Na contramão dos resultados nacionais (e também estaduais) do Ibope e do Datafolha, o Diário do Grande ABC prevê derrocada fragorosa do PT na contagem geral de votos à presidência da República num eventual segundo turno, além de fracasso petista também no primeiro turno na Província do Grande ABC. Os resultados da segunda e última sondagem eleitoral, publicados na edição de hoje do jornal, são uma porta aberta à quebra da credibilidade do DGABC Pesquisas ou a uma improvável consagração tópica.
Esse risco está confirmado nos números que contrastam de tal forma com os apresentados pelo Ibope e pelo Datafolha que só restaria uma indagação a responder: estaria o PT tão impiedosamente mal-avaliado e mal nutrido de popularidade na região a ponto de não só perder o título de tetracampeão local na disputa presidencial como, também, ser rebaixado à condição de agremiação supostamente a caminho de uma derrocada mais ampla em âmbito estadual e nacional nas próximas temporadas de votos?
Seria a Província do Grande ABC a expressão mais legítima do desencanto com o Partido dos Trabalhadores na Presidência da República?
Vejam as diferenças que separam um eventual segundo turno na disputa presidencial no eleitorado da Província do Grande ABC e no País como um todo. O DGABC Pesquisas, como é denominado o instituto criado pelo Diário do Grande ABC, contabiliza vitória por 12,7 pontos percentuais (ou 27,25% dos votos) da ambientalista Marina Silva sobre a petista Dilma Rousseff num eventual segundo turno na região. Já o Ibope aponta que, num eleitorado mais abrangente, de todo o território nacional, a vitória seria da petista por sete pontos percentuais (ou 16,27%) sobre Marina Silva – 43% a 36%. Já num embate entre a petista e o tucano Aécio Neves, a diferença projetada pelo Datafolha pró-Dilma seria também de sete pontos percentuais (ou 14,58%), resultado de 48% a 41%.
Ou seja: há entre o resultado da pesquisa do Diário do Grande ABC que investigou apenas o território regional e os resultados do Ibope e do Datafolha em todo o País um abismo de diferença. O embate entre Dilma Rousseff e Marina Silva oferece 19,7 pontos percentuais de distância quando se comparam os dados do DGABC com os do Ibope, e os mesmos 19,7 pontos quando o confronto é com o Datafolha.
Destino semelhante
A prospecção do resultado de eventual segundo turno entre a presidente Dilma Rousseff e o tucano Aécio Neves caminha a destino semelhante. Segundo o DGAB Pesquisas, Aécio Neves venceria a corrida eleitoral na região por 43,5% a 37,4%, ou seja, uma diferença de 6,1 pontos percentuais (ou 14,02%). O Ibope, tal qual no confronto entre Dilma e Marina, confere vantagem nacional à petista por margem bem mais elástica do que a registrada no confronto com a ambientalista: Aécio Neves perde por 46% a 33% (ou 28,26% dos votos). O Datafolha também registra vantagem de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves, mas por placar menos avantajado do que o do Ibope e igualmente em contraste com os dados apresentados pelo DGABC Pesquisas: Dilma conta com 48% e Aécio Neves com 41% (ou 14 58% de diferença).
Não existe nessa exposição de números que confrontam Diário do Grande ABC, Ibope e Datafolha nenhum elemento temporal que possa servir de justifica a resultados tão díspares quando se toma o pulso eleitoral da Província do ABC e do Brasil como um todo. As entrevistas, segundo as próprias fontes de informação, foram realizadas em períodos semelhantes, no começo desta semana de encerramento da corrida eleitoral.
Barrigada eleitoral
O que existiria mesmo a configurar tamanho contraste? O instituto do Diário do Grande ABC estaria a cometer uma barrigada eleitoral ou o eleitorado da Província do Grande ABC passou a nutrir certa dose suplementar de asco, quando não se desprezo, ao Partido dos Trabalhadores? O modelo petista de ser estaria aparentemente bombardeado como fábrica de votos na região? O Diário do Grande ABC e seu instituto de pesquisas vão entrar nos anais de sondagens da alma do eleitorado regional como instrumentos detectores de uma contrarrevolução que supostamente se espalharia por todo o território nacional?
Como não sou de ficar em cima do muro, mais uma vez expresso restrições à robustez estatística do Diário do Grande ABC. Por mais que a região seja palco provavelmente do maior Fla-Flu político, ou seja, de adesão e de restrição à agremiação inspirada no movimento sindical liderado por Lula da Silva, não seria nestas eleições presidenciais que se estabeleceria vantagem tão expressiva dos antipetistas. O medidor da disputa presidencial é o mais adequado à interpretação dos humores e horrores da sociedade em relação ao desempenho histórico do PT e de seus braços sindicais, por razões mais que esmiuçadas neste espaço editorial.
Petismo cadente
O petismo regional, sempre segundo os resultados já consagrados em disputas à Presidência da República, declina a cada temporada de votos. Entretanto, não acredito que a tendência apontada pelo Diário do Grande ABC tenha sustentação neste outubro. Haveria uma queima de etapas sem sustentação no contexto atual. Fosse a gestão de Dilma Rousseff uma catástrofe já identificada sem paixonites ideológicas, os números do Diário do Grande ABC seriam factíveis. Como não é o caso, apesar dos pesares do quadriênio dilmista que só faz inveja ao desastre chamado Collor de Mello no quesito pibiano, acho os resultados do DGABC turbinados demais.
Em 2002, primeira eleição de Lula da Silva na esteira de uma região economicamente estilhaçada pela política industrial do governo Fernando Henrique Cardoso, os petistas alcançaram na região 67,13% dos votos válidos de segundo turno. José Serra só chegou a 32,87%. Até São Caetano, tradicional reduto antipetista, sufragou Lula, com 10,52% de votos de vantagem sobre o tucano. Quem chegou e ainda chega ao desplante de atribuir a este jornalista fantasias sobre a quebradeira econômica da região no período FHC, suplementando os efeitos deletérios mais agressivos do sindicalismo dos anos 1980, certamente não deve ter retirado a cabeça oca do vão das pernas.
Quatro anos após a primeira vitória petista, em 2006, e após um mensalão no meio do caminho e uma Província do Grande ABC já retomando parte das perdas de empregos e de produção a bordo da indústria automotiva, Lula da Silva garantiu nova vitória local (e também nacional), com vantagem de 25,81% dos votos sobre o tucano Geraldo Alckmin. Foram 57,41% a 42,59% dos votos válidos no segundo turno. São Caetano da licença poética de votos em 2002 caiu na real e escorraçou com Lula da Silva, sufragando Alckmin numa goleada de 65,02% a 34,98% dos votos válidos do segundo turno. Os demais municípios da região coroaram Lula da Silva, embora em Santo André e em Ribeirão Pires a contagem final tenha sido bastante parelha, a confirmar a perda de prestígio da agremiação em significativas parcelas da classe média tradicional, majoritaríssima em São Caetano.
O refluxo do eleitorado petista na Província do Grande ABC nas disputas presidenciais prosseguiu com a candidatura de Dilma Rousseff em 2010. Mesmo com o PIB bombando e chegando a crescimento de 7, 5% na temporada, o resultado eleitoral foi aquém de quatro anos antes. Na contagem final, o PT voltou a vencer um candidato tucano na região, José Serra de novo, mas o placar de 54,05% a 45,95% dos votos válidos, como se observa, foi mais estreito. Uma diferença de 14,98%. Desta feita, além de São Caetano, Santo André e Ribeirão Pires também deram a José Serra vantagem na contagem final. A classe média tradicional embarcava num antipetismo nacional.
Goleada improvável
Colocadas à mesa essas fichas numéricas históricas das três últimas eleições presidenciais, sinceramente não creio que se cristalizará uma goleada no petismo ao se contarem todos os votos na Província do Grande ABC neste outubro. Entendo que o placar será bastante apertado se houver segundo turno, sobretudo se a candidata que pretenderia apear o PT do poder em Brasília for Marina Silva, sem estrutura partidária para suportar as durezas do prélio.
A análise seria prejudicada em caso de triunfo final de Dilma Rousseff em âmbito nacional no primeiro turno. Não seria possível deixar de se cometer um risco interpretativo, em caso de definição em turno único, comparar a votação regional de Dilma Rousseff em confronto com os demais candidatos. Estudos asseguram que uma parcela pequena mas mensurável de eleitores de Marina Silva e de Aécio Neves, sem contar dos demais concorrentes nanicos, tende a bandear-se às cores de Dilma Rousseff. Seriam, por assim dizer, petistas retardatários, tucanos e ambientalistas menos convictos.
Mobilização salvadora?
Sei que sei que existe mobilização monstro dos petistas em busca de uma vitória regional de Dilma Rousseff como atestado da liderança do prefeito Luiz Marinho nesse território. Há um compromisso não escrito de apoio a Dilma Rousseff em troca de mais investimentos na região. Mais ainda: a simbologia política, partidária e ideológica do PT na Província do Grande ABC é um ferramental de marketing que não pode ser desperdiçado, mesmo que circunstancialmente.
Para Luiz Marinho, de olho no Palácio dos Bandeirantes, um sonho que ao que tudo indica sempre se converterá em decepção, chegar ao tetracampeonato regional nas eleições presidenciais é questão e honra. Por isso a agenda de encerramento da campanha eleitoral de Dilma Rousseff prevê como última programação uma passeata monumental pelas ruas de São Bernardo. O PT que anda com o Diário do Grande ABC alckmista e aecista atravessado na garganta quer que quer ganhar o tetracampeonato regional. Por isso transformou a corrida eleitoral à presidência da República na Província do Grande ABC um campeonato à parte.
Acho, repito, que o PT, acompanhando um filme histórico em vez de uma fotografia supostamente do momento, vai perder essa disputa tanto quanto o Diário do Grande ABC. O PT porque terá menos votos que qualquer um dos candidatos num provável segundo turno. E o Diário do Grande ABC porque prognostica uma goleada.
Total de 895 matérias | Página 1
19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)