Política

Grana pede socorro porque sabe
que sem Dilma fantasia vira trapo

DANIEL LIMA - 15/10/2014

Só falta o prefeito Carlos Grana mandar os comissionados da Prefeitura de Santo André treinarem ostensivamente com algum coreógrafo de verdade, não o da abertura da Copa do Mundo no Itaquerão. A ordem geral seria bem mais aceitável do que a mais recente de que se tem notícia, quando mandou os 500 comissionados irem às ruas para distribuir cartilhas sobre o programa Orçamento Participativo. A nova recomendação seria objetiva: as várias centenas de servidores precários deveriam escrever em letras humanas gigantes, no Paço Municipal, o verbete “SOCORRO”. Se houver tempo e qualidade a adestramento mais meticuloso, seria fundamental especificar o pedido: ‘SOCORRO: VOTE DILMA”.  


 


Há quem já tenha sugerido ao prefeito petista que leve essa ideia adiante, mas Grana achou melhor não considerar a medida. Seria muito descaramento. Além disso, correria o risco de ver a oposição lhe atribuindo um novo nome, que o remeteria ao ficcional (nem tanto) prefeito de Sucupira, uma obra genial de Dias Gomes. Passaria a ser chamado de Carlos Odorico Paraguaçu Grana.  


 


Entretanto, que a situação exige muita reza, pelo menos, não há dúvida. E não se trata de reza inventada ou aleatória, plantada pelos inimigos de plantão. Foi o próprio ex-metalúrgico amigo de Lula da Silva quem mandou brasa no apelo por vitória de Dilma Rousseff no segundo turno.  


 


Carlos Grana declarou exatamente o seguinte, conforme imprimiu uma das edições do Diário do Grande ABC da semana passada ao retratar o discurso do prefeito a uma plenária no Sindicato dos Químicos de Santo André: “Esse R$ 1 bilhão do governo federal está em curso para 2015. Isso significa um terço do Orçamento de Santo André (R$ 3,1 bilhões para o ano que vem). Sabemos que se a Dilma não ganhar corremos o risco de não vermos essa verba, interrompendo assim projetos que já estão em andamento. Então, podemos dizer que a reeleição da Dilma coloca em jogo o futuro de desenvolvimento de Santo André” – disse Grana, conforme retrata o Diário. E seguiu no discurso: “Quem está no governo e não participar dessa campanha para manutenção do mandato da presidente está convidado a ficar fora da administração andreense”.  


 


Mistura explosiva 


 


A performance de Carlos Grana ante os químicos é uma mistura bem clara de desespero, chantagem, despreparo administrativo e desafio. Explico: 


 


Desespero porque de fato a dependência de dinheiro do governo federal para dar conta de inúmeras fantasias em forma de promessas e lorotas divulgadas principalmente no primeiro ano do mandato iniciado em janeiro de 2013 é uma aventura que subestimou as sacolejadas macroeconômicas e as barbeiragens microeconômicas do governo federal.  


 


A decisão de entregar ao governo Dilma um terço do orçamento de obras de Santo André equivale a uma dona de casa que prepara os gastos de uma família com a convicção de que ganhará na loteria o suficiente para dar conta do recado. Carlos Grana confiou excessivamente no taco dos padrinhos da Administração petista de Santo André em Brasília, ministros Miriam Belchior e Gilberto de Carvalho, com antecedentes na Administração Celso Daniel.  


 


É verdade que Miriam Belchior conhece como poucos o labirinto que liga planejamento municipal e verba federal. Tanto que atuou como assessora extraoficial de Luiz Marinho logo após a eleição do petista em 2008. E dá assessoria informal a Carlos Grana também. Mas há contingenciamentos financeiros, políticos e partidários que só quem conhece Brasília conseguiria explicar.  


 


A chantagem emocional e patronal de Carlos Grana está explícita na convocação dos servidores comissionados não para um ensaio geral à escrita com corpos humanos. Seria muito trabalhoso. A ordem é para arregaçarem as mangas e sacudirem a poeira se pretenderem continuar recebendo vencimentos lastreados no apoio político-eleitoral dos petistas e aliados durante a campanha condominial de 2012.  


 


Carlos Grana distribuiu um cartão amarelo coletivo. Atuou como um árbitro que, diante de jogadores das duas equipes no meio de campo, sacou do bolso o cartão amarelo da advertência explícita. O engajamento dos servidores de ocasião passou a ser compulsório, obrigatório.  


 


A rubrica de despreparo administrativo é confessadamente clara na medida em que o prefeito Carlos Grana submete-se a uma sessão de terapia intensiva para proferir publicamente um discurso em que delega a terceiros e equilíbrio da conta dos investimentos anunciados.  


 


Quem pode garantir?  


 


Claro que todo gerenciador municipal coloca inversões públicas estaduais e federais no empacotamento geral de medidas prioritárias, mas no caso de Santo André, que vive há três décadas processo de empobrecimento generalizado, com quebra de arrecadação em largo espaço desse período, confiar demais em terceiros é assinar atestado de ingenuidade. Até porque, não há a menor garantia de que, mesmo com a vitória de Dilma Rousseff, Santo André será contemplada com o volume brandido por Grana. As contas públicas da União estão para lá de Bagdá ante a quebra do ritmo econômico nas duas últimas temporadas, com declínio acentuado da média de crescimento do PIB em relação à gestão de Lula da Silva, até então referencial de novos recursos às prefeituras.  


 


Já o desafio embutido nas declarações de Carlos Grana vai além do território de Santo André, que, dada a proporcionalidade de votos válidos no conjunto dos municípios brasileiros, pouco poderá fazer para alterar a rodada final no domingo da semana que vem. No fundo, Carlos Grana sabe que o peso relativo de Santo André é ínfimo na geopolítica nacional e que, por isso mesmo, não alterará  praticamente nada as projeções estatísticas gerais. Mas é aí que entra em campo uma tentativa desesperada de cacifar-se a eventual segundo mandato dilmista. 


 


Quem sabe com um resultado expressivo da candidata em Santo André, por conta da mobilização coercitiva do prefeito, uma parcela orçamentária maior do que se presume ante a retração econômica do Pais seja liberada nos dois anos que restam para o cumprimento do mandato local. Seria a glória a quem quer concorrer à reeleição sem carregar a pecha mais que provável de que ganhará o troféu do Observatório de Promessas e Lorotas como o gestor público da região que mais se entregou à farra de devaneios.  


 


Desdenhando da realidade 


 


O pano de fundo de tudo isso é que o prefeito Carlos Grana, como  como outros prefeitos de Santo André, desdenhou de uma realidade cada vez mais grave: o Município sofre as durezas do prélio de investimentos privados que possibilitariam gradual mas vigorosa recuperação dos cofres públicos. 


 


A escolha de um especialista em regionalidade para chefiar a secretária de Desenvolvimento Econômico e a participação de quadros colaborativos que produziriam estudos e propostas de aplicação plurianual alimentariam a esperança de que Santo André poderia ver uma luz no fim do túnel. Até essa possibilidade a gestão Carlos Grana nega aos moradores de Santo André porque não tem aptidão à empreitada dentro dos próprios limites do mandato, quanto mais em forma de legados aos sucessores.  


 


O estrangulamento orçamentário de Santo André não é um obstáculo sobressalente às dificuldades de conduzir um Município de tamanha importância regional e nacional. O peso se espalha aos demais  municípios em diferentes graus mas sempre acossados pelo descompasso de redução histórica de receitas tributárias e avanços colossais de demandas sociais. 


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