Política

PT faz esforço para evitar derrota
acachapante de Dilma na Província

DANIEL LIMA - 14/10/2014

A derrota da candidatura de Dilma Rousseff na Província do Grande ABC, que interromperia série de três vitórias presidenciais do PT, é considerada tão inexorável quanto o dia após a noite. A preocupação maior do staff petista na região, à frente o prefeito Luiz Marinho e, paralelamente, o movimento sindical, é evitar um Brasil versus Alemanha em semifinal de Copa do Mundo. Já ganha forma um consolo consensual entre os petistas menos fundamentalistas: o partido pode até perder na Província, desde que não seja  de forma vexatória e, também, que os resultados gerais no País sustentem o tetracampeonato.


 


Uma derrota acachapante fragilizaria dirigentes do PT regional frente a outras fronteiras do partido no Estado. E faria a festa dos opositores locais impactados durante 12 anos de comando federal dos vermelhinhos. Os azulados tucanos, principalmente, parecem prontos a reagir.


 


Possivelmente os petistas alcançarão êxito na derrota mais que anunciada. Uma das ferramentas de marketing já aplicada é o apelo ao regionalismo acima do partidarismo nas entrelinhas e mesmo nas sobrelinhas de discursos de prefeitos petistas. Eles decidiram chamar a atenção sobre os riscos de, consumada a derrota dilmista em nível nacional, muitos projetos de investimentos federais na região virarem fantasia de quarta-feira de cinzas.


 


O fracasso de Dilma Rousseff na Província do Grande ABC pode ser projetado com base nos resultados do primeiro turno. Caso se acrescente aos registros eleitorais do passado o presente de quebra nacional do favoritismo da petista ante o tucano Aécio Neves, com amplas possibilidades de consumar-se o inverso, ou seja, o mineiro tomar a dianteira além da margem de erro, então o resultado regional seria ainda mais desalentador aos prefeitos da agremiação que esperam por investimentos milionários do governo federal. 


 


Vantagem que despenca


 


O tricampeonato petista na disputa presidencial em 2010 foi menos vermelhinho na Província do Grande ABC em relação a temporadas anteriores de igual sucesso. Desde os mais de 50% de diferença favorável a Lula da Silva em 2002 ante o tucano José Serra, a vantagem caiu consideravelmente. Em 2006, na reeleição de Lula da Silva contra Geraldo Alckmin, a diferença caiu para pouco mais de 25% dos votos. Na terceira, agora com Dilma de novo contra José Serra, não passou de 12%, com o PIB avançando 7,5% no ano. Agora em 2014, Província do Grande ABC em crise econômica mais acentuada que a do Brasil, porque o setor automotivo quase monopolizador do ritmo trafega no acostamento, perder significa fazer previsão de resultado de um jogo após o jogo encerrado. 


 


Os esforços petistas mostram que a agremiação não entrega a rapadura facilmente porque aprendeu a combater, independentemente de juízo de valor sobre a qualidade do combate. Nos grandes centros de mobilização do PT, os chãos de fábrica influenciados pelos comitês de trabalhadores em larga maioria adeptos da agremiação, há um fervilhar político cuja missão é expandir mensagem ao conjunto da sociedade.


 


Pelo menos nesse ponto os trabalhadores interagem com a sociedade externa, da qual fazem parte quando estão livres de indumentárias profissionais. Em outras situações de interesse do conjunto da comunidade, os trabalhadores industriais se provaram tão negligentes na defesa de indicadores de cidadania quanto a maioria da população.


 


Corporativismo acima de tudo


 


Traduzindo: o corporativismo é a marca registrada e sacramentada dos produtores de riquezas industriais na região. O discurso de sindicalismo cidadão que a Central Única dos Trabalhadores tanto esgrimiu no passado e que de vez em quando aparece no noticiário não passa de balela. Exceto se, na linguagem dos representantes de chãos de fábrica, cidadania for tudo que se limite aos interesses individuais e coletivos nas relações com o patronato do portão das empresas para dentro.


 


De qualquer modo, não se pode subestimar o poder de fogo dos trabalhadores engajados na candidatura de Dilma Rousseff. Não é por outra razão, aliás, que a votação de primeiro turno nos sete municípios da região foi menos desconfortável à presidente do que poderia ser ante a crise por aqui mais grave do que no restante dos municípios brasileiros.


 


Dilma Rousseff perdeu na contagem de votos na região para Aécio Neves por diferença estreita (37,82% a 33,02% dos votos válidos). O resultado é mais digerível, por exemplo, quando comparados com as urnas gerais no Estado de São Paulo, área decididamente antipetista. Foram 44% dos votos para Aécio Neves, 26% a Dilma e 25% a Marina Silva. A votação de Marina Silva (29%) foi o fiel da balança do resultado petista na região. Um resultado, segundo as pesquisas, que deverá virar prejuízo por conta da preferência majoritária dos marinistas por Aécio Neves.


 


Bolsa de apostas


 


Fosse criada uma bolsa de apostas para diagnosticar o senso crítico dos que gostam de emoções complementares, provavelmente seriam poucos os participantes que dedicariam favoritismo a Dilma Rousseff na região. Na verdade, o que mais despertaria interesse seria a busca pelo acerto no diferencial de votos válidos que separariam o provável vencedor regional Aécio Neves e a presidente da República.


 


Como tenho tara especial por eleições, especialmente por estatísticas e derivativos, não perco a oportunidade de, ideia lançada, ideia executada. Pode ser que venha a mudar os números antes do domingo da próxima semana, quando o segundo turno vai decidir quem comandará o destino do País nos próximos quatro anos, mas hoje, sem dúvida, em termos de geografia regional, apontaria vitória do tucano por 10 pontos percentuais de vantagem, com direito à margem de dois pontos percentuais para cima e para baixo, o que me dá a garantia de que acertarei tecnicamente o resultado se Aécio Neves chegar à vitória com oito a 12 pontos percentuais de diferença.


 


Se não me esquecer, na sexta-feira da semana que vem, antevéspera da eleição, atualizarei os dados do DataDaniel. Os debates televisivos, sobretudo o reservado para quinta-feira que vem na TV Globo, têm poder extraordinário de capturar votos de indecisos e de eleitores menos convictos. Como foi o caso do embate do primeiro turno, com supremacia estonteante de Aécio Neves. Uma supremacia estupidamente minimizada pela mídia porque o politicamente correto da neutralidade chegou ao extremo de entorpecer a inteligência e a independência crítica.  


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