como a da Província do Grande ABC.
Tenho uma birra indisfarçável com margem de erro de cinco pontos percentuais porque como consumidor ávido por dados estatísticos, inclusive eleitorais, uma de minhas paixões, sinto-me entregue às baratas quando a elasticidade dos resultados permite manipulações antes e depois das disputadas.
Margem especulativa
Entendo que mais que margem de manobra, margem de erro de cinco pontos percentuais é margem a todo o tipo de especulação. Quem adota medida tão flexível quer mesmo é se safar de eventuais fracassos estatísticos que uma margem mais estreita escancararia, por mais cautelar que uma margem de dois pontos, por exemplo, seja em favor dos responsáveis como blindagem a surpresas de última hora.
Me diga o caro leitor se é possível considerar empate técnico entre dois candidatos sendo que o primeiro colocado conta com 55% dos votos e o outro com 45%? Pois é assim que a margem de erro de cinco pontos percentuais para cima e para baixo define uma sondagem porque quem tem 55% pode ter 50% e quem tem 45% pode ter os mesmos 50% ou mesmo quem tem 55% pode ter 60% e quem tem 45% pode ter 40%. Convenhamos que essa é uma brincadeira numérica de mau gosto que somente os estatísticos acovardados são capazes de proporcionar.
Voltando aos números do DGABC Pesquisas, constato ao ler o material publicado em 14 de setembro que Marina Silva apontada como primeira colocada em todos os municípios locais, em manchetíssima de primeira página do Diário do Grande ABC, só estaria tecnicamente em primeiro lugar em São Caetano, Mauá e Ribeirão Pires caso seja aplicada a margem de erro de cinco pontos percentuais. Nas demais cidades (Santo André, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires), conforme se mexe no tabuleiro da margem de erro, poderia se caracterizar empate técnico com a presidente Dilma Rousseff. Aos incrédulos, passo adiante os exemplos.
Empate técnico
Em Santo André, o DGABC Pesquisas apontou que Marina Silva contava com 33,7% dos votos estimulados, contra 26,4% de Dilma Rousseff. Incrementem a margem de erro para cima na candidatura de Dilma Rousseff e a presidente da República salta para 30,4%. Sincronizadamente tire cinco pontos percentuais de Marina Silva e a ambientalista cai para 28,7%. Pronto, a diferença caracteriza empate técnico. Agora, experimentem injetar cinco pontos percentuais nos números de Marina Silva, que saltaria a 38,8% e retirem cinco pontos percentuais de Dilma Rousseff, que cairia de 26,4% para 21,4%, e está feita a lambança.
Em São Bernardo se daria algo semelhante: Marina tem 36,3% dos votos contra 27,8% de Dilma Rousseff. Quando se aplica a margem de erro de cinco pontos para mais e para menos, Marina pode ter 31,3% e Dilma Rousseff 32,8%. Ou Marina pode ter 41,3% e Dilma Rousseff 22,8%. Não é de lascar?
Em Diadema os números de Marina Silva sairiam dos 36% da pesquisa do DGABC para 31% na condição de margem de erro para baixo, contra 33,8% de Dilma Rousseff primariamente com 28,8%, ou os números de Marina saltariam a 41% e os de Dilma mergulhariam nos 23,8% quando aplicada a margem de erro de cinco pontos percentuais para baixo.
Em Rio Grande da Serra os 38,3% originais de Marina Silva poderiam ser 33,3% contra 40,3% de Dilma Rousseff ao se incrementarem cinco pontos percentuais aos 35,3% originais, como também poderiam ser 43,3% favoráveis a Marina Silva contra 30,5% de Dilma Rousseff ante a aplicação do viés de mais para a opositora e o viés de menos à petista.
Três se salvam
Nos outros três municípios da Província do Grande ABC, segundo os dados do instituto de pesquisas do Diário do Grande ABC, Marina estava solidamente na liderança porque a explosiva margem de erro de cinco pontos percentuais não demoliria o capital de votos amealhado pelos entrevistadores.
Em São Caetano Marina somou 38,5% ante 18,3% de Dilma Rousseff, em Ribeirão Pires chegou a 39,8% contra 24% da petista e em Mauá atingiu 42,8% ante 25,3% de Dilma Rousseff.
Tudo isso que escrevi a titulo desclassificatório da margem de erro de cinco pontos percentuais já utilizada pelo Diário do Grande ABC em outros trabalhos perde a validade analítica mas mantém a robustez exemplificadora se a margem de erro da pesquisa realizada para a presidência da República em 14 de setembro for diferente desses enunciados.
Como o jornal publicou a matéria sem especificar esse que é um ponto elementar à interpretação dos números, e como estou longe de ter certeza de que são realmente cinco pontos percentuais, tanto quanto não tenho certeza de que a margem é mais estreita, deixo para os próximos dias eventuais explicações. Até porque, deve vir por aí a última pesquisa do DGABC antes das disputas do próximo domingo e a publicação terá condições de esclarecer a metodologia nesse ponto. Pelo menos nesse ponto.
Tomara que seja menos, muito menos, porque, assim, os resultados apresentados oferecem um campo de exatidão mais adequado a eventuais, por que não dizer necessárias, interpretações sobre o movimento das águas de 14 de setembro e da próxima data da nova operação que visa antecipar os resultados na região.
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