A tentativa de transformar CapitalSocial em algoz do instituto de pesquisas que criou é uma arremetida suicida do Diário do Grande ABC. A direção de redação deveria me enviar uma carta de agradecimentos por ter me referido mais àquele trabalho de campo para detectar o destino dos votos nas últimas eleições na Província do Grande ABC do que o próprio jornal.
Quem tem alguma dúvida deve recorrer aos arquivos. Reparem na edição de domingo passado, dia das eleições. Vejam quantas vezes aparece nas páginas daquele jornal algo que lembre a ação investigativa do DataDiário, oficialmente DGABC Pesquisas. Querem saber já: nada, absolutamente nada.
O Diário do Grande ABC tem todo o direito a resmungos contra CapitalSocial, mas deveria voltar lamentos ao próprio comando de redação ou ao conjunto da estrutura física e de recursos humanos que abastece o comando da redação.
Uma grande barbaridade cometeu o jornal no dia das eleições ao não levar o assunto que imantava todos os leitores ao patamar supremo da manchetíssima (a manchete das manchetes de primeira página). Preferiu o Diário do Grande ABC, em pleno domingo de eleições gerais, destacar o déficit de moradias na região. A justificativa subjacente é atroz: comemorava-se o Dia Mundial da Habitação. Já imaginaram se fosse o Dia Mundial dos Trombadinhas?
Eleições foram esquecidas
As páginas internas da edição de domingo do Diário do Grande ABC refletiram o desatino porque não registram qualquer referência às duas rodadas de pesquisas do DataDiário. Mais que isso: como se fosse um corpo estranho e incômodo na corporação, o Diário do Grande ABC trocou o DataDiário no material de redação da edição do dia das eleições pelas pesquisas do Ibope e do Datafolha, sem qualquer especificidade sobre os números da Província do Grande ABC.
O bom senso indicava que o jornal apresentaria domingo passado uma densa cobertura sobre as eleições. Mais que isso: que oferecesse aos leitores um texto interpretativo que organizasse a numeralha das pesquisas eleitorais, sempre referenciadas pelo DataDiário.
O que o jornal ofereceu no texto publicado ontem, em defesa do DataDiário, não passa de engenharia de obra feita. E mal feita, por sinal, porque nega o que CapitalSocial expôs com todo o cuidado: entre os resultados apresentados pelo DataDiário nas páginas do Diário do Grande ABC na antevéspera das eleições e os resultados das urnas eletrônicas houve incidência de 48% de equívocos (não 50% como afirmei aqui ontem).
Dos 48 resultados individuais dos três principais concorrentes ao governo do Estado e à Presidência da República, houve 23 erros e 25 acertos. A maior margem de tropeços se deu na tentativa de cercar a raposa dos números da disputa presidencial no campo aberto de idiossincrasias abrasivas envolvendo os três concorrentes.
Relativizando os erros
Nos dois textos que preparei sobre o desempenho do DataDiário procurei dimensionar o índice de acertos e de erros levando-se em conta a segunda e última pesquisa, confrontando-a com os resultados oficiais. Ponderei a defasagem de tempo e também a turbulência verbal entre os três candidatos à Presidência da República como inimigos daqueles dados. Daí ter sugerido também que as próximas sondagens promovam o casamento breve entre pesquisa de campo, tabulação e divulgação nas páginas dos jornais. Ou seja: que tudo se dê num espaço de tempo mais curto, menos suscetível à imprestabilidade dos resultados. Nada que não seja preocupação de leitores interessados em contar com orientação do jornal.
Como contar com orientação do jornal ante a situação de que o próprio jornal, após limitar-se a divulgar burocraticamente as duas sondagens eleitorais, simplesmente tratou os leitores com desdém, banindo de suas próprias páginas uma avaliação cuidadosa da movimentação do eleitorado regional? Mais que isso: um jornal que optou exclusivamente pelos dados do Ibope e do Datafolha sabidamente sem qualquer intimidade estatística com a geopolítica regional?
Embora o articulista do Editorial de ontem do Diário do Grande ABC tenha interpretado as análises deste jornalista provavelmente mirando-se no próprio espelho, porque a caracterizou como ação de má-fé, CapitalSocial se manifestou sobre os resultados do DataDiário com o mesmo sentido de responsabilidade social com que se lança para clarificar tantas outras questões regionais. Informação rasa e degradável não integra os cromossomos desta publicação digital tanto quanto jamais permeou as páginas impressas da revista LivreMercado que este jornalista comandou editorialmente durante duas décadas.
Ambiente emburrecedor
O jornalismo fora do ambiente comum dos impressos diários me ensinou a tratar informação como algo muito além do potencial convencional de descarte físico característico de todo jornal diário. O que faz a diferença nos jornais diários que não querem ser vítimas da Síndrome de Estocolmo editorial, no caso de gostar do conceito sequestrador de que cada edição tem breve tempo de validade e só serviria para embrulhar peixes no dia seguinte, é um agregado de informações que ajudem a compreender o passado quando o futuro de interrogações chegar, como sempre chega.
O que o Diário do Grande ABC fez na edição de ontem em defesa do DataDiário, mesmo com falhas interpretativas, chegou fora de hora. A edição de domingo já tinha virado história. E uma história que registra um gigantesco furo nágua de um jornal que desprezou seu próprio instituto de pesquisa e as nuances que os números coletados no eleitorado regional estavam a reservar. Escolher culpados fora dos limites daquela redação é flertar com o patético.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)