Política

O que há de verdade e de mentira no
sucesso do trio petista de Marinho?

DANIEL LIMA - 09/10/2014

Luiz Fernando Teixeira, braço direito para assuntos extraordinários do prefeito Luiz Marinho, acaba de conquistar uma das 94 vagas na Assembleia Legislativa. Os 102.905 votos foram menos do que se projetavam, ante a avalanche de investimentos como interlocutor privilegiado do titular do Paço de São Bernardo. Interlocutor privilegiado é uma expressão que remete a muitas conjecturas. Os leitores sabem o que quero dizer. Mas, convenhamos, gastos supostamente além das contas são politicamente importantes quando a derrota bate à porta. Campanha cara é campanha fracassada.


 


Luiz Fernando Teixeira, também presidente do São Bernardo Futebol Clube, um modelo de massificação popular lubrificada por uma estratégia para muitos obscura, deu declarações ao jornal digital ABCD Maior e também ao Diário do Grande ABC sobre a campanha eleitoral. Ele disse que o prefeito Luiz Marinho conquistou tríplice vitória,  porque São Bernardo elegeu os três deputados estaduais nos quais o PT local tanto apostava: o próprio LFT, Ana do Carmo e Teonilio Barba.


 


Luiz Fernando Teixeira é coerente no que diz, mas não diz a verdade. Diz apenas uma meia verdade. A parte verdade da declaração é que o PT de São Bernardo elegeu três deputados estaduais locais. A parte mentira explico em seguida. 


 


Há verdades que Luiz Fernando Teixeira escondeu porque esconder o que é bom para os outros faz parte da arte de fazer política. Ele não inaugurou a avenida da dissimulação eleitoral. Não reinventou a roda da semântica como ferramenta de convencimento. Exatamente por isso deve existir imprensa livre, entre outras razões incomparavelmente mais importantes que uma análise eleitoral. As falcatruas do mercado imobiliário, por exemplo. Os investidores ultrassecretos do aeroportozinho anunciado pelo prefeito Luiz Marinho, igualmente.


 


Vitórias fora de casa 


 


É verdade mesmo que foi uma vitória de Luiz Marinho apostar no sucesso do trio escolhido a fórceps para disputar a Assembleia Legislativa. Havia forte desconfiança de que o eleitorado de São Bernardo não comportaria tamanha ambição petista. É aí que entra em ação o lado esconde-esconde de Luiz Fernando Teixeira. Do lado mentira da meia-verdade. Afinal, São Bernardo não elegeu nenhum dos três candidatos petistas apontados por Luiz Marinho e pelos agrupamentos que formam a cúpula local.


 


Hão de questionar os leitores que estou a sonegar a realidade dos fatos. Não é bem assim, gente. A individualidade dos votos dos três petistas não comportaria vagas na Assembleia Legislativa. Eles foram socorridos por votos em outros municípios da região e também do Interior. Se os três concorrentes se fixassem na máxima de "vote no Grande ABC" que permeou as eleições proporcionais na Província do Grande ABC em meados da década de 1990, teriam na naufragados.


 


Por mais que São Bernardo tenha estoque de sufrágios para fazer vários a alegria de vários candidatos a deputado, nenhum dos três petistas caiu no conto da carochinha do Diário do Grande ABC que, numa análise estapafúrdia, ofereceu a tese de que a região poderia facilmente ter uma bancada de 20 deputados estaduais e 20 deputados federais. A operação seria possível mediante uma contabilidade exótica: todos os eleitores inscritos deveriam comparecer às urnas e votar nos mesmos 40 candidatos ungidos pelo regionalismo sólido. Algo que Celso Daniel jamais atingiu. Assim, a linha de corte de 100 mil votos contemplaria irmanamente os dois milhões de eleitores. Votos brancos e nulos e abstenções, nem pensar.


 


Luiz Fernando Teixeira, Teonilio Barba e Ana do Carmo não são bobos nem nada. O que fizeram para garantir um lugar na emagrecida bancada estadual petista? Dividiram São Bernardo de acordo com as afinidades populares que detêm e foram à luta sem amarras em outros territórios paulistas.


 


Perseguição a Marinho


 


Como disse, não interessa a cor do gato dos votos, desde que o gato dos votos capturasse os ratos das urnas. Nesse ponto, Luiz Fernando Teixeira está coberto de razão. E o prefeito Luiz Marinho tem um bom argumento para desdizer essa infâmia de que é um péssimo chefe de campanha eleitoral só porque a presidente Dilma Rousseff apanhou como nenhum petista em território paulista. E alexandre Padilha perdeu o rumo ante Geraldo Alckmin. Tudo não passa de perseguição da imprensa desnaturada. Não se deve duvidar do prefeito de São Bernardo. Ele é uma prova de lucidez a desafiar geneticistas. Tanto que ainda chama a imprensa para dizer que vai plantar um aeroportozão numa extensa área ambiental de São Bernardo.


 


O problema que Luiz Fernando Teixeira não apontou e nenhum petista igualmente coerente em defender exclusivamente as próprias cores apontará é que há verdades múltiplas a permear a disputa eleitoral em São Bernardo. A principal é que as urnas locais acabaram de aperfeiçoar dois modelos de adversários que vão dar muitas dores de cabeça nas próximas eleições municipais, com possibilidades amplas de disputar individualmente ou em dupla a Prefeitura que Luiz Marinho terá de deixar ao final de 2016.


 


Adversários poderosos


 


Chamam-se Orlando Morando e Alex Manente os estorvos petistas que, convenientemente, Luiz Fernando Teixeira evitou citar na entrevista ao ABCD Maior. Os dois jovens políticos de oposição em São Bernardo registram números cavalares de votos aonde os três petistas sofreram para somar algo que não são uma merreca, mas também não brilham como alguns tentam fazer crer.


 


Bem que durante a campanha eleitoral Luiz Fernando Teixeira fez de tudo para trazer os dois adversários à arena de polêmicas, chamando-os à briga e com isso, alcançando os holofotes. Morando e Manente o trataram como candidato nanico, embora soubessem que não faltaria a Luiz Fernando Teixeira muito combustível financeiro e de parte da máquina pública de São Bernardo a fortalecê-lo.


 


Orlando Morando obteve no território de São Bernardo mais de 100 mil votos, superando facilmente os três concorrentes petistas. Tantos votos que dispensariam os demais em outros municípios para chegar à Assembleia Legislativa. Só não seria o terceiro mais votado no Estado. E Alex Manente, eleito à Câmara Federal, contabilizou mais de 80 mil votos em São Bernardo. Dali sairia eleito, dispensando outro tanto que amealhou em outros municípios. Sem contar que massacrou em São Bernardo um dos filhos da terra sindical, Vicentinho da Silva, reeleito também por conta do espalhamento do eleitorado.


 


Dividindo terrenos


 


Um mapa eleitoral de São Bernardo provaria facilmente que Luiz Fernando Teixeira longe esteve de alcançar votação expressiva na classe média tradicional. A proposta de ocupar o reduto de Orlando Morando e Alex Manente foi um sonho de verão. A classe média tradicional de São Bernardo, em larga escala egressa de grandes e médias indústrias, é avessa ao PT tanto quanto a classe média tradicional de Santo André, formada por pequenos comerciantes e profissionais liberais, quer ver o PT pelas costas.


 


Luiz Fernando Teixeira teve mesmo de arrancar apoio principalmente nas periferias, equilibrando-se no espaço congestionadíssimo de correligionários de Ana do Carmo e de Teonilio Barba. O que não integrava o movimento sindical e o nicho fora da porção assistencialista de Ana do Carmo sobraram a Luiz Fernando. O monopólio sobre a vertente esportiva de São Bernardo lhe deu uma força e tanto. Nada mais justo para quem tem sido sim competente na atividade á frente de um São Bernardo Futebol Clube que integra a Série A do Campeonato Paulista.


 


Incomodado com a vitória de números magérrimos às pretensões de ser catapultado naturalmente à sucessão de Luiz Marinho em 2016, Luiz Fernando Teixeira omitiu na entrevista ao ABCD Maior o que chamaria de potencialidade de uma tragédia futura. Orlando Morando e Alex Manente dispararam em favoritismo à ocupação do Paço Municipal. Qualquer tentativa de negar o inegável significa jogar no lixo os números eleitorais em São Bernardo.


 


Luiz Fernando Teixeira, Ana do Carmo e Teonilio Barba mais que provavelmente se unirão em torno da candidatura ungida pelo Paço. Possivelmente o escolhido será Luiz Fernando, mesmo após a dieta de votos locais. Parece não haver alternativa melhor. Tarcísio Secoli, secretário de Obras, não seria talhado ao jogo político que tem, entre os ingredientes, uma porção e tanto de carisma. Além disso, Marinho dedica apreço especial ao agora eleito deputado estadual. Não é para qualquer um o cargo de  supersecretário especial sem pasta. 


 


Mas ainda continuo esperando de Luiz Fernando Teixeira o atendimento a duas exigências para me juntar a ele em qualquer empreitada política, justamente eu que não sou do ramo: que prove que o Projeto Tigrinho é tudo que diz ser e que numa entrevista ao vivo e em cores responda a pelo menos 10 questionamentos sobre políticas públicas, somente sobre políticas públicas. Juro que não vou falar sobre outras coisas. Nem vou insinuar nada sobre derivações com políticas públicas. Só quero ter a certeza de que São Bernardo estará ou não em boas mãos caso ele vença as próximas eleições. 


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